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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Identidade ou identidades – família ou famílias

 


Cerca de seis meses decorridos um novo livro sobre questões idênticas, embora sob perspetivas muito diversas. Em março passado saiu – ‘Identidade e família’; por estes dias foi publicado – ‘Identidades e famílias’. O primeiro tinha por subtítulo – entre a consistência da tradição e as exigências da modernidade. O segundo livro apresenta como antetítulo – reflexões sobre a liberdade… e em pós-título – uma visão múltipla do futuro do país. Nitidamente o segundo livro sobre ‘identidades e famílias’ é uma reação sobre o primeiro, mesmo que as suas coordenadoras rotulem o livro saído em março de reacionário, elas escreveram em reação algo assanha e verrinosa.
Façamos uma resenha dos dois livros, claramente em campos ideológicos diferentes e, por vezes, antagónicos.

1. O livro «Identidade e família – entre a consistência da tradição e as exigências da modernidade», é uma obra coordenada pelos quatro fundadores do ‘Movimento acção ética’ – António Bagão Félix, Pedro Afonso, Paulo Otero e Victor Gil. Este livro, editado pela «Oficina do Livro», reúne vinte e dois textos de vários autores (22), tais como (pela ordem alfabética que aparece na capa): Fernando Ventura, Gonçalo Portacarrero de Almada, Guilherme d’Oliveira Martins, Isabel Almeida e Brito, Isabel Galriça Neto, Jaime Nogueira Pinto, João César das Neves, João Duarte Bleck, José Carlos Seabra Pereira, José Ribeiro e Castro, Manuel Clemente, Manuel Monteiro, Manuela Ramalho Eanes, Margarida Gordo, Nuno Brás da Silva Martins, Paulo Otero, Pedro Afonso, Pedro Vaz Patto, Pureza Mello, Raquel Brízida Castro, Ruiz Diniz e Vasco Pinto de Magalhães.

Neste livro com duzentas e oito páginas fala-se da importância da família, como um pilar central da vida em sociedade, considerando-a “natural, universal e intemporal”. Refere-se ainda a cultura de morte, onde se enumeram os adversários da família que, de maneira subtil ou explícita, contribuem para sua destruição. Por último, apresenta-se a ideologia de género, considerando-a impositora de um novo modelo de pensamento único, ideologia essa que compromete o desenvolvimento humano fundado em valores, liberdade e autonomia.

2. Por seu turno, no livro «Reflexões Sobre a Liberdade – Identidades e Famílias”: uma visão múltipla do futuro do país». Editado também pela «Oficina do Livro», reúnem-se vinte textos, dos seguintes autores: André Coelho Lima, Carla Castro, Catarina Furtado, Catarina Marques Rodrigues, Daniel Oliveira, Fabíola Cardoso, Fernanda Câncio e Maria Fernanda Câncio, Francisca Van Dunem, Hilda de Paulo, Henrique França, Isabel Moreira, Joana Mortágua, João Maria Jonet, Leonor Caldeira, Maria Castello Branco, Maria Leonor Beleza, Pedro Strecht, Susana Peralta, Teresa Leal Coelho e Teresa Violante.

Numa espécie de autoapreciação, as coordenadoras do livro dizem que podem todos raramente estar de acordo no campo político, mas têm como objetivo comum abrir uma janela para a multiplicidade de pontos de vista, opções individuais e caminhos de vida, o que caracteriza a sociedade diversa e moderna que Portugal quer ser. É referido ainda que para os autores e autoras, é um imperativo de justiça que a sociedade seja construída com base no respeito e proteção dos direitos e escolhas de todas as pessoas, incluindo as que fazem parte de grupos historicamente discriminados...


3. Depois da tese veio a antítese e procura-se agora uma síntese. Antes de tudo é significativo que se usem formas diferentes de tratar o problema: os de influência judaico-cristã preferem o singular – identidade e família; enquanto os de linguagem menos vinculada (embora alguns se digam dessa área) ao teor cristão usam a fórmula no plural – identidades e famílias. Por outro lado, agora como anteriormente nota-se uma pretensão mais democrática (à sua maneira e vivência) das forças que se reclamam capciosamente da liberdade por contraste com a tradição. Não deixa de ser intrigante que haja quem pretenda influenciar o futuro como se fosse a pedra-de-toque exclusiva da modernidade... Visões e perspetivas, respeitem-se!


António Sílvio Couto

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