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segunda-feira, 4 de março de 2024

Manipulação dos comentadores

 

Num tempo que se pretende de esclarecimento temos estado a assistir à prossecução sistemática da aposta dos canais televisivos em discussões sobre a prestação dos entrevistados/debates... estes tinham cerca de trinta minutos, as comentarices dispunham de horas a fio, nos mais diversos canais e sob multíplices leituras. Na maior parte dos casos os comentadores/as escarafunchavam ideias e conjeturas que não passavam pelas palavras dos entrevistados, mas que eles esmiuçavam nas entrelinhas...

1. Uma nova classe ‘política’ parece emergir destes comentadores, sobretudo televisivos, pois boa parte não se exime de mostrar as suas preferências e de acentuar quem mais lhe convém defender ou promover. Alguns com mais habilidades que outros tentam disfarçar que sangue ideológico lhes corre nas veias, outros bastará escutar com atenção os seus posicionamentos contra os que menos lhes agradam para facilmente compreendermos para onde corre o rio da sua simpatia.

2. Desgraçadamente a maior parte desses debates e subsequentes comentários ocorrem nos canais não-abertos, isto é, precisamos de pagar, para além da taxa geral exigida na conta da eletricidade, para sermos esclarecidos com algum cuidado. Em geral as longas horas gastas a dissecar as respostas dos entrevistados em debate ou na intervenção de campanha usam de iniciáticos truques de comunicação: as (pretensas) opiniões dos opinadores arranjam contrários para que pareça que há diferença de perspetiva, mas isso não passa de uma habilidade dos canais de comunicação com objetivos económicos subjacentes... Veja-se o razoável tempo de publicidade que acompanha tais espaços.

3. Mais uma vez se tem pretendido criar um ambiente de dramaticidade nestas eleições, servindo os ditos comentadores/as de aríetes dessa argumentação. Com efeito, haverá vida depois destas eleições, ganhe quem vencer, governe quem ganhar ou consiga criar condições para tal, que nada de novo acontecerá que já não tenha sido visto, nem sequer a repetição - direta ou simulada - da solução de 2015. Por isso, é escusado clamar aos quatro ventos que estas eleições são de fulcral importância. Têm o seu valor, mas nada será de vida ou de morte!

4. Nota-se que os temas em difusão, parecendo que estão em discussão - saúde, educação, habitação, impostos, ordenados e reformas - deixam muito a desejar, não só pela tacanhez de visão como pela afunilação de matérias. Pior ainda quando se continua a passar razoável parte do tempo em ataques dos candidatos, na maior parte das vezes colocando as coisas mais em matérias de caráter do que na discussão das temáticas. Temos andado mais a fixar-nos no acessório do que no essencial. Ora, isso deixará resultados pouco abonatórios de todos e para todos.

5. Como noutras ocasiões vê-se o estrebuchar de algumas forças que pretendem ganhar na rua, por entre protestos e arruaças, aquilo que não tem expressão na contagem final. De certos grupos fica-nos o registo, da convicção com que se exprimem, embora nem sempre na aceitação popular. Nos painéis de comentadores televisivos por lá deambulam uns tantos que vão ganhando os seus proventos por entre os dislates que deixam sair. Pena seja que não possam ser sufragados, embora possamos tirá-los da tela com o comando em riste.

6. Urge saber pensar pela própria cabeça, sem medo nem subterfúgios oportunistas... Afinal, cada um só tem um voto para escolher quem acha que pode concretizar as suas opções.




António Sílvio Couto

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