Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 24 de abril de 2012

Aborto repetido cresceu... em cinco anos


Segundo dados disponíveis da Direção geral de saúde e do Instituto nacional de estatística, desde a entrada da nova lei do aborto, de 2007, com cobertura (ou discriminalização) até às dez semanas, podemos encontrar que:

- Desde 2005, terá havido – nos números de uma associação pró-vida – 80 mil ‘interrupções da gravidez’ em espaços legalizados, sendo 13.500 repetições;

- No entanto, outros números ‘oficiais’ apontam para outros dados: em 2008 verificaram-se 15 mil casos; em 2009 são reportados 34 mil situações; em 2010 houve 54 mil ‘interrupções’, sendo 4651 repetições, das quais 978 são dois ou mais abortos.

- Embora se tenha verificado – ou assim se diz, mas porque não há dados oficiais credíveis, tudo poderá não passar de conjetura! – uma diminuição do (dito) aborto clandestinado, estes números teem de nos fazer refletir, bem como àqueles que tanto lutaram pela salvaguarda da vida e da (pretensa) saúde da mulher...

Se olharmos esta questão pelo lado económico, quanto pode custar uma (dita) ‘interrupção voluntária da gravidez’ de forma legal e num espaço legalizado? Segundo dados, que fomos recolhendo, pode custar, em média, mil euros cada ato... Agora é só fazer as contas sobre os gastos suportados – normalmente – pelo erário público, nestes anos, por esta (pretensa) descriminalização do aborto!

***
Tendo na devida conta estas informações podemos/devemos – sem qualquer intuito fundamentalista nem sequer acusatório – questionar quem defende tanto a vida e a sua qualidade, quem diz defender a mulher e a sua promoção, quem, de forma capciosa, se diz progressista (só) porque defende a morte... mesmo que com ‘qualidade’.

= O aborto não terá passado a ser uma espécie de controle da natalidade em vez de ser um processo de educação para a responsabilidade dos mais novos e, sobretudo, dos  mais velhos?

= Para onde caminha este país que mata mais do que defende os indefesos?

= Como poderemos ter uma segurança social sustentável se gastamos milhares de euros em espaços de não-vida em vez de incentivarmos a correta sexualidade e a sua sustentação?

= Mesmo sem decreto não estaremos já sob a ditadura do filho único, que muitas vezes, não passa de um problema intolerável?

= Com certos projetos de ‘família’ – sobretudo no (pretenso) aparelhamento de pessoas do mesmo género – não estaremos a engrossar ainda mais os números abortivos?


***


Pelo que conhecemos dalgumas situações, parece que, nesta questão do aborto, se tem falado em excesso a partir da perspetiva da mulher, relegando o homem para uma instância de somenos importância. Por isso, seria útil que fossem trazidos à luz da memória – com todos os confrontos psicológicos atinentes – os traumas de homens que foram usados – direta ou inconscientemente – em situações abortivas.

Conhecemos, pelo menos dois casos, já falecidos, em que a vida desses homens se tornou insuportável depois de as (ditas) namoradas terem abortados sem o seu consentimento. Quer num quer noutro dos casos, esses homens deixaram degradar a sua personalidade... até ao ponto da morte precoce.

Torna-se, por isso, urgente exorcizar uns tantos fantasmas feministas ou até de outros falsos defensores da mulher, quando não a escutam da referência à dor da perda e da mágoa... para consigo mesma e para sempre.

Afinal, abortar ainda é matar... mesmo que tenha sido discriminalizado!



