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domingo, 5 de janeiro de 2020

Todos (acham que) têm um preço


As notícias sobre a compra-venda de jogadores tem sido habitual, sobretudo, na área do futebol, atingindo preços exorbitantemente escandalosos. Quem acompanhe, mesmo que ao-de-leve, estes assuntos do futebol saberá que o valor dos jogadores se mede da frente para trás, isto é, um avançado (de quem se espera golos e vitórias) vale mais do que um centrocampista ou um defesa e imensamente menos é valorizado o guarda-redes…como se o goleiro não dependesse dos outros para marcar…
Ora este espetáculo especulativo chegou a outros campos de atividade, tais como o jornalismo, a televisão, a representação em telenovela e mesmo o (pretenso) entretenimento…dito cultural. Assim temos visto figuras a trocarem de estação à cobrança de maior salário do que aquele – já substancial – auferiam.
A mais recente transferência – que, no fundo, é uma reincidência – foi protagonizada por um dos ‘velhos’ gatos com mau cheiro…este não tem nada a ver com odores, mas antes pelas impertinências – captadas por uns tantos iluminados – da jocosidade transversal. Embora de unhas enferrujadas ou em forma de fazer cócegas, trocou um canal privado (em vias de ser vendido) por outro que se considera em reformulação… acrescentando-se a outras trocas também milionárias, no passado não-muito longínquo.
Dizem que os números envolvidos que a mudança pode atingir cinquenta mil euros por mês ao agora trânsfuga regressado…Verdade ou mentira? Suposição ou embuste? Lenda ou revelação? Manipulação ou engano? Provocação ou falta de senso?
A fazermos fé nos números anunciados aquele montante será mais pago, essencialmente, pelos telespectadores mais do que pela qualidade do produto que possa ser apresentado. Com efeito, as ditas audiometrias, permitem aos grupos económicos, que gerem os contratos de publicidade, somar mais ou menos em conformidade com o número de telespectadores que acedem aos meios de comunicação em causa. Assim se muitos virem os programas do pretenso humorista/comunicador os custos/ganhos serão maiores para quem quiser inserir spots publicitários no horário de emissão… Será uma questão de números mais ou menos manipuláveis.

= Tendo em conta o tecido económico-social do nosso país parece que, casos como o que temos estado a analisar, conferem à nossa conduta coletiva uma espécie de anomalia mais ou menos escandalosa, na medida em que vemos sujeitos a serem pagos num mês o montante que uma fatia significativa da população não consegue auferir ao longo de um ano. Será isto moralmente aceitável? Não andaremos a construir uma sociedade em estratos de classes à custa da exploração da ignorância? O desequilíbrio entre os fatores não virá a tornar-se potencial de conflitos? Com que direito uns tantos se arrogam na presunção de importância que meros fatores secundários lhes conferem circunstancialmente? Será desta forma abusiva que iremos criar uma sociedade mais justa e acertada nos deveres e nos direitos? 
= Noutra perspetiva se pode ainda considerar que há muita gente – bem mais do que seria desejável – que tem sobre si mesma uma exagerada noção ou um conceito que só o seu ego idolatrado alberga. Tenho encontrado pessoas que lutam em excesso por serem apreciadas, confundindo os dons/qualidades que têm com a presunção de serem aquilo que os outros não lhe reconhecem. Esta ‘doença’ é bem mais vulgar do que se possa julgar e vai criando em muitos círculos de relacionamento focos de problemas senão mesmo de conflitualidade. Se aliarmos isto às pretensões que tantos/as manifestam poderemos entrar numa espiral de arrogância, bem mais visível do que seria desejável…
Quantos mentores e executores da política, na vida eclesial, nas áreas profissionais, nas autarquias ou nas instâncias de governo e partidárias acham que têm um preço, mas o seu valor é bem menor do que creem e mais mínimo do que pelo modo como se fazem pagar… A verdade seria a melhor conselheira de tanta dessa gente que está na vida pública, assim todos nos ajudássemos e fossemos ajudados…leal e sinceramente!  

António Sílvio Couto

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