Desde o
último fim-de-semana de maio e até finais de setembro temos diversos festivais
de música, espalhados por várias regiões – alternando ao sul e ao norte do
Tejo, em volta de Lisboa e nos arredores do Porto, mais ou menos publicitados,
com preços, normalmente elevados, quase sempre cheios de gente bem (dis)posta e
com arremedos de bem-falantes e melhores pagantes...
Por
outro lado, dizem que estamos – é verdade, embora só para uns quantos! – em crise
e sobre ela, com ela e por ela se fazem manifestações – usando talvez
desempregados ou funcionários da estrutura de protesto! – tanto sindicais como
profissionais, usando a contestação como arma de arremesso, com recurso até a impropérios e
gestos ofensivos da integridade física e moral dos contendores... sobretudo se
forem autoridade.
Perante
a disparidade de iniciativas fica-me a sensação que algo não está totalmente contado
e parece que vivemos num país com vários ritmos de promoção, não se sabendo
onde se coloca o nosso interlocutor, seja ele direto e presencial, seja à
distância e virtual.
= Num país de festas e romarias,
festivais e foguetório
Apesar
de apelidarem este tempo de ‘crise’ continuamos a ter as nossas festas com mais
ou menos solenidade – tanto social como religiosa – transbordando de tiques de
vaidade e, nalguns casos, com bairrismos obsoletos. Ninguém quer dar parte de
fraco e espreme-se o povo até que ele não possa dar mais... É claro que se
verifica uma certa contenção nos gastos, pois o que há anos era feito por mil
agora foi reduzido para quinhentos... e tudo rola com igual ‘qualidade’ de
serviço e de apreço. Será que antes não se estaria a exagerar nos ganhos ou
será que se faziam os preços tendo em conta o bolso e/ou a vaidade dos
promotores?
- Nota-se
uma certa viragem nas entidades festejadas: se antes eram os santos e os
recursos eram de índole cultural mais ou menos cristã, ao menos na casca ou no
verniz, agora os festejados são mais de natureza transversal, numa mística
hedonista e com laivos de neo-paganismo, senão nas ideias pelo menos na
prática.
- Os
ritos desta nova vaga de diversão ultrapassam as meras fronteiras do país e
fazem-se espetáculos onde música, letra, cor e envolvência ecológica
desencadeiam os (mais) profundos instintos em ordem a criar-se um ambiente de
descompressão psicológica...
Não é
por acaso que álcool, drogas e sexo andam conexos em muitas destas
manifestações ‘culturais’, pois na medida em que se libertam (alguns) dos
medos, melhor se conseguirá atingir a naturalidade das pessoas. Água, sol, pó e
luz – note-se como que estes arquétipos heraclianos! – quase se conjugam nesta
refundação de tantos dos nossos contemporâneos... ávidos de sensações mais ou
menos epicuristas.
-
Aliados a estes momentos estão, normalmente, outros ingredientes de comida
(muita) e de bebida (bastante) para que possa o povo divertir-se e conviver.
Criam-se, deste modo, variados condimentos de tonalidade interessante, mas que,
por vezes, escondem outras lacunas de bem-estar mal resolvido, dando-se oportunidade
para compensações que têm de ser bem geridas... pessoal e socialmente.
Como
povo em festa temos de saber estar sem ofender os que mais precisam e não têm o
essencial para a sua sobrevivência no dia a dia... A crise dá fome e esta cria
revolta!
António Sílvio
Couto
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