António Sílvio Couto

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Portugal entre os mais alcoolizados... da Europa

Portugal é um dos dez países da Europa onde mais se bebe álcool: estamos em nono lugar entre trinta e quatro países europeus. A média anual ‘per capita’ de consumo entre os portugueses anda pelos treze litros e, tendo ainda em conta o nível de abstémios, que é bastante significativo, agrava-se mais o número de alcoolizados.
Atendendo a estes dados, recentemente publicitados, podemos ainda reconhecer que os adultos europeus consomem três bebidas alcoólicas por dia e que Portugal é dos poucos países da Europa a permitir a venda de bebidas alcoólicas a menores de dezoito anos.
Tendo em conta estes dados não ou menos credíveis ficamos a saber que, no contexto europeu, há mais de quarenta problemas de saúde relacionados com o consumo de álcool... normal ou em excesso.
- Quando vemos ser sugerida a diminuição da taxa de alcoolemia (de 0,5 para 0,2 gramas/litro) para conduzir entre os jovens, estaremos a ser sérios ou a adiar um problema social e de segurança rodoviária?
- Quando vemos certas campanhas de ‘jovem cool’, estaremos a enfrentar a questão ou a iludir-nos com medidas avulsas e quase inconsequentes?
- Quando se tenta promover a iniciativa de facultar táxis para que os jovens não conduzam embriagados, estaremos a dissuadir o consumo ou a promovê-lo de forma capciosa?
- Quando em festas e convívios – tradicionais ou importados – onde o álcool (nos vários derivados) é vendido ao desbarato, estaremos a combater ou a acicatar os mais novos a consumirem bebidas, cada vez mais cedo, e de forma concorrencial uns com os outros?
- Quando a promoção da bebedeira tem foro duma espécie de afirmação social, económica e sexual – veja-se a forma intencional como o sexo feminino, desde as idades mais primárias, tem vindo a entrar neste capítulo – como poderemos acreditar num futuro saudável?

***
É pena é que só nos lamentemos das consequências e não tentemos atalhar, mais afoita, crítica  e racionalmente, as causas desta alcoolização... mais ou menos generalizada.
Agora que se aproximam as ditas ‘festas académicas’ – com cortejos, desfiles e espetáculos – como podemos esperar que as ruas não se entulhem de restos de recipientes vazios de conteúdo bebido em excesso!
Ao ritmo de consumo de tantas e tão diversificadas bebidas – muito para além do razoável vinho! – as gerações vindouras poderão trazer-nos doenças (já) irradicadas, como a tuberculose, as hepatites e as cirroses e tudo o mais que o exagero nos servirá... a curto e médio prazos.
Talvez tenhamos de encontrar nas raízes mais profundas do nosso ser coletivo o eptíteto de país alcoolizado: não basta beber para esquecer nem bebericar para celebrar, mas precisamos de nos encontrar com a sabedoria do nosso conhecimento pessoal, familiar, social e religioso, fazendo a festa sem exageros nem falsos moralismos tanto em casa como na rua...

Sobriedade a quantos obrigas, já!

António Sílvio Couto

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Quatro agressões, em média, por dia nas escolas

No ano letivo de 2010/2011 houve 1121 agressões nas escolas portuguesas. Atendendo ao tempo de férias (intercalares e finais) e aos fins-de-semana em que não há atividades letivas, teremos um total de cerca de duzentos e setenta dias de aulas, ter-se-ão verificado, em média, diariamente, quatro agressões nas nossas escolas.
Segundo o ‘Observatório de segurança em meio escolar’, naquele número geral de agressões, são de salientar quase centena e meia de casos sobre professores... no ensino básico e secundário.

Se atendermos ainda aos dados do ano letivo anterior, com mais de três mil e trezentos casos, houve uma diminuição de ocorrências de agressão, cuja tipificação envolve ataques à integridade física, à honra e ao bom nome, bem como atos de vandalismo... 

= Escola retrata ou denuncia a família?

Quem tenha um mínimo de contato com as escolas pode verificar que o ambiente nem sempre é tão saudável como seria desejável. Mesmo sem com isso pretendermos diagnosticar algo de complexo, poderemos considerar que as escolas são como que a ponta do icebergue da sociedade onde os estudantes estão inseridos. Com efeito, às escolas chegam e dos locais de ensino irradiam muitas das preocupações sociais e económicas, éticas e morais, financeiras e profissionais... das famílias e das sociedades, dos grupos e das populações, tanto urbanas como rurais, atingindo os mais instruídos e os menos atentos às coisas do saber.

