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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Missiva a um (possível) discípulo de Tomé (*)

Certamente tens muitas e até variadas razões para quereres ‘ver para crer’... como São Tomé.
Talvez sejas desconfiado ou mesmo cético, tanto na forma como mesmo no conteúdo, das coisas da fé e, sobretudo, na sua expressão religiosa pela vida prática do dia a dia.
Possivelmente terás sido instruído na escola dum tal racionalismo anti-cristão... dessas que fazem moda, no nosso tempo e, particularmente, no contexto português, nas franjas de opções ideológicas jacobinas.
Poderás ainda ter sido ‘catequizado’ por uma certa comunicação social, que vê com desdém quem acredita (ou possa dar indícios de acreditar) na Vida e nos sinais da fé... em Cristo, sobretudo quando esses sinais revestem a forma católica.
Talvez podes (até) andar pelos espaços da Igreja, embora os teus sentimentos possam estar induzidos à contestação das propostas de moralidade cristã... especialmente no âmbito sexual e familiar.
Podes ser daqueles/as que votam numa certa esquerda – mais sociológica do que doutrinária – embora solicitando favores àqueles aos quais contestam em questões de compromisso pelos outros... em matérias sociais e de solidariedade.
Por todo o respeito que me mereces, como quem quer ‘ver para crer’, aceita que te faça, por isso, breves desafios... muito práticos e/ou provocatórios:
- Não fujas da celebração dos mistérios de Deus em Igreja... usufruindo uns dias de ‘férias’ por ocasião das festas pascais;
- Tenta dar a tua parte na solução e esperar que outros te ajudem a crescer também na resolução dos problemas;
- Por muito instruído que sejas ou possas ser nas coisas do mundo e do saber científico, deixa que o dom da fé tenha espaço e oportunidade em ti e ao teu redor, tentando (mesmo assim) aprender com humildade e em verdade;
- Abre o coração à misericórdia divina e à compaixão humana, pois muita coisa poderá mudar... a curto prazo;
- Tenta exorcizar de ti mesmo e à tua volta tantos sinais de pessimismo, essas interjeições de derrota, e umas tantas classificações de angústia... alimentando, pelo contrário, a salutar esperança, os incentivos à confiança e o ânimo pela vitória da paz de Deus no teu espírito, já.

Que, pelo exercício de fé de São Tomé, sejamos capazes de fazer o nosso caminho de fé pessoal, convertida e assumida neste tempo de cristandade profana.

(*)
«Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:  A paz esteja convosco. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós. Dito isto soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos.
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: Vimos o Senhor.  Mas ele respondeu-lhes: Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado. não acreditarei. Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: A paz esteja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. Tomé respondeu-Lhe: Meu Senhor e meu Deus! Disse-lhe Jesus: Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto»(Jo 20,19-28).

António Sílvio Couto

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