Não se sabe – clara e distintamente – se esta proposta de incluir na
discussão política em breve a regionalização faz parte de um plano, se foi
concertado nalguma loja ou se está a ser preparado um novo programa de
distração – o tal ‘fait-divers’ – das coisas essenciais com aspetos laterais… um
tanto fraturantes e/ou potenciais geradores de lutas de interesses!
= Ressuscitar
fantasmas ou alimentar lóbis?
Em novembro de 1998, o eleitorado (que é muito menos do que o venerável conceito
de povo) português foi chamado a pronunciar-se sobre um certo modelo de
regionalização. Menos de metade dos eleitores foram votar, tendo sido
considerado não vinculativo o resultado, desde este item de credibilidade e
dois terços dos votantes opuseram-se àquela proposta referendada… Só o
Alentejo, uma parte do algarve e outra na zona do Porto aprovaram esta (pretensa)
reorganização do nosso mapa sócio/geográfico.
No modelo apresentado há pouco mais de dezassete anos tentaram incluir no
mesmo espaço figuras e figurões (políticas e económicas) diametralmente opostas
– mesmo que da mesma área político/partidária – envolvendo naquela luta de
protagonismo egos muitos sensíveis à disputa de lugares reinantes e de estratégias
obedecidas…
Naquele tempo pareceu que se estava a arranjar novo emprego para rejeitados
da cena nacional, tentando impingi-los ao âmbito mais restrito de parcelas
regionalistas… Nessa época foi um tanto subtil misturar a migração de certos
candidatos como que empurrados na hora de elaborar as listas a deputados… Assim
o processo de regionalização do século XX soava a ficção mais ou menos
elaborada à socapa dos eleitores… E a resposta foi dada com uma significativa
abstenção e a rejeição dos votantes do modelo então levado a sufrágio: morreu e
prescreveu a pena!
= Dividir para reinar
ou reinar na divisão?
Vindo de quem vem, este novo processo de regionalização sofre duma doença
congénita: os proponentes querem vencer, dividindo e, através dessa divisão,
poderão ir reinando… nos seus partidos e no país! De fato, Lisboa e Porto são
ardilosos nas considerações de que o resto é paisagem mais ou menos tolerada,
criando a sensação de que a massa popular está silenciosa e acomodada.
Depois do ferrete da austeridade com que tivemos de viver nos três últimos
anos querem abrir a folga – se existe ou se é pretendida – para o esbanjamento
e na imitação doutros países maiores e melhor organizados administrativamente.
Agora, como há cerca de vinte anos, não adianta querer gerar confusões e
promover populismos, pois o povo é que vai pagar a fatura das pretensões de
certos iluminados… mas tão pouco iluminadores. E nem sequer a aglutinação de
freguesias resolveu nada de essencial nos gastos, pois são os municípios que
estão em exagero e não as circunscrições mais pequenas… Os concelhos mais
recentemente criados não são dos mais endividados? Os resultados de fazer
surgir mais estruturas intermédias não são focos para mais caciquismo e
corrupção? Os escolhidos para levar a cabo tal inovação regionalista seriam os
mais credíveis ou figurantes de segunda linha no espetro político?
Há erros que não podem servir para entreter, mas devem ser corrigidos,
evitando cometer más opções e deficientes decisões pouco democráticas… embora
sufragadas.
Regionalização, não, obrigado!
António
Sílvio Couto
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