Por estes dias circulou nas (ditas) redes sociais um vídeo de uma rapariga cantando e tendo gestos de representação ao pé do altar e do sacrário de uma igreja na Covilhã. Para além da atuação quase descontrolada da ‘artista’ era audível ainda uma espécie de chacota com a letra de um refrão sálmico: ‘Senhor, Senhor, tu tens palavras de vida eterna’… A duração do episódio foi curta, mas deixou marcas aos mais atentos e alertados.
1. Embora ela seja já useira e vezeira neste tipo de provocações, desta vez deixou transparecer que, para além do desrespeito para com a fé dos outros – neste caso católicos, mas o que seria se fossem outras expressões religiosas? – pareceu não olhar a meios para atingir os seus fins, isto é, criar escândalo e com isso tentar ser conhecida e – como dizem no meio digital – seguida. A rapariga sofre de alguma lacuna psicológica e vai andando ao sabor desse critério tão normal quão vulgar: quanto pior melhor. Outros seguem-no nas áreas sociais, esta ‘artista’ da sua vulgaridade promove-se sem nexo nem pejo…
2. Se pararmos um pouco para analisarmos e avaliarmos o modo como muitas pessoas participam nas celebrações religiosas – sobretudo as de incidência social, batizados e casamentos, bem como outros momentos que implicam entrar e estar na igreja – podemos perceber que muitas pessoas não tem o mínimo de educação nem reparação adequadas aos atos e ao lugar: quantas vezes os trajes – tanto femininos como masculinos – seriam apropriados para outros ambientes, mas na igreja não colhem nem têm sentido. Por vezes faz-se mais imitação de cenas de filme ou de telenovela do que se atende às cerimónias religiosas. Em muitos casos tornar-se-ia conveniente chamar a atenção, mas isso seria dar importância a quem não tem bom senso nem sentido de respeito por si mesmo nem pelos outros…
3. Já estive em lugares de veraneio e com que banalidade víamos pessoas vestirem-se – mais seria correto dizer despirem-se – como se fossem para a praia, desde os mais simples pormenores até aos adereços menos corretos. Situações houve em que referi o exemplo de como reagiram as pessoas se me vissem com trajes litúrgicos na praia, considerariam, certamente, que estava fora do lugar e do modo de vestir. Com efeito, uma das formas mais fáceis de alertar para a anormalidade pode ser pela ridicularização.
4. Vivemos num tempo e num mundo onde uns tantos gostam de dizer e de fazer o que lhe dá gosto e, como referem, à sua maneira, mas não está proporcional a assunção de responsabilidade quanto aos seus atos, sobretudo aqueles que podem destoar da normalidade e do senso comum. Com bastante frequência encontramos pessoas que aduzem a ‘liberdade de expressão’ para saírem fora da caixa, mas se esquecem de assumir as consequências dos seus atos, por vezes, ofensivos até da liberdade alheia. A reciprocidade quanto àquilo que pode manifestar a maturidade das pessoas nem sempre é visto, entendido e atendido convenientemente.
5. Quem não se lembra do ‘ano internacional da tolerância’ em 1995? Desde então para cá esta palavra simples e acolhedora tornou-se mais sensível na conduta social. Desde 1996 que o dia 16 de novembro é considerado o ‘dia internacional da tolerância’, onde se prevê e se preconiza o respeito e a valorização da variedade de culturas, de formas de expressão e de maneiras do ser humano. Na promoção deste ‘dia da tolerância’ considera-se que se deve combater os discursos e as atitudes que podem conduzir ao medo e à exclusão. Segundo ainda a proposta deste ‘dia da tolerância’ a diversidade de religiões, de línguas, de culturas e de etnias no mundo não pode ser um pretexto para o conflito, mas uma oportunidade de enriquecimento de todos. Será?
6. Pena seja que a tolerância não se verifique nas partes de diálogo e não só na imposição unívoca de uma delas. Se queres ser respeitado, respeita quem seja diferente de ti, a começar nas pequenas coisas diárias…
António Sílvio Couto
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