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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

De mão estendida – até quando?

 


Há dias um responsável de uma ‘Caritas’ diocesana referia: «somos, orgulhosamente uma instituição de mãos estendidas. Estendidas para pedir ajuda em nome dos que mais precisam; estendidas para partilhar o que somos e temos com os mais desfavorecidos das nossas comunidades; estendidas para acolher e cuidar de todos os que depositam na nossa ajuda a esperança de dias mais risonhos; estendidas para prestar contas com transparência e construir caminhos em rede e comunidade».

1. De facto, esta entidade da Igreja católica, que é a ‘Caritas’, precisa da ajuda de todos, ainda mais quando as notícias nos avisam que o risco de pobreza é cinco vezes maior entre os desempregados. Segundo um estudo recentemente publicado o desemprego, a doença e o divórcio são fatores que contribuem para a entrada numa situação de pobreza ou que impedem que se saia dessa condição. Seguindo ainda os dados desse mesmo estudo foram identificados "quatro perfis de pobreza em Portugal": os reformados (27,5%), os precários (26,6%), os desempregados (13%) e os trabalhadores (32,9%)".

2. Quando vemos os vendedores de sonhos em campanha eleitoral sentimos que alguém não vive nem conhece o país real, antes vê e/ou lhes mostram o que pode deixar-nos a triste sensação de mentira contumaz de tantos/as dos políticos profissionais… Como se pode entender que muitos políticos encham a boca com referências aos pobres, quando não fazem nada por dignificá-los, antes os exploram de forma vergonhosa.

3. Já o referimos diversas vezes: os pobres alimentam muita gente em Portugal, pois, se retirarem os pobres da conversa dos politicos, dos sindicalistas e de outros lutadores afins pouco mais ficará do que discursos vazios e, na maior parte dos casos, sem nexo. Outros, fora do circuito do faz-de-conta em que se tornou a nossa vida coletiva, vivem também à custa dos pobres, seja qual for a instância ou a etapa de dependência. Quantas instituições – até no âmbito cristão – se dizem defensoras dos pobres, mas continuam a tê-los presos pela boca. Quantos arautos da igualdade de oportunidades, mas que não promovem convenientemente aqueles/as que lhes dão visibilidade nem mesmo meios de sobrevivência em profissão.

4. Como é possível que quase cinquenta anos depois da ‘revolução de abril’ ainda se fomente, se cultive ou se difunda uma visão acentuada entre ricos e pobres, numa diatribe quase-marxista de luta de classes à semelhança das questões de meados do século passado…dos blocos beligerantes na ‘guerra fria’. Como é triste e lamentável que haja ainda pessoas que continuam a considerar os outros como subalternos e quase objetos e não sendo aceites como pessoas com direitos e deveres iguais…

5. Atendendo a que estamos na designada ‘semana Caritas’ (entre 25 de fevereiro e 3 de março), retomamos as palavras citadas a abrir este texto sobre o significado das mãos estendidas:

- para pedir ajuda em nome dos que mais precisam – onde todos dão o seu contributo poderemos fazer mais e melhor;

- para partilhar o que somos e temos com os mais desfavorecidos das nossas comunidades – as mãos abertas geram partilha, enquanto os punhos cerrados podem fomentam conflitos, tensão e mal estar;

- para acolher e cuidar de todos os que depositam na nossa ajuda a esperança de dias mais risonhos – só quem tem as mãos para dar pode receber gratuita e gratificadamente;

- para prestar contas com transparência e construir caminhos em rede e comunidade – a circulação de quem dá deve chegar a quem se dirige, sem nunca se desviar em nada da intenção essencial.

6. Todos somos precisos, embora ninguém seja indispensável. Em matéria de caridade devemos rivalizar uns com os outros na consideração, no empenho e na simplicidade…sempre.



António Sílvio Couto

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