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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Endividamento das famílias…novamente


A cada hora que passa, as famílias portuguesas pedem dois milhões de euros de empréstimo: o crédito à habitação atingiu o máximo da última década, enquanto o crédito ao consumo equipara-se ao recorde de há quinze anos.

De facto, entre janeiro e outubro deste ano, a banca concedeu mais de 4,2 mil milhões de euros em crédito ao consumo, um máximo desde 2004, verificando-se, ao mesmo tempo, que os juros estão a cair. Por seu turno, os empréstimos para a compra de casa, só em outubro, atingiram 943 milhões de euros, num total de 8.522 milhões de euros, desde o início do ano…

Que significado poderemos ver neste desfile de números? Estaremos a viver com melhores condições? Os bancos, ao abrirem os cordões ao crédito, estão conscientes dos riscos que correm a curto e a médio prazo? Depois da confusão no tempo da ‘crise’ não estaremos a correr para idêntico precipício? Pessoal, familiar e socialmente teremos aprendido, minimamente, as lições não muito longínquas?

 

= Perante estes dados não deixa de ser questionável o muito baixo investimento no sistema de poupança ou em não aferrolhar das pessoas e das famílias. Ora, na elaboração deste artigo, encontrei um interessante texto sobre os ’10 mandamentos da poupança’. Eis o elenco: elabore um orçamento, pague a si próprio em primeiro lugar, crie um fundo de emergência, tente aplicar as suas poupanças, defina objetivos financeiros, não gaste mais do que ganha, calcule a sua taxa de esforço, defina estratégias de consumo, pague a crédito, não ceda à tentação de impressionar os outros…

Estes conselhos poderão ser muito oportunos num tempo em que vemos ressurgir essa tendência de querer gastar mais do que se pode ou de viver nessoutra vulnerabilidade do ‘chapa-ganha; chapa-gasta’.

 

= É claro que somos – quem a tal presta culto e faz participação – constantemente aliciados para entrarmos no consumismo desenfreado, onde muita gente vai tentando colmatar ou preencher com coisas aquilo que deveria ser melhor apreciado como os valores humanos, psicológicos e/ou espirituais.

Com que facilidade se atira dinheiro para o bolso dos mais incautos, não lhes permitindo refletir sobre as consequências quanto à má gestão das suas economias. Com que ostentação vemos pessoas desfiarem a longa lista de cartões de uso nas compras…muitos deles mais parecem ser decorativos, mas alguns têm uso ou abuso em maré de deixar boa impressão a quem vê ou repara. Com que prosápia vemos os atores do governo – da ex-geringonça e o subsequente – fazerem propaganda com a recuperação dos proventos, quando depois os retiram nos impostos encapotados…

 

= Diante das provocações do presépio como que somos desafiados a fazermos um sério exame de consciência sobre o nosso consumismo, pois não podemos hipotecar mais uma vez o nosso futuro.

Diz-nos o Papa Francisco na carta apostólica ‘O admirável sinal’: «nos nossos Presépios, costumamos colocar muitas figuras simbólicas. Em primeiro lugar, as de mendigos e pessoas que não conhecem outra abundância a não ser a do coração. Também estas figuras estão, de pleno direito, próximas do Menino Jesus, sem que ninguém possa expulsá-las ou afastá-las de um berço de tal modo improvisado que os pobres, ao seu redor, não destoam absolutamente. Antes, os pobres são os privilegiados deste mistério e, muitas vezes, aqueles que melhor conseguem reconhecer a presença de Deus no meio de nós.
No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus se faz homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade (...) Do Presépio surge, clara, a mensagem de que não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade... Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado
» (n.º 6).

Como é rude e contrastante o nosso mistério com a manifestação do mistério de Jesus, ontem como hoje!   

 

António Sílvio Couto

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