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sábado, 9 de março de 2024

Eleições em tempo da Quaresma

 

A vivência da Quaresma deste ano está marcada pelo chamamento a votar nas eleições legislativas antecipadas. Desde o princípio de novembro - com a demissão do chefe de governo - que temos estado em ambiente de campanha eleitoral, mas nos últimos dias vivemo-lo com maior intensidade.

Que relação, de fundo, podemos estabelecer entre estas duas realidades, por agora coexistentes? Ambas nos chamam a refletir com maior atenção não quanto ao presente, mas sobretudo quanto ao futuro, Se a quaresma contém o apelo à conversão, as eleições comportam desafios e tomadas de decisão de todos e para cada um.
Olhemos, mesmo que de forma breve, algumas das incidências em vivermos a quaresma com atenção e as eleições com resolução, tendo por referência a Nota pastoral do conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesas, de 20 de fevereiro último, intitulada: ‘Eleições Legislativas 2024: Restituir a esperança aos cidadãos’.

a) Assuntos mais prementes
«Os últimos meses foram abundantes em crises que adensaram a desconfiança dos portugueses em relação às instituições, em particular na esfera política e judicial. Às difíceis condições de vida de tantos portugueses, em especial dos jovens, esta crise de confiança rouba a esperança a tantos que não conseguem encontrar trabalho e, quando o encontram, o seu rendimento é insuficiente para terem uma vida digna: ter habitação, acesso à educação ou dinheiro para pagar as despesas. Vivemos um momento difícil, mas desafiador. Diante das dificuldades, somos convocados pelo momento que o país vive a refletir sobre o que queremos e podemos fazer pelo nosso futuro» (n.º 2).
Tivemos tempo para refletir sobre estes assuntos ou andamos distraídos com ‘acusações’ pouco edificantes de uns contra os outros? Não teremos sido manipulados com certos temas, deixando de fora outros mais essenciais?

b) Responsabilidades
«A responsabilidade é de todos, dos políticos e de quem os elege, dos que definem projetos e de quem faz escolhas, daqueles que apresentam propostas e de quem se preocupa em delas ter conhecimento para votar conscientemente. Escolher quem nos representa no Parlamento é um dever de todos e ninguém deve excluir-se deste momento privilegiado para colaborar na construção do bem comum. A abstenção não pode ter a palavra maioritária nas [próximas] eleições» (n. 5).
Quando, há mais de cem anos, Nossa Senhora se manifestou, em Fátima, disse-nos: não ofendam Deus nosso Senhor que já está muito ofendido! Já tomámos consciência do acrescento de ofensa a Deus nos nossos dias?

c) Compromissos
«Enquanto cristãos, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja, temos a responsabilidade acrescida de participar na vida política e na edificação da comunidade. Somos chamados também a trazer à nossa oração todos os homens e mulheres que servem a política. Votar, de forma esclarecida e em consciência, é uma responsabilidade que decorre da vivência concreta da nossa fé no meio do mundo» (n.º 7).
Ser cristão - católico ainda mais - exige atenção aos outros e, sobretudo, aos mais frágeis. Que esperamos de cultivo de mais valores humanos daqueles em quem vamos dar o voto?

Queira Deus que a esperança seja revigorada nas consequências destas eleições.



António Sílvio Couto

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