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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Por que excluem (normalmente) a Igreja?

 

Na televisão estatal há um programa – visto e revisto nos vários canais de difusão – intitulado ‘portugueses pelo mundo’, numa apresentação diversificada de lugares e de temas, que conta com quase uma dezena de temporadas. Verdadeiramente é daqueles programas que confirma que em qualquer parte do mundo se pode encontrar um português, com ligações mesmo que ténues à mãe-pátria e onde surge irrepreensivelmente a palavra ‘saudade’ e quanto isso significa fora das fronteiras do território (continente e ilhas) nacional.

1. Ocasionalmente tenho visto e percorrido os lugares mostrados e as intervenções dos mais diversos intervenientes. Aprende-se muito e viaja-se com aqueles que saíram do chão-pátrio. As intervenções andam quase sempre nas áreas do social, no campo profissional, em espaços de diversão ou de desporto, com referências às comidas locais (quase sempre em confronto com a de cada um dos entrevistados), a organização socioeconómica dos países de acolhimento, o mundo do trabalho, os aspetos culturais de lá em comparação com os de cá… Os lugares visitados em cada cidade ou região mostram-nos a riqueza humana e civilizacional dos povos, das nações e das diversas linguagens.

2. Sem pretender ser menos correto – e muito menos desonesto na apreciação – na leitura de tais programas, há uma dimensão que quase nunca aparece e em muitas circunstâncias ela é o vínculo unitivo de tantos dos nossos emigrantes: o papel e lugar da Igreja católica entre esses portugueses, pois os ditos ‘centros culturais’ deixam muito a desejar quanto às atividades e processos de unificação dos portugueses no estrangeiro, promovidos e realizados pelas missões católicas. Vi-o e pude testemunhá-lo nalgumas das missões na Alemanha e na Suíça, nos Estados Unidos da América e mesmo em Itália. Para muitos portugueses a missa de domingo ainda é o ponto de referência aos seus conterrâneos e daí se gera partilha humana e emocional de uns para com os outros e todos para com o nosso país.

3. Quando vemos a polarização dos portugueses no estrangeiro à volta da seleção nacional de futebol masculino fica-me um amargo de coração, pois as procissões e os momentos de devoção a Nossa Senhora de Fátima fazem mais pela identidade do país lá fora do que a bandeira nacional ou o hino. Quando olhamos para esses programas televisivos e vemos como que ser varrida da referência, que não da memória, a alusão à fé católica somos levados a suspeitar que há uma pretensão subterrânea de confundir o papel de embrulho com o presente embrulhado. Sim, embora pouca esclarecida na maioria dos casos, a fé desses portugueses espalhados pelo mundo não serve os intentos de tantos catequizadores anticristãos como pretendem insinuar-se…de forma repetida e contumaz.

4. Efetivamente há um fogo que crepita sob as brasas do afã de trabalho de tantos desses emigrantes. Eles, na sua maioria, saíram do país para conquistar melhores condições de vida económica para si e para os seus, mas a sua crença mais profunda, embora um tanto suspensa, não perdeu a energia de fundo. O problema é que se nota um certo discurso anódino de muitos dos que apresentam os valores e critérios dos nossos emigrantes, fazendo crer a quem veja tais programas televisivos que tudo se reduz à festança e à beberragem…sem Deus nem santa Maria!

5. Este panorama quanto aos portugueses espalhados pelo mundo tem de nos fazer rever a nossa atitude para com os imigrantes – já são de um milhão – que têm chegado ao nosso país. Da mesma forma como quisemos que os nossos portugueses tivessem assistência religiosa através de padres enviados para essas missões, assim temos de saber estar atentos aos que chegam para que lhes demos idênticas condições àquelas que foram dadas aos nossos compatriotas. Numa igreja no norte da Alemanha havia dez línguas diferentes que se serviam do mesmo espaço para celebrarem a sua fé. Estaremos capazes de fazer o mesmo nas nossas igrejas, abrindo-as aos imigrantes nas suas línguas? Demos aos outros o que outros nos deram a nós…



António Sílvio Couto

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