Na
recente troca de palavras entre os responsáveis dos médicos e a tutela
ouviu-se, por parte do bastonário da Ordem, esta frase: como podem os médicos
sentir incentivo ao trabalho se lhes querem pagar oito euros à hora… limpos! Ao
que o ministro ripostou que o Estado não paga aos seus funcionários segundo
aquele quadro de remuneração…
Se
atendermos ao coeficiente do ‘ordenado mínimo’ e dentro das trinta e cinco
horas semanais, cada trabalhador que receba por este parâmetro receberá cerca
de três euros e meio por cada hora de trabalho… Dentro deste (possível) cálculo
apresentado pela classe médica, cada hora de trabalho neste setor teria o dobro
da remuneração de salário do ‘ordenado mínimo’!
Quando
vemos certas questões a serem discutidas na base do económico como que ficamos
confundidos, pois há profissões que são muito mais do que fontes de rendimento
e cuja função social ultrapassa a mera troca economicista. Talvez seja utópico
da minha parte ver as coisas por esta perspetiva, mas a atividade médica vejo-a
mais como vocação/missão do que como regalia social ou preponderância sobre os
outros… mais fragilizados.
Que me
desculpem os médicos/as que possam ter paciência para ler isto que estou a
(tentar) dizer, mas vejo nos médicos/as, alguém com uma certa capacidade de
altruísmo, que não se regula (só) por fatores de produção nem é aquilatado/a
pelo pagamento dos seus atos profissionais… É claro que não sou inocente e já
paguei bem caro algumas consultas – com ou sem recibo! – e fico um tanto
confundido com aquelas palavras do bastonário… Será que os tempos mudaram tanto
assim para que tenhamos de escutar estas observações de quem cuida da nossa
saúde?
= Quem cuida ou deve cuidar da
saúde?
Recorrendo
novamente a expressões que foram ouvidas por estes dias a propósito da saúde,
houve quem tenha dito que antes do um ‘serviço nacional de saúde’ precisamos de
um ‘sistema nacional de saúde’… Embora as siglas sejam as mesmas (SNS) o
significado é muito diferente, pois o ‘serviço’ atende sobretudo nos espaços
públicos (hospitais, centros, etc.), enquanto o ‘sistema’ poderia abranger também
os privados que fazem atos de saúde e em que os utentes pagam duas vezes, para
o ‘serviço’ público e para os cuidados privados!
Talvez
aqui possa estar uma (possível) solução para tantos pruridos
político/ideológicos das questões de saúde, dando liberdade de ser atendido
onde se quer e se pode e não vivendo sob um regime de ditadura de todos a monte
no ‘serviço nacional de saúde’ e uns tantos privilegiados, tendo assistência e
cuidados diferenciados… mais caros!
Como diz
o povo e com razão: ‘com a saúde não se brinca’. Ora, alguns senhores ligados a
este setor da saúde e outros que influenciam esta área da atividade têm vivido
como se fossem donos da nossa saúde, gerando, sugerindo e gerindo questões,
projetos e problemas que só se descobre depois que tiveram algum fator de
manipulação. É precisa mais verdade no trato com tudo aquilo que tem relação
com a saúde, pois duma população saudável se podem colher frutos para o futuro…
enquanto da doença todos saímos a perder de imediato… e a longo prazo.
Agora
que as notícias nos falam tanto de saúde – ou melhor dizendo, nos cuidados para
que da doença venha a recuperação da saúde – é urgente por o dedo na ferida,
por forma a que seja bem tratado este vetor fundamental da vida humana, sem
descuidar as diversas sinergias em que a pessoa humana está envolvida. As
condições de natureza espiritual não podem ser desatendidas, pois, em muitos
casos a fé dos pacientes e a confiança nos e dos agentes de saúde, podem ajudar
a fazer milagres, no sentido lato e também estrito do termo. Com efeito, há
vertentes da nossa condição humana que são muito mais tocadas por uma boa
conversa/diálogo do que com o receituário químico/medicamentoso…
E os
tais oito euros à hora… líquidos podem ser multiplicados em bênção e resgate de
vidas. Oxalá, o sistema de saúde possa vencer em arte e engenho o que pode
faltar às condições humana e técnica… atuais!
António Sílvio Couto
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