Com o
prolongamento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, as escolas passarão
a ter ‘obrigatoriamente’ alunos com uma espécie de mínimo etário com dezoito
anos. Deste modo, segundo a opinião do Conselho nacional de educação (CNE),
deverá ser ajustada também a idade legal de acesso ao trabalho, que era,
anteriormente, de dezasseis anos, passando a ter aquela idade (18) como
referência.
Numa ‘sapiente
leitura’ deste alargamento de tempo em escolaridade, o CNE alerta para a
necessidade de que haja condições em ordem a receber um grupo ‘mais
heterogéneo’ de estudantes nas escolas – o leque etário será de mais de dez
anos de diferença! – podendo surgir, no entendimento deste organismo oficial,
um aumento do insucesso escolar e mesmo de indisciplina e absentismo.
Que seja
necessário dar mais tempo aos jovens para crescerem na sua escolarização não
temos dúvida, mas fazer depender deste tempo de andar na escola – podendo ir
até aos dezoito anos – a impossibilidade de entrar no mundo do trabalho
parece-nos, no mínimo ridículo ou mesmo abusivo.
- Quem
irá fazer adquirir hábitos de trabalho – segundo as suas capacidades – a pessoas
habituadas à preguiça, senão militante pelo menos tolerada?
- Quem
irá fazer vergar ao trabalho, que custa e exige sacrifício, quem terá podido
viver na letargia de uns pais complacentes com o deixar andar sem
responsabilidades no custo da vida ou de um Estado conivente com o viver do
trabalho alheio?
- Quem
fará gostar de ganhar a vida participando nas conquistas, quando poderá exigir
que lhe sustentem os vícios – legais, ilícitos ou até criminosos – com mezinhas
de estudar sem gosto, arrastando-se pelos recreios das escolas ou gastando os
fundilhos em cafés e salas de diversão nas imediações dos estabelecimentos
escolares?
***
Dá a
impressão que esta decisão de estender a escolarização obrigatória até ao 12.º
ano com o impedimento de poder trabalhar quem o desejar dentro desse quadro
etário não teve em conta o país real em que vivemos, mas só lê as coisas do esconso
do seu gabinete. Talvez se pretenda fazer baixar o desemprego entre os mais
novos ‘ocupando-os’ com a escola e, assim, daremos uma boa impressão...
maquilhando a realidade e iludindo os incautos.
Se
formos ver alguns dos grandes empresários/patrões deste país, pelo menos em
certas épocas da nossa história e em regiões menos favorecidas, perceberemos
que foram, sobretudo, homens (menos casos de mulheres) que começaram a
trabalhar muito cedo – título ‘self made man’ – e foram gerando pequenas
riquezas à custa de sangue, suor e lágrimas, que investiram em favor de
outros... dando-lhes sustento e salário.
Muitos
dos bem-falantes e escolarizados de certas cidades e capitais de interesses não
passaram de oportunistas cujo sucesso se antepôs ao trabalho não pelo mérito
mas pelo favorecimento partidário, lóbi autárquico ou gabinete corporativo.
Não
deixa de ser significativo que poucos ou nenhuns senhores do sindicalismo
tenham feito alguma empresa – mínima ou de média capacidade – para darem o pão
a ganhar a outros. Pelo contrário, muitas empresas feitas com sacrifício foram
vilipendiadas por reivindicações, por exigências e por tropelias da mais
diversa índole... deixando milhares no desemprego, à fome e rezingando contra
quem os terá iludido... com promessas vãs e sonhos inúteis.
Parece
ter chegado a hora de acordar de tantas mentiras! Parece que temos de abrir os
olhos sobre quem nos defende ou se defende! Parece que já não há dúvidas sobre
quem está interessado em fazer o país avançar sem ser sobre os calos alheios!
Somos um país digno ou pretendemos continuar a ser uma espécie de preguiçosos
em casa e trabalhadores só no estrangeiro?
António
Sílvio Couto
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