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quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Possível conexão entre Davos e Albufeira…


Coincidiram no tempo duas iniciativas onde esteve subjacente o mesmo tema: a ecologia no complexo da economia… nos nossos tempos. Em Davos (Suíça) decorreu, de 21 a 24 deste mês, a 50.ª sessão deste meeting internacional de grandes capitalistas mundiais. Por seu turno, em Albufeira, realizaram-se, de 20 a 23 também deste mês, as jornadas de formação do clero das quatro dioceses ao sul do Tejo. Neste evento o tema andou em volta da ‘ecologia integral: o homem no centro da criação’, enquanto a cimeira internacional teve como referências também aspetos relacionados com a crise climatérica e questões de economia.
Cerca de dois mil quilómetros de distância geográfica fazem-se próximos pela afinidade temática, num tempo em que as questões ambientais devem ser inseridas numa visão de ‘desenvolvimento humano integral’, como referiu Niccola Riccardi, um professor franciscano, subsecretário do dicastério do Vaticano para o serviço integral para o desenvolvimento humano. Este académico italiano substituiu o cardeal Peter Turkson (perfeito do dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral), que foi representar a Santa Sé no meeting de Davos, onde proferiu uma intervenção do Papa Francisco nas bodas de ouro daquele convénio mundial dos ricos…Na sua mensagem o Papa realçou a dimensão ética na definição das relações internacionais, salientando que “somos todos membros de uma família humana. A obrigação moral de cuidarmos uns dos outros decorre desse facto, assim como do princípio relacionado de colocar a pessoa humana, e não a mera busca de poder ou lucro, no centro das políticas públicas”.

= Feita esta aproximação no tempo e na temática poderemos encontrar algumas vertentes apresentadas nas jornadas de atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal, num total de quase cento e vinte participantes.

Fazemos um breve respigo dos diversos palestrantes:

* Cada europeu consome por ano uma média de dezasseis toneladas de materiais e cria seis toneladas de resíduos (Francisco Ferreira);

* É um erro ser reduzido o conceito de desenvolvimento ao de crescimento económico…Será crescimento de todos ou de uma parte e qual será o preço deste crescimento sobre o ambiente. A Igreja guarda um pensamento sobre o bem comum, onde bem-estar é muito mais do que estar bem. Precisamos de ter uma visão unitária do relacionamento com as pessoas e o mundo. Verifica-se ainda o erro de uma espiritualidade separada da história e da criação. Com efeito, na união entre a história e o exercido da ‘guarda do jardim’ se encontra a realização do desenvolvimento sustentável (Niccola Riccardi);

* Trazemos impresso em nós o selo de Deus. Através do ‘critério de dependência’ podemos perceber que ninguém deu a vida a si mesmo e ninguém é dono de si mesmo. Duas palavras resumem esta visão: silêncio e repouso – silêncio envolve o mistério da criação e da redenção; repouso – expressão que leva à alegria e à misericórdia (Rino Fisichella);

* Vivemos um novo paradigma mais relacional, num outro tipo de sociedade: comunicação interativa. Como podemos, então, entrar nesse paradigma relacional? Tendo o sacramento da reconciliação por referência podemos compreendê-lo nessa relação com Deus, com os outros e com a natureza. O pecado será transgressão à lei ou como dimensão relacional? