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terça-feira, 27 de março de 2012

Nova carta-aberta a quem da Igreja católica se afastou

Com a proximidade da celebração anual da Páscoa, sejas tu quem fores, gostaria de te apresentar certas razões para que possas voltar ao seio da Igreja tua Mãe, sem reprimendas nem lições, mas com espírito de caridade, de humildade e em confiança... tocando algumas facetas (habituais) de acusação.

- Não vou com a cara do padre!
De muitas e variadas formas escutamos esta frase. Umas vezes reportando-se a situações (mais ou menos) pessoais, noutros casos como mero boato, pelo que outros/as dizem... de alguém.
Desde logo quero dizer-te, a ti que podes ter razão de queixa de algum padre, que podes ter razão, embora não tenhas, por certo, a razão absoluta... sobre todo e qualquer padre.
Seja qual for a atividade profissional que tenhas não se poderá concluir do teu desempenho (mais ou menos correto) que todos os que têm idêntica profissão são bons, menos bons, péssimos ou maus a partir da tua cara e/ do teu profissionalismo.
Também os padres – como homens pecadores santificados – sofrem de idêntica apreciação. Por isso, julgar todos os padres por causa de um padre que te possa ter desedificado ou até escandalizado, talvez seja precipitado ou mesmo injusto.
Temos de enquadrar a vocação ao sacerdócio ministerial como uma chamamento de Deus, que se irá aprofundando na vida daqueles que Ele chamou, amadurecendo com a idade e acrisolando-se com uma espiritualidade humilde, sincera e fraterna... em Igreja.
Quero, por isso, pedir-te: tenta perdoar, desculpa e compreender esse(s) padre(s) com cuja cara não vais nem te cativa... Reza por ele e ele rezará, certamente, por ti, entregando-te a Deus em cada missa que celebrará!

- Confesso-me a Deus e não aos padres!
Estoutra frase é recorrente, sobretudo, nesta época de absoluto relativo, onde cada um se considera intocável e, por isso, não-pecador, sem precisar de arrependimento nem de perdão, tanto divino como humano.
A ti, que podes ter uma experiência não muito boa da confissão sacramental, quero deixar-te uma certeza: se te é difícil submeter os teus pecados à misericórdia de Deus, pela entrega deles na acusação a um padre, podes ter a certeza que não é menos desagradável, em experiência de fé, escutar os outros, nas suas falhas e debilidades. É uma questão de confiança e de humildade... em Deus e em nós mesmos.
Certamente acreditarás – se nisso não creres dificilmente compreenderás este ‘poder dado aos homens’ de perdoar ! – que é a Deus que te confessas, mesmo que tenhas de te aproximar de um padre... pecador como tu, antes de ser ministro do sacramento do perdão de Deus na Igreja católica.
Se hoje é tão preciso ter com quem partilhar as nossas mágoas e feridas, Deus deixou-nos esta graça em Igreja. Se os gabinetes de psicólogos e de psiquiatras proliferam, em muitos dos casos foi porque se fecharam os confessionários. Naqueles temos de pagar, nestes tudo é gratuito e pura graça divina.
Mesmo que estejas ressentido com alguma coisa que possa não ter corrido tão bem como desejavas, em tempos passados, tenta deixar que a misericórdia de Deus te recupere para a graça d’Ele em Igreja, abeirando-te do sacramento da penitência e reconciliação... e a paz de Deus tomará o teu coração!

- Com certas exigências a Igreja está a perder fiéis!
Por vezes, diante de casos um tanto ‘normais’ – como situações de divorciados recasados, uma parte divorciada sem culpa, pessoas desenquadradas da prática habitual da fé – é comum ouvirmos: tenho direito a ser feliz e a Igreja não me compreende, não tive culpa em gostar de alguém que já foi casado, não me revejo na minha paróquia onde moro...
A ti que vives e já ouvistes estas e outras observações quero dizer-te: antes da felicidade (meramente pessoal) é preciso viver a fidelidade a Deus e uns para com os outros. De fato, a Igreja, tua e minha mãe, não exclui ninguém do seu regaço compassivo, mas temos de compreender que, tal como dizia São Paulo, tudo me é lícito, mas nem tudo me é permitido.
Certamente poderás reconhecer que não é possível viver sem o mínimo de regras e de leis na nossa vida do dia a dia. Assim, no trato da Igreja católica, teremos de entrar no espírito da lei e de não querermos fazer uma excepção para a nossa condição particular.
É com dor que vemos tais situações, mas temos de acreditar que é pela escuta e pel tentativa de nos conformarmos com a Palavra de Deus que poderemos viver a dinâmica da fé, mesmo que ela possa ter de passar pela purificação.

Seremos, verdadeiramente, fiéis quando sentirmos a Igreja como mãe na comunhão com um Deus que é Pai e nos faz irmãos em Cristo pela sintonia no Espírito Santo.
Para todos uma boa Páscoa de Ressurreição com Jesus!

António Sílvio Couto

2 comentários:

  1. Sugestão para a próxima carta aberta:"A quem a Igreja católica afastou..." Parabéns! Está muito bem explicado as razões porque as pessoas deviam voltar à Igreja, é verdade,faz-nos encher de confiança, compreender e pensar no amor misericordioso de Deus, mas não passa disso mesmo... As pessoas não podem ser obrigadas a voltar à Igreja ou sentirem-se na obrigação de lá ir, têm que sentir motivadas pelo amor de Deus, pelo dom da fé, que Deus lhes concedeu, e isso penso que é um "trabalho" da acção do Espírito Santo de Deus em cada pessoa, e se não for a partir daí nada feito. A Igreja devia voltar às suas raízes, à simplicidade dos primeiros Apóstolos,ao amor puro e desinteressado de Jesus,que deixou uma doutrina tão simples, reduzindo não sei quantas centenas de mandamentos do tempo de Moisés, a um só mandamento:Ama a Deus e faz bem ao próximo. Actualmente a vida está muito diferente e o Domingo não é mais aquele dia de descanso obrigatório para todos,há muitas e muitas pessoas que têm de trabalhar aos domingos e dias santos.Depois o que é que acontece?Somos humanos,somos fracos e os costumes também se vão perdendo...Ainda assim, quando alguém aparece na Igreja parece que já não é muito bem recebido. E se procura algum Sacramento, então é uma desgraça! As pessoas não compreendem porque com "que carga de água" são precisas tantas reuniões, a mim só o nome me tira do sério! E como é que as pessoas fazem para estar nessas "benditas" reuniões às horas marcadas? Garanto que nenhuma empresa está por esses ajustes,deixar sair as pessoas mais cedo para irem a uma reunião dessas,e muito menos nos tempos que agora correm, alguns vão, mas sabe Deus a que preço...isso era antigamente quando todo o mundo saía do trabalho e vinha pra casa dentro dos horários normais, agora não, há tanta gente que até de noite trabalha.Porque não acolher as pessoas amorosamente e com compreensão e explicar-lhe logo na altura, a importãncia dos sacramentos? Não sei se a Igreja vive fora do mundo actual, ou se ainda tem a ilusão que essas reuniões servem de catequeses... Ninguém aprende lá nada, e o que aprendem, depressa esquecem,só lhes serve de revolta, porque foram lá obrigados,ao passo que se fossem acolhidas com mais atenção e compreensão, voltariam sempre com respeito e temor a Deus. E depois há outra coisa: há poucos padres, é verdade, fruto da falta de fé e da desintegração das famílias, e, com tantos afazeres,acredito que não chegam pra tudo e se já deram tudo o que tinham para dar, a mais não são obrigados, somos todos humanos e limitados, mas o que se verifica é que muitas vezes os leigos estão a desempenhar o lugar dos padres, e sabe Deus com que vaidade...e os padres sabe Deus onde estão... para quê tanto rodopiar de "beatas falsas" para tras e para a frente? Para quê tanta artificialidade dentro da Igreja? às vezes dá mais uma aparência de hipocrisia, do que de fé, há falta de respeito dentro das igrejas, que deviam ser sobretudo lugares de encontro com Deus, de oração de adoração, e até os cântico chegam a irritar, sobretudo quando se vêem certas coreografias... quem canta, ou quem presta outros serviços, devia considerar-se ao serviço, comparando-se à humildade dos Anjos, e às vezes mais parece que vão para lá dar um "show"... Parece que há pessoas que desempenham serviços na Igreja para se exibirem,e, isso irrita-me profundamente. Não é para estar a julgar ninguém, até porque todos nós estamos sujeitos a imperfeições, mas há coisas que transparecem... falam por si e deviam ser revistas à luz da simplicidade da mesagem que Jesus nos ensinou. Penso que deste modo, cada vez as pessoas se vão afastando mais...Sentirão a Igreja como Mãe,sentir-se-ão filhos amados de Deus, irmãos em Cristo unidos pelo amor do Espirito Santo? Viverão plenamente esta Páscoa, ou pelo contrário, pensarão, que se os acontecimentos pascais acontecessem hoje, Jesus seria novamente condenado pela "Igreja" como foi naquele tempo pelo sinédrio?!....

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  2. Teresa Pedrosa -Sesimbra23 de abril de 2012 às 16:09

    Identifiquei-me muito com o que escreveu nesta "carta aberta". Gosto da maneira como escreve, porque se nota que identifica na perfeição os dilemas do mundo contemporaneo, não se deixando ficar meramente pelo seguimento do Cristianismo como ele foi fundado, mas procurando incessantemente uma solução para os problemas da actualidadr, utilizando a mensagem de Cristo como fio condutor. É sempre interessante ler cada mensagem publicada neste blog, pois todas dispertam inquietudes e reflexões interessantes. Obrigada, Padre Sílvio, por tudo o que tem feito...

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