‘O sinal admirável’ (admirabile signum’) é o título
da carta apostólica do Papa Francisco sobre o significado e valor do Presépio.
Com data de 1 de dezembro – primeiro domingo do
Advento – o Papa quis publicitar esta partilha/reflexão em Greccio (Itália),
santuário do Presépio.
Respeitando a ordem de apresentação do texto vamos
respigar alguns excertos dos dez números que o documento apresenta…colocando
algumas questões.
1. O
sinal do Presépio
«Quero apoiar a bonita tradição das
nossas famílias de prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e
também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos
hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças... Desejo que esta
prática nunca desapareça; mais, espero que a mesma, onde porventura tenha caído
em desuso, se possa redescobrir e revitalizar».
Será que temos feito tudo para o que o presépio continue a nortear a nossa vida
pessoal, familiar e social? Certos ‘concursos de presépios’ registam o que é
essencial? Não deixemos o presépio banalizar-se...
2. Origem do Presépio
«A origem do Presépio fica-se a dever,
antes de mais nada, a alguns pormenores do nascimento de Jesus em Belém,
referidos no Evangelho... Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se
diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio...Na realidade, o Presépio
inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à
nossa vida diária... Em Greccio, naquela ocasião, não havia figuras: o Presépio
foi formado e vivido pelos que estavam presentes».
Não poderemos fazer do ‘nosso’ presépio a reprodução da nossa vida quotidiana?
Não andaremos a projetar no presépio considerações não-cristãs?
3. Significado do presépio
«Com a simplicidade daquele sinal, São
Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou
no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma
genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé... Desde a sua
origem franciscana, o Presépio é um convite a «sentir», a «tocar» a pobreza que
escolheu para si mesmo o Filho de Deus na sua Encarnação, tornando-se assim,
implicitamente, um apelo para o seguirmos pelo caminho da humildade, da
pobreza, do despojamento».
Já captamos a rudeza do presépio perante a moleza da nossa conduta? O presépio
toca-me em pobreza, humildade e despojamento?
4. Lendo os sinais
«Os vários sinais do Presépio para
apreendermos o significado que encerram. Em primeiro lugar, representamos o céu
estrelado, na escuridão e no silêncio da noite... Merecem também uma referência
as paisagens que fazem parte do Presépio; muitas vezes aparecem representadas
as ruínas de casas e palácios antigos que, nalguns casos, substituem a gruta de
Belém tornando-se a habitação da Sagrada Família».
Não será preciso interpretar os sinais do presépio naquilo que podem incomodar
tanta da nossa vulgaridade e superficialidade? Temos tempo para parar diante
das lições simples do presépio, ontem como hoje?
5. Figuras representativas
«Uma grande emoção deveria apoderar-se de
nós, ao colocarmos no Presépio as montanhas, os riachos, as ovelhas e os
pastores! Pois assim lembramos, como preanunciaram os profetas, que toda a
criação participa na festa da vinda do Messias. Os anjos e a estrela-cometa são
o sinal de que também nós somos chamados a pôr-nos a caminho para ir até à
gruta adorar o Senhor».
Não haverá demasiada racionalidade perante a emotividade do presépio? Que há de
aprendizagem para o essencial na subtileza das figuras do presépio?
6. Outras figuras simbólicas
«Nos nossos Presépios, costumamos colocar
muitas figuras simbólicas. Em primeiro lugar, as de mendigos e pessoas que não
conhecem outra abundância a não ser a do coração... Os pobres são os
privilegiados deste mistério e, muitas vezes, aqueles que melhor conseguem
reconhecer a presença de Deus no meio de nós...Muitas vezes, as crianças (mas
os adultos também!) gostam de acrescentar, no Presépio, outras figuras que
parecem não ter qualquer relação com as narrações do Evangelho... Do pastor ao
ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres com a bilha de água ao ombro às
crianças que brincam».
A projeção da ‘nossa’ vida (tantas vezes com sabor ruralista) significará
participação da santidade das vida na condição divina? Teremos sentido de
inclusão em Deus ou de profusão folclórica?
7. Maria e José
«Maria é uma mãe que contempla o seu
Menino e o mostra a quantos vêm visitá-lo. A sua figura faz pensar no grande
mistério que envolveu esta jovem, quando Deus bateu à porta do seu coração
imaculado... Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe,
está São José. Geralmente, é representado com o bordão na mão e, por vezes,
também segurando um lampião. São José desempenha um papel muito importante na vida
de Jesus e de Maria. É o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família».
Num tempo de acentuada crise da família, será que estas figuras interpelam os
que são mães e pais? Como poderão ser apresentados, Maria e José, como modelos
de pais, sobretudo, cristãos?
8. Menino Jesus
«O coração do Presépio começa a palpitar,
quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim se nos apresenta
Deus, num menino, para fazer-se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e
fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível,
mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a
grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas
para quem quer que seja».
Jesus é, de facto, o meu celebrado no Natal? Como vou aprendendo a riqueza do
amor de Deus diante de Jesus no presépio?
9. Os magos
«Quando se aproxima a festa da Epifania,
colocam-se no Presépio as três figuras dos Reis Magos. Tendo observado a
estrela, aqueles sábios e ricos senhores do Oriente puseram-se a caminho rumo a
Belém para conhecer Jesus e oferecer-lhe de presente ouro, incenso e mirra.
Estes presentes têm também um significado alegórico: o ouro honra a realeza de
Jesus; o incenso, a sua divindade; a mirra, a sua humanidade sagrada que
experimentará a morte e a sepultura».
Tal como os magos, vindos de longe, que é que vou oferecer a Jesus neste Natal?
10. Lições contínuas do Presépio
«Por todo o lado e na forma que for, o
Presépio narra o amor de Deus, o Deus que se fez menino para nos dizer quão
próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se
encontre... O Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da
fé».
O presépio humaniza-me e cristianiza-me verdadeiramente?
Lidas,
acolhidas e assimiladas estas vertentes do presépio certamente poderemos
continuar a renovar esta tradição na Igreja católica, à luz da sua origem…
António Sílvio Couto