A expressão ‘amigo da onça’ vem duma anedota, foi estampada em caricatura e
significa: alguém que se mostra amigo e ao mesmo tempo é uma pessoa em quem não
se pode confiar, pois é falso, que trai as amizades, hipócrita e infiel!..
A anedota: dois caçadores conversavam, num acampamento, sobre hipóteses da
vida da caça. Diz um: o que é que farias, se, na selva, fosses surpreendido por
uma onça… Diz o outro: Dava-lhe um tiro!.. Ripostou o outro: e se não tivesses
arma de fogo? Respondeu: usava uma faca!... E, senão tivesses faca? …Usava um
pedaço de madeira para me defender… E se não tivesses esse pedaço de madeira...
Fugia para cima duma árvore. E, se paralisado com o medo, não conseguisses
fugir… Já irritado o que ia respondendo, disse: mas tu és meu amigo ou amigo da
onça?
A personagem ‘amigo da onça’ foi criada por um cartoonista brasileiro, na
década de quarenta do século passado, em que procurava satirizar e desmascarar
situações mais ou menos embaraçosas com os seus interlocutores.
Vem esta conversa a propósito das posições de algumas figuras da nossa vida – públicas ou mesmo privada – em que fazem essa figura de ‘amigos da onça’, desses em que tê-los por amigos não será preciso ter inimigos…
Eis breves exemplos de ‘amigos da onça’ que nos assediam, invadem e andam
por aí:
- Quando vemos pessoas trocarem de posição política para ser perfilarem ao
lado dos vencedores, no futuro;
- Quando observamos pessoas que ora têm uma posição social, ora se
pretendem colocar onde possam ganhar favores e protagonismo em breve;
- Quando, em grupos, associações e coletividades (de vária índole e
natureza) vemos posições sem coluna nem verdade;
- Quando percebemos em pessoas palavras que soam a oco, mas que cativam facilmente
os incautos;
- Quando vemos oportunistas a adularem os superiores, tentando com isso
ganhar protagonismo sem mérito nem preparação adequada;
- Quando na hora de tomar posição se fica só…embora tenha sido prometida
colaboração;
- Quando se partilha com alguém algo de sensível e esse tal difunde o que
nós dissemos em segredo ou como desabafo em confiança;
- Quando vemos pessoas que pouco ou nada fazem, mas que aparecem como
executores de algo em que não têm mérito nem preparação mínima;
- Quando se faz desgastar pela insistência naquilo que só vence pela
distração dos outros… sobretudo em contexto de natureza ética/moral;
- Quando se pretende chegar a postos de poder, mas se é fraco para ser
mandado…
Sem pretendermos enumerar todas as situações de ‘amigos da onça’ podemos ver
que no nosso trato social temos imensas situações de alçapão, onde as relações
humanas podem perigar e as palavras nem sempre correspondem às atitudes…
Não deixa de ser revelador desta sociedade de ‘amigos da onça’ que a
palavra mais votada para ser a ‘palavra do ano’, em 2014, tenha sido a
corrupção… Por aqui se pode evidenciar que muito do que nos acontece possa ser
devido aos tais ‘amigos da onça’…
Quem pode assegurar que não tem ou pode não ser considerado ‘amigo da
onça’? Por isso, saibamos ser sinceros, leais e verdadeiros para connosco
mesmos e uns para com os outros.
António
Sílvio Couto
Boa noite.
ResponderEliminarNão é meu hábito publicar comentários, uma vez que prefiro fazê-los diretamente aos autores.
No caso do presente texto, não posso deixar de mostrar o quanto senti a presença de bastantes "amigos da onça" na minha vida.
Se é certo que reconheço também bastantes amigos sinceros e profundos, não posso deixar de reconhecer alguns, infelizmente não tão poucos como gostaria, desses "amigos da onça"!
O meu maior receio neste campo é poder, também eu, ser ou já ter sido um "amigo da onça" de alguém, sem me ter apercebido dessa atitude!