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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Fait-divers da regionalização, agora!

Numa conjugação de intervenções – ou será de intenções, de projetos ou de missões… de ideologia? – dois políticos/partidários fizeram ressurgir, por estes dias, o tema da regionalização. Têm em comum bastante experiência autárquica – um de saída, outro que já saiu – em metrópoles nacionais; embora de correntes partidárias diferentes têm aparecido como próximos… senão na forma ao menos nalgum conteúdo; perfilam-se como arietes no xadrez público em campos complementares… e/ou concorrenciais…agora ou no futuro próximo.

Não se sabe – clara e distintamente – se esta proposta de incluir na discussão política em breve a regionalização faz parte de um plano, se foi concertado nalguma loja ou se está a ser preparado um novo programa de distração – o tal ‘fait-divers’ – das coisas essenciais com aspetos laterais… um tanto fraturantes e/ou potenciais geradores de lutas de interesses!

= Ressuscitar fantasmas ou alimentar lóbis?

Em novembro de 1998, o eleitorado (que é muito menos do que o venerável conceito de povo) português foi chamado a pronunciar-se sobre um certo modelo de regionalização. Menos de metade dos eleitores foram votar, tendo sido considerado não vinculativo o resultado, desde este item de credibilidade e dois terços dos votantes opuseram-se àquela proposta referendada… Só o Alentejo, uma parte do algarve e outra na zona do Porto aprovaram esta (pretensa) reorganização do nosso mapa sócio/geográfico. 

No modelo apresentado há pouco mais de dezassete anos tentaram incluir no mesmo espaço figuras e figurões (políticas e económicas) diametralmente opostas – mesmo que da mesma área político/partidária – envolvendo naquela luta de protagonismo egos muitos sensíveis à disputa de lugares reinantes e de estratégias obedecidas…

Naquele tempo pareceu que se estava a arranjar novo emprego para rejeitados da cena nacional, tentando impingi-los ao âmbito mais restrito de parcelas regionalistas… Nessa época foi um tanto subtil misturar a migração de certos candidatos como que empurrados na hora de elaborar as listas a deputados… Assim o processo de regionalização do século XX soava a ficção mais ou menos elaborada à socapa dos eleitores… E a resposta foi dada com uma significativa abstenção e a rejeição dos votantes do modelo então levado a sufrágio: morreu e prescreveu a pena!

= Dividir para reinar ou reinar na divisão?

Vindo de quem vem, este novo processo de regionalização sofre duma doença congénita: os proponentes querem vencer, dividindo e, através dessa divisão, poderão ir reinando… nos seus partidos e no país! De fato, Lisboa e Porto são ardilosos nas considerações de que o resto é paisagem mais ou menos tolerada, criando a sensação de que a massa popular está silenciosa e acomodada.

Depois do ferrete da austeridade com que tivemos de viver nos três últimos anos querem abrir a folga – se existe ou se é pretendida – para o esbanjamento e na imitação doutros países maiores e melhor organizados administrativamente.

Agora, como há cerca de vinte anos, não adianta querer gerar confusões e promover populismos, pois o povo é que vai pagar a fatura das pretensões de certos iluminados… mas tão pouco iluminadores. E nem sequer a aglutinação de freguesias resolveu nada de essencial nos gastos, pois são os municípios que estão em exagero e não as circunscrições mais pequenas… Os concelhos mais recentemente criados não são dos mais endividados? Os resultados de fazer surgir mais estruturas intermédias não são focos para mais caciquismo e corrupção? Os escolhidos para levar a cabo tal inovação regionalista seriam os mais credíveis ou figurantes de segunda linha no espetro político?

Há erros que não podem servir para entreter, mas devem ser corrigidos, evitando cometer más opções e deficientes decisões pouco democráticas… embora sufragadas.

Regionalização, não, obrigado!     
     

António Sílvio Couto

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