Em 2019, teve origem na Coreia do Sul, um movimento atualmente conhecido como 4B, no qual as mulheres negam principalmente quatro ações, todas começadas por B: ‘bihon’ - a recusa do casamento heterossexual; ‘bichulsan’ - recusa de engravidar; ‘biyeonae’ - recusa de namorar; ‘bisekseu’ - recusa de relações sexuais heterossexuais. Este dito movimento feminista tem vindo a crescer em visibilidade, sobretudo, nos Estados Unidos da América e por ocasião das recentes eleições presidenciais.
1. Que implicações – a curto ou a médio prazo – pode ter este movimento no nosso país? Será mais uma moda, recauchutada pelos americanos, ou uma vaga mais profunda das sociedades? Como se pode entender mais a fundo esta questão? Que razões – lá (Coreia do Sul e EUA) e por cá – levam a encetar estas reações? Não será que este movimento 4B é mais do que simbólico, mas paradigmático das contestações feministas à volta do planeta? Até onde irá esta onda de ideologia de género tácita ou explícita?
2. Atendendo aos mentores, promotores, difusores e patrocinadores deste movimento 4B, temos de estar atentos às raízes da questão, bem como às consequências da sua difusão. Com efeito, mais do que rejeitar – casamento heterossexual, ter filhos, namorar ou ter relações heterossexuais – tudo isto implica uma outra opção homossexual presumida ou assumida, como se fosse um grito de libertação contra tudo quanto possa alembrar outro sexo, o masculino. Embora se possa revestir de luta contra as manifestações de machismo – primeiro na Coreia do Sul e depois nos EUA – isso tenho ganho maior proporção em países e culturas onde a mulher continua desfavorecida e mesmo explorada… tanto em casa como na vida laboral, social e pessoal.
3. Efetivamente estamos no século XXI, com problemas que são e se prolongam do século da industrialização: a discrepância de salários entre homens e mulheres continua a ser algo de significativo, até porque muitas delas têm habilitações e instrução superior a eles. Agora que estamos numa crescente alfabetização torna-se ofensivo, degradante e mesmo provocatório que os homens, pela simples razão de o serem, continuem a usufruir de vencimentos superior às mulheres, mesmo que exerçam trabalho idêntico e a par uns dos outros. Esta vertente agravante nalgumas sociedades não pode uma razão tão extremista que se capta no subterrâneo do movimento 4B.
4. Consideremos, no entanto, algumas das causas do movimento 4B: a rejeição da vida transmitida pela via sexual entre homem e mulher, a abjuração da complementaridade sexual e a repulsa ao não-feminino. Ao nível cristão nada disto tem razão de ser nem sustenta a vida de compromisso social e cultural da família. Aliás, esta parece estar fora dos critérios do dito movimento 4B. A família poderia ser algo à la carte, nesse sentido tão difundido por setores com maior ou menor propaganda na comunicação social.
5. De uma coisa parece que podemos ter presente: este movimento tem poder não só de intervenção, mas também económico e com expressão transnacional. Esta tendência de internacionalizar questões locais e regionais tem vindo a crescer nos nossos dias, criando a sensação de que alguém comanda isto tudo e faz com que, algo que parecia lateral e secundário, emerja como normal e com larga difusão ao longe e ao largo. Aquilo que noutros tempos soaria a disfunção de uma pessoa contestatária e fora dos esquemas gerais, agora assume foros de normalidade e como manifestação generalizada de uma certa cultura.
6. Algo ainda preocupante é perceber que muitos destes motivos de luta, de confronto ou de dissonância se situam no contrário dos valores do Evangelho ou como repulsa deles mesmos. Depois da família e da vida podemos encontrar outras vertentes bem mais pessoais e com incidência na personalidade de cada um. Aquilo que foi considerado tabu em certas culturas e expressões religiosas, agora saiu do armário e pavoneia-se na via pública. Até quando conviveremos com esta multiplicidade de éticas? Estaremos preparados para responder, cristãmente, à altura dos factos e das situações?
António Sílvio Couto
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