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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

8 euros à hora…limpos!


Na recente troca de palavras entre os responsáveis dos médicos e a tutela ouviu-se, por parte do bastonário da Ordem, esta frase: como podem os médicos sentir incentivo ao trabalho se lhes querem pagar oito euros à hora… limpos! Ao que o ministro ripostou que o Estado não paga aos seus funcionários segundo aquele quadro de remuneração…

Se atendermos ao coeficiente do ‘ordenado mínimo’ e dentro das trinta e cinco horas semanais, cada trabalhador que receba por este parâmetro receberá cerca de três euros e meio por cada hora de trabalho… Dentro deste (possível) cálculo apresentado pela classe médica, cada hora de trabalho neste setor teria o dobro da remuneração de salário do ‘ordenado mínimo’!

Quando vemos certas questões a serem discutidas na base do económico como que ficamos confundidos, pois há profissões que são muito mais do que fontes de rendimento e cuja função social ultrapassa a mera troca economicista. Talvez seja utópico da minha parte ver as coisas por esta perspetiva, mas a atividade médica vejo-a mais como vocação/missão do que como regalia social ou preponderância sobre os outros… mais fragilizados.

Que me desculpem os médicos/as que possam ter paciência para ler isto que estou a (tentar) dizer, mas vejo nos médicos/as, alguém com uma certa capacidade de altruísmo, que não se regula (só) por fatores de produção nem é aquilatado/a pelo pagamento dos seus atos profissionais… É claro que não sou inocente e já paguei bem caro algumas consultas – com ou sem recibo! – e fico um tanto confundido com aquelas palavras do bastonário… Será que os tempos mudaram tanto assim para que tenhamos de escutar estas observações de quem cuida da nossa saúde?

= Quem cuida ou deve cuidar da saúde?

Recorrendo novamente a expressões que foram ouvidas por estes dias a propósito da saúde, houve quem tenha dito que antes do um ‘serviço nacional de saúde’ precisamos de um ‘sistema nacional de saúde’… Embora as siglas sejam as mesmas (SNS) o significado é muito diferente, pois o ‘serviço’ atende sobretudo nos espaços públicos (hospitais, centros, etc.), enquanto o ‘sistema’ poderia abranger também os privados que fazem atos de saúde e em que os utentes pagam duas vezes, para o ‘serviço’ público e para os cuidados privados!

Talvez aqui possa estar uma (possível) solução para tantos pruridos político/ideológicos das questões de saúde, dando liberdade de ser atendido onde se quer e se pode e não vivendo sob um regime de ditadura de todos a monte no ‘serviço nacional de saúde’ e uns tantos privilegiados, tendo assistência e cuidados diferenciados… mais caros!

Como diz o povo e com razão: ‘com a saúde não se brinca’. Ora, alguns senhores ligados a este setor da saúde e outros que influenciam esta área da atividade têm vivido como se fossem donos da nossa saúde, gerando, sugerindo e gerindo questões, projetos e problemas que só se descobre depois que tiveram algum fator de manipulação. É precisa mais verdade no trato com tudo aquilo que tem relação com a saúde, pois duma população saudável se podem colher frutos para o futuro… enquanto da doença todos saímos a perder de imediato… e a longo prazo.

Agora que as notícias nos falam tanto de saúde – ou melhor dizendo, nos cuidados para que da doença venha a recuperação da saúde – é urgente por o dedo na ferida, por forma a que seja bem tratado este vetor fundamental da vida humana, sem descuidar as diversas sinergias em que a pessoa humana está envolvida. As condições de natureza espiritual não podem ser desatendidas, pois, em muitos casos a fé dos pacientes e a confiança nos e dos agentes de saúde, podem ajudar a fazer milagres, no sentido lato e também estrito do termo. Com efeito, há vertentes da nossa condição humana que são muito mais tocadas por uma boa conversa/diálogo do que com o receituário químico/medicamentoso…

E os tais oito euros à hora… líquidos podem ser multiplicados em bênção e resgate de vidas. Oxalá, o sistema de saúde possa vencer em arte e engenho o que pode faltar às condições humana e técnica… atuais!

 

António Sílvio Couto

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