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domingo, 8 de dezembro de 2019

Denúncia ou profetismo?


Não deixa de ser algo preocupante que a voz da Igreja católica – pelas intervenções do magistério (Papa e bispos) ou pelas iniciativas locais – possa parece um tanto frouxa senão mesmo não-escutada.
Por vezes setores de protesto – partidos, grupos sociais ou franjas culturais – parecem ter mais aceitação do que as declarações do Papa ou a voz de algum bispo – quando os há que estejam atentos e lúcidos – na comunicação social ou nas ditas redes sociais.
Quando os gestos falam mais do que as palavras – nessa clarividente intervenção do Papa Paulo VI, na encíclica ‘Evangelii nuntiandi’, n.º 42 – e se ouvem as palavras para explicar os gestos e as atitudes, teremos de tentar aferir-nos aos sinais que este tempo nos quer dizer.

– No rescaldo da ‘sexta-feira negra’, o Papa Francisco foi assinar/tornar pública a carta apostólica ‘O sinal admirável’ sobre o significado e o valor do presépio. Fê-lo em Greccio, Itália, o local onde, no século XIII, São Francisco de Assis levou a cabo a feitura do primeiro presépio popular… pois que o original encontrámo-lo na Bíblia, nos evangelhos da infância.
Sabendo da afinidade espiritual do Papa Francisco ao seu homólogo de Assis, compreende-se um tanto melhor que este documento da Igreja pretende não só repor o presépio no seu sentido primigénio, mas também fazer-nos a todos – crentes ou não – colocar perante a realidade da conduta decorrente de estarmos, hoje, a contemplar o presépio.
«Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da Encarnação do Filho de Deus. De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocarmo-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade daquele que se fez homem, a fim de se encontrar com todo o homem, e a descobrirmos que nos ama tanto, que se uniu a nós para podermos, também nós, unirmo-nos a Ele» (n.º 1).
A voz profética do Papa terá acolhimento entre os católicos ou será antes melhor aceite por aqueles que estão fora do círculo – se dissesse ‘circo’ não estaria desfasado! – dos praticantes? Pelos gestos do Papa já percebemos que há um longo caminho de refontalização dos cristãos ao espírito de humildade, de pobreza e de despojamento, decorrentes do presépio? As imagens – de pessoas, de coisas ou de situações – que colocamos no presépio serão resultado da nossa exposição a Deus ou serão meros adereços de enfeite?

– Perante os episódios mais recentes da luta (pretensamente) ecologista não podemos deixar de relembrar que São Francisco de Assis é considerado o patrono da ecologia, embora alguns animalistas pretendam situar a data de 4 de outubro – dia litúrgico deste santo – na fórmula redutora do ‘dia do animal’…Para a atribuição de patrono da ecologia a São Francisco de Assis muito contribuiu a sua visão, sensibilidade e vivência para com as diversas criaturas a quem chamava de ‘irmãs’, desde as estrelas até à água, passando pelos animais cantados e encantados, não esquecendo que Francisco encaminhava das criaturas para o Criador…
Ora, certas tendências ecologistas hodiernas vão procurando destronar o Criador, colocando em seu lugar as criaturas endeusadas…numa tendência neopagã crescente. Estamos a viver uma época pós ‘nova era’ em que já não se vive um panteísmo dissimulado, mas se faz da ‘mãe-terra’, a ‘gaia’ da mitologia grega, como que a base de quase toda a tendência para muitos dos protestos, das iniciativas e mesmo dos ecologismos ‘à la carte’… ou sob planos subterrâneos internacionalistas.
Agora se pode e deve compreender a importância que o Papa Francisco deu a este tema da ‘ecologia integral’, apresentada na sua encíclica ‘Laudato sí’ (palavras de um canto de São Francisco de Assis, que quer dizer ‘louvado sejas’), com data de 24 de maio de 2015. Com efeito, perante um certo cientificismo sobre a natureza, o Papa refere o equilíbrio que deve haver entre todos os seres que vivem na ‘casa comum’, que é o Planeta Terra, naquilo que é para cada um e para todos…
Certas lições e manifestações contra as ‘alterações climáticas’ – mais antigas ou as ainda recentes – servem mais interesses emocionais do que contribuem para que tenhamos um futuro saudável, humano e teísta.

António Sílvio Couto

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