De fato, poderemos conhecer as famílias de onde procedem os alunos – no sentido etimológico do termo: ‘sem luz’ – se observarmos estes (pretensos) estudantes, tanto na fase de ensino pré-primário, como na etapa do ensino básico, passando pela do secundário e projetando-se no âmbito universitário. E nem sequer a democratização do ensino – tentativa criada mas não ainda conseguida com a revolução de Abril – obnubilou as realidades mais profundas... com muita dificuldade se atenuou e, quase nunca se escondem, as várias fraturas e as instâncias mais variadas dos (nossos) alunos e mesmo professores.

Só com uma correta articulação entre escola e família e vice-versa se poderá criar uma salutar harmonia de intervenientes em todo o processo educativo, assumindo cada qual a sua função sem desculpas nem acusações, tornando-se como que as duas mãos de uma mesma linguagem em favor do futuro de todos, tanto dos diretamente interessados como da sociedade em geral.

Despretensiosamente, ousamos perguntar:

- Como pode e deve a família fazer do processo de ensino um compromisso na dinâmica educativa?

- Como deve e pode a escola fazer participar a família no processo pedagógico sem desculpas nem acusações... mesmo quando acontece um certo insucesso escolar?

- Quando se unirão as duas instituições (família e escola) para serem criadas as condições mínimas e suficientes em ordem a que o ensino seja educação e o processo educativo possa ser corresponsabilidade na ação?

= Ensinar ou educar?

Aprender e ensinar são tarefas que teem de estar muito bem conjugadas, pois quem ensina aprende e quem aprende terá muito a ensinar... mesmo que de forma tácita. O valor do ensino mede-se não pelos conteúdos aprendidos, mas pelas ‘armas’ com que aquele/a que aprende é capacitado para continuar a estudar, aprendendo na escola da vida, muito mais importante do que a escola dos livros e das matérias curriculares.

Ensinar é, sobretudo, educar as faculdades da pessoa humana: inteligência, vontade/emotividade, afetividade... numa crescente capacitação para a maturidade e não de mera reprodução de conceitos, de teorias nem de esquemas... mais ou menos apreendidos ou colados à pressa.

Atendendo às progressivas técnicas de ensino/aprendizagem é cada vez mais urgente que cada estudante apreenda o seu método de estudo, sem tentar reproduzir o ‘já feito’ por outros mas não assimilado por ele. Com efeito, temos cada vez mais truques para fazer boa figura, mas a quantidade de informações nem sempre é digerida por quem as usa ou ardilosamente delas se serve... numa espécie de cultura do ‘copy-paste’.

- Neste campo de atividade como noutros precisamos mais de mestres, por onde passa traduzida a mensagem pelo testemunho do que de professores mais ou menos categorizados, mas que se esquecem de serem educadores dos seus ‘discípulos’ e não de meros alunos.

- Precisamos de professores vocacionados para a educação e não de certos formadores em matérias sem alma.

- Ensinar é educar com amor e esperança.

Nota – Para quem considera a empresa ‘parque escolar’ uma festa como se poderá explicar a inflação (para o dobro ou o triplo) de preços aquando das obras em certas escolas? Foi incompetência ou corrupção? O tempo se encarregará de esclarecer...

António Sílvio Couto

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Missiva a um (possível) discípulo de Tomé (*)

