Terminada a segunda sessão da XVI Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorreu, em Roma, de 2 a 27 de outubro de 2024, foi apresentado o documento final. Neste lê-se no número onze: «O Documento Final exprime a consciência de que o chamamento à missão é, ao mesmo tempo, chamamento à conversão de cada Igreja particular e de toda a Igreja, na perspetiva indicada na Exortação Apostólica Evangelii gaudium (cf. n.º 30). O texto é composto por cinco partes.
A primeira, intitulada O coração da sinodalidade, delineia os fundamentos teológicos e espirituais que iluminam e alimentam o que se segue. Reafirma a compreensão partilhada da sinodalidade que emergiu na Primeira Sessão e desenvolve as suas perspetivas espirituais e proféticas. A conversão dos sentimentos, imagens e pensamentos que habitam os nossos corações prossegue juntamente com a conversão da ação pastoral e missionária.
A segunda parte, intitulada Juntos, na barca, é dedicada à conversão das relações que constroem a comunidade cristã e configuram a missão no entrelaçamento de vocações, carismas e ministérios.
A terceira, “Lançai a rede”, identifica três práticas que estão intimamente ligadas: discernimento eclesial, processos de decisão e cultura da transparência, da responsabilidade e da avaliação. Também em relação a estas, somos convidados a iniciar caminhos de “transformação missionária”, para os quais é urgente uma renovação dos organismos de participação.
A quarta parte, sob o título Uma pesca abundante, descreve como é possível cultivar em novas formas a permuta de dons e o entrelaçamento dos laços que nos unem na Igreja, numa altura em que a experiência de estar enraizado num lugar está a mudar profundamente.
Segue-se uma quinta parte, “Também eu vos envio”, que nos permite olhar para o primeiro passo a dar: cuidar da formação de todos no Povo de Deus em sinodalidade missionária».
No número subsequente explica-se o método usado para o percurso feito pelo mesmo documento: «a elaboração do Documento Final é guiada pelos relatos evangélicos da Ressurreição. A corrida ao túmulo na madrugada de Páscoa, a aparição do Ressuscitado no Cenáculo e na margem do lago inspiraram o nosso discernimento e alimentaram o nosso diálogo… Com este documento, a Assembleia reconhece e testemunha que a sinodalidade, uma dimensão constitutiva da Igreja, já faz parte da experiência de muitas das nossas comunidades. Ao mesmo tempo, sugere caminhos a seguir, práticas a implementar, horizontes a explorar. O Santo Padre, que convocou a Igreja em Sínodo, dirá às Igrejas, confiadas ao cuidado pastoral dos Bispos, como prosseguir o nosso caminho apoiado na esperança que “não engana” (Rm 5,5)».
= Traçadas estas linhas gerais precisamos de encetar o difícil e quase-complexo processo de receção do mesmo, atendendo à participação de todos os fiéis – nessa linguagem do Código de Direito Canónico (cânone 204 § 1) – que inclui nesta terminologia todos os batizados, sem os classificar por vocações ou por ministérios, na sua diversidade e/ou complementaridade.
= Embora a terminologia ‘sinodalidade’ continue a deixar alguns setores da Igreja na reserva, ela já fez caminho suficiente para que não nos interroguemos todos – clérigos e leigos, bem como religiosos – sobre a nossa tarefa que nos compete por direito próprio e não por exclusão de nada e muito menos de ninguém…
= O que é a espiritualidade sinodal? «A sinodalidade é, antes de mais, uma disposição espiritual que permeia a vida quotidiana dos batizados e todos os aspetos da missão da Igreja. Uma espiritualidade sinodal nasce da ação do Espírito Santo e requer a escuta da Palavra de Deus, a contemplação, o silêncio e a conversão do coração… Uma espiritualidade sinodal exige também ascese, humildade, paciência e disponibilidade para perdoar e ser perdoado. Acolhe com gratidão e humildade a variedade de dons e tarefas distribuídos pelo Espírito Santo para o serviço do único Senhor (cf. 1 Cor 12, 4-5)…Ninguém pode percorrer sozinho um caminho de espiritualidade autêntica. Precisamos de acompanhamento e apoio, incluindo a formação e a direção espiritual, como indivíduos e como comunidade» (‘Documento final’, n.º 43).
António Sílvio Couto
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