Certamente tens muitas e até variadas razões para quereres ‘ver para crer’... como São Tomé.
Talvez sejas desconfiado ou mesmo cético, tanto na forma como mesmo no conteúdo, das coisas da fé e, sobretudo, na sua expressão religiosa pela vida prática do dia a dia.
Possivelmente terás sido instruído na escola dum tal racionalismo anti-cristão... dessas que fazem moda, no nosso tempo e, particularmente, no contexto português, nas franjas de opções ideológicas jacobinas.
Poderás ainda ter sido ‘catequizado’ por uma certa comunicação social, que vê com desdém quem acredita (ou possa dar indícios de acreditar) na Vida e nos sinais da fé... em Cristo, sobretudo quando esses sinais revestem a forma católica.
Talvez podes (até) andar pelos espaços da Igreja, embora os teus sentimentos possam estar induzidos à contestação das propostas de moralidade cristã... especialmente no âmbito sexual e familiar.
Podes ser daqueles/as que votam numa certa esquerda – mais sociológica do que doutrinária – embora solicitando favores àqueles aos quais contestam em questões de compromisso pelos outros... em matérias sociais e de solidariedade.
Por todo o respeito que me mereces, como quem quer ‘ver para crer’, aceita que te faça, por isso, breves desafios... muito práticos e/ou provocatórios:
- Não fujas da celebração dos mistérios de Deus em Igreja... usufruindo uns dias de ‘férias’ por ocasião das festas pascais;
- Tenta dar a tua parte na solução e esperar que outros te ajudem a crescer também na resolução dos problemas;
- Por muito instruído que sejas ou possas ser nas coisas do mundo e do saber científico, deixa que o dom da fé tenha espaço e oportunidade em ti e ao teu redor, tentando (mesmo assim) aprender com humildade e em verdade;
- Abre o coração à misericórdia divina e à compaixão humana, pois muita coisa poderá mudar... a curto prazo;
- Tenta exorcizar de ti mesmo e à tua volta tantos sinais de pessimismo, essas interjeições de derrota, e umas tantas classificações de angústia... alimentando, pelo contrário, a salutar esperança, os incentivos à confiança e o ânimo pela vitória da paz de Deus no teu espírito, já.

Que, pelo exercício de fé de São Tomé, sejamos capazes de fazer o nosso caminho de fé pessoal, convertida e assumida neste tempo de cristandade profana.

(*)
«Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:  A paz esteja convosco. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós. Dito isto soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos.
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: Vimos o Senhor.  Mas ele respondeu-lhes: Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado. não acreditarei. Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: A paz esteja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. Tomé respondeu-Lhe: Meu Senhor e meu Deus! Disse-lhe Jesus: Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto»(Jo 20,19-28).

António Sílvio Couto

terça-feira, 27 de março de 2012

Nova carta-aberta a quem da Igreja católica se afastou

Com a proximidade da celebração anual da Páscoa, sejas tu quem fores, gostaria de te apresentar certas razões para que possas voltar ao seio da Igreja tua Mãe, sem reprimendas nem lições, mas com espírito de caridade, de humildade e em confiança... tocando algumas facetas (habituais) de acusação.

- Não vou com a cara do padre!
De muitas e variadas formas escutamos esta frase. Umas vezes reportando-se a situações (mais ou menos) pessoais, noutros casos como mero boato, pelo que outros/as dizem... de alguém.
Desde logo quero dizer-te, a ti que podes ter razão de queixa de algum padre, que podes ter razão, embora não tenhas, por certo, a razão absoluta... sobre todo e qualquer padre.
Seja qual for a atividade profissional que tenhas não se poderá concluir do teu desempenho (mais ou menos correto) que todos os que têm idêntica profissão são bons, menos bons, péssimos ou maus a partir da tua cara e/ do teu profissionalismo.
Também os padres – como homens pecadores santificados – sofrem de idêntica apreciação. Por isso, julgar todos os padres por causa de um padre que te possa ter desedificado ou até escandalizado, talvez seja precipitado ou mesmo injusto.
Temos de enquadrar a vocação ao sacerdócio ministerial como uma chamamento de Deus, que se irá aprofundando na vida daqueles que Ele chamou, amadurecendo com a idade e acrisolando-se com uma espiritualidade humilde, sincera e fraterna... em Igreja.
Quero, por isso, pedir-te: tenta perdoar, desculpa e compreender esse(s) padre(s) com cuja cara não vais nem te cativa... Reza por ele e ele rezará, certamente, por ti, entregando-te a Deus em cada missa que celebrará!

- Confesso-me a Deus e não aos padres!
Estoutra frase é recorrente, sobretudo, nesta época de absoluto relativo, onde cada um se considera intocável e, por isso, não-pecador, sem precisar de arrependimento nem de perdão, tanto divino como humano.
A ti, que podes ter uma experiência não muito boa da confissão sacramental, quero deixar-te uma certeza: se te é difícil submeter os teus pecados à misericórdia de Deus, pela entrega deles na acusação a um padre, podes ter a certeza que não é menos desagradável, em experiência de fé, escutar os outros, nas suas falhas e debilidades. É uma questão de confiança e de humildade... em Deus e em nós mesmos.
Certamente acreditarás – se nisso não creres dificilmente compreenderás este ‘poder dado aos homens’ de perdoar ! – que é a Deus que te confessas, mesmo que tenhas de te aproximar de um padre... pecador como tu, antes de ser ministro do sacramento do perdão de Deus na Igreja católica.
Se hoje é tão preciso ter com quem partilhar as nossas mágoas e feridas, Deus deixou-nos esta graça em Igreja. Se os gabinetes de psicólogos e de psiquiatras proliferam, em muitos dos casos foi porque se fecharam os confessionários. Naqueles temos de pagar, nestes tudo é gratuito e pura graça divina.
Mesmo que estejas ressentido com alguma coisa que possa não ter corrido tão bem como desejavas, em tempos passados, tenta deixar que a misericórdia de Deus te recupere para a graça d’Ele em Igreja, abeirando-te do sacramento da penitência e reconciliação... e a paz de Deus tomará o teu coração!

- Com certas exigências a Igreja está a perder fiéis!
Por vezes, diante de casos um tanto ‘normais’ – como situações de divorciados recasados, uma parte divorciada sem culpa, pessoas desenquadradas da prática habitual da fé – é comum ouvirmos: tenho direito a ser feliz e a Igreja não me compreende, não tive culpa em gostar de alguém que já foi casado, não me revejo na minha paróquia onde moro...
A ti que vives e já ouvistes estas e outras observações quero dizer-te: antes da felicidade (meramente pessoal) é preciso viver a fidelidade a Deus e uns para com os outros. De fato, a Igreja, tua e minha mãe, não exclui ninguém do seu regaço compassivo, mas temos de compreender que, tal como dizia São Paulo, tudo me é lícito, mas nem tudo me é permitido.
Certamente poderás reconhecer que não é possível viver sem o mínimo de regras e de leis na nossa vida do dia a dia. Assim, no trato da Igreja católica, teremos de entrar no espírito da lei e de não querermos fazer uma excepção para a nossa condição particular.
É com dor que vemos tais situações, mas temos de acreditar que é pela escuta e pel tentativa de nos conformarmos com a Palavra de Deus que poderemos viver a dinâmica da fé, mesmo que ela possa ter de passar pela purificação.

Seremos, verdadeiramente, fiéis quando sentirmos a Igreja como mãe na comunhão com um Deus que é Pai e nos faz irmãos em Cristo pela sintonia no Espírito Santo.
Para todos uma boa Páscoa de Ressurreição com Jesus!

António Sílvio Couto

segunda-feira, 19 de março de 2012

Só 20% das famílias faz poupança

Quase noventa por cento da poupança das famílias portuguesas é feita por apenas vinte por cento dos agregados familiares. Esta conclusão é resultado de um estudo da Associação portuguesa de seguradores que chegou ainda à conclusão de que trinta por cento das famílias lusas apresentam uma poupança negativa, isto é, gastam mais do que aquilo que ganham.
Ainda, segundo o estudo citado, há três contributos que o Estado português deveria apresentar para ajudar a fomentar a poupança e, assim, revitalizar a economia nacional:
- o Estado  deverá ele próprio poupar;
- todas as medidas de política económica devem ter em consideração o seu impacto sobre a poupança;
- a defesa da estabilidade e previsibilidade das políticas de promoção de poupança.

= Assumir-nos como povo... sem rumo
Depois de quase duas décadas (anos 80 e 90) de destempero nas coisas das finanças – pessoais, familiares, autárquicas, sociais, do Estado, dos governos e outras – eis chegado o momento de sermos mais autênticos e comedidos, seja nas aspirações, seja nos gastos e até nos projetos... atuais e futuros.
Somos, de fato, um povo de extremos: ora vivemos na penúria e na resignação, ora na ostentação e no esbanjamento. Parece que nos deixamos seduzir pela euforia, caindo, ao mais pequeno contra-tempo, na depressão (pessoal e coletiva)... confrangedora.
De alguma forma até parece que gostamos de quem nos iluda e (quase) abjuramos quem nos diga a verdade... mesmo que ela seja evidente. Veja-se a apreciação que se vai fazendo dos mais recentes governos da Nação: quem nos enganou até parece que já está perdoado por nos ter afundado na mais grave crise económica e social nos últimos quarenta anos! No entanto, quem nos chama à realidade parece tornar-se inimigo público – pelo menos para uns tantos perdedores no último ato eleitoral – surgindo certos paladinos da desgraça como mentores da revolução... usando ou instrumentalizando, inclusivé, armas e forças armadas. Quem representa esse tal ‘herói’ que tais impropérios patrocina? Será que alguém ainda o leva a sério nas suas diatribes revolucionárias? Se não é considerado doente – se for declarado sem responsabilidade no que diz, poderá ser inimputável – não deverá ser criminalizado pelos vitupérios que ostenta?
Efetivamente, temos de aprender a viver com o que temos, honrando as nossas dívidas e pagando a quem nos ajuda. Basta de caloteiros ingratos, altivos e anónimos!

= Educar (urgentemente) para a poupança
Reportando-nos ao estudo citado cremos que é chegada a hora de assumirmos uma nova atitude de vida: para além da austeridade imposta pelas circunstâncias, temos de optar por uma poupança assumida, consciente e ousada. Explicando:
- Poupança assumida – ninguém no-la impõe, somos nós que a aceitamos porque sabemos, conhecemos e vivemos segundo as nossas posses e não sob a imposição do consumismo explorador da nossa identidade pessoal e coletiva.
 - Poupança consciente – antes de nos metermos em qualquer empreendimento fazemos bem as contas e não nos fiámos na benesses – muitas delas enganosas e encapotadas em publicidade falseadora – de quem nos empresta dinheiro para vivermos acima das nossas possibilidades.
- Poupança ousada – calculando os riscos não ficamos a invetivar quem possa ter melhores meios de vida do que nós, mas tentamos fazer algo de mais válido e até valioso, deixando – com se diz no espírito escutista – este mundo um pouco melhor do que o encontramos.
Terminamos com uma breve anedota (adaptada), que lemos há dias: À porta da empresa estamos dois operários. Um era alemão e o outro era português. O alemão, vendo passar o patrão num grande bmw, diz: ‘ainda hei-de ter um daqueles’. O português ripostou, vendo passar o seu patrão num mercedes: ‘anda sacana, que ainda hás-de andar a pé como eu’!
Numa palavra: é uma questão de mentalidade... e de cultura!


António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)

terça-feira, 13 de março de 2012

Carta-aberta a quem se afastou da Igreja... católica

A quem quer tu que sejas, aceita que, nesta proximidade à celebração anual da Páscoa, te possa apresentar algumas das razões para que possas voltar ao seio da Igreja tua Mãe (e não mera madrasta), sem lições nem reprimendas... mas com esperança e espírito de caridade.

- Cristo sim, Igreja não!
Muitas vezes e de variadas formas escutamos esta frase: nalguns casos de formas clara, noutros de modo implícito... por muitas pessoas que, não tendo prática religiosa habitual – serão talvez ‘católicos intermitentes’ – terão, no entanto, algum conhecimento e/ou vivência mais ou menos cristã... de circunstância.
A estes gostaríamos de desafiar a saírem dos seus preconceitos – mais ou menos fundados ou (in)conscientes – para fazerem parte do caminho de fé com os outros... que hão-de descobrir como irmãos/irmãs em Cristo.

- Não me interessa misturar-me com essa gente!
Numa espécie de desdém há quem considere, por vezes, que os que andam pela igreja não são melhores do que os nem lá vão. Para isso apontam certos defeitos – nalguns casos com razão, noutras situações como desculpa – aos (ditos) praticantes, numa espécie cruzada de exigência de (quase) santidade.
Por muitas e sinceras razões que possais ter, talvez vos seja melhor sair desse conforto crítico e misturar-vos com os demais, apreciando também as qualidades, os dons e os carismas... deles e delas, pois ninguém tem tanto de bom que não possa aprender nada nem terá tanto de mau que não possa partilhar alguma coisa. Afinal, somos uma santa Igreja de pecadores!

- Eu cá tenho a minha fé!
Outra frase bastante habitual é esta que reduz a fé a uma expressão individual, talvez egoísta e, por vezes, meramente intimista. Numa tentativa de compreendermos quem assim se exprime, parece-nos que lhe faltará um mínimo de dimensão comunitária e/ou social... Ora, se tivermos em conta, que o ser cristão tem por essência a vivência comunitária da fé em Jesus Cristo, assumida de forma pessoal e com implicações com os outros membros da Igreja, seja qual o âmbito da sua expressão: de grupo, em paróquia, como diocese e em dimensão universal (católica), diremos que uma tal fé individual está condenada ao fracasso.
A quem possa viver como se a sua fé fosse individual deixamos um pequeno exemplo: que diríamos de alguém, que diz gostar, por exemplo, de futebol, mas só vai ver o jogo – se ele pudesse existir! – sózinho, sem ninguém no estádio... e, assim, alimentaria a sua mística e do seu clube! Talvez se possa considerar um tanto ridículo um comportamento deste jeito. E na fé não será idêntica a classificação?
Por isso, se tens a tua fé não a podes viver nem alimentar sozinho e, muito menos, sem os outros ou à sua rebelia! Tenta ultrapassar as feridas que te fizeram e vem ajudar a construir a Igreja... sinceramente!

- São todos iguais, andam todos ao mesmo!
Numa avaliação (ou talvez seja juízo!) dos outros há quem considere que, os que andam na e pela igreja, querem é protagonismo e isso será como que uma forma de aparecer e de achar-se importante... sobretudo na terras mais pequenas, seja em dimensão física e de território, seja até na mentalidade.
É possível – muito mais do que seria desejável – que se possam verificar tais pretensões, entre os participantes nas coisas da Igreja. Isso pode ser resultado da falta de um processo evangelizador coerente e consequente, mas, se tal existir, todos se sentirão irmãos e, por isso, servidores dos outros e não em busca dos seus interesses.
A ti, que sentes tais melindres e tens uma leitura exigente para com os outros, deixo-te um convite: vem participar com os teus dons e qualidades, ajudando a purificar as intenções dos outros e também as tuas pelo compromisso com a Verdade. Tenta colocar o dom da exigência ao serviço da caridade e todos poderemos viver mais em conformidade com o Evangelho de Jesus, que espero que conheças, leias e medites... neste caminho para a Páscoa... cristã e não meramente sociológica.
Sem lições quisemos deixar breves sugestões para quantos/as que possam ter deixado – por estas ou outras ‘razões’ – de participar na Igreja – comunidade e templo – na expetativa de que, nesta Páscoa, possamos celebrar Jesus Ressuscitado em maior comunhão e paz.
Notas
- Neste texto referimos situações reais com pessoas fitícias e pessoas reais em casos fitícios;
- Na proximidade à celebração da Páscoa voltaremos a abordar outras perspetivas – acusatórias e não só! – de quem se possa ter afastado da Igreja...

António Sílvio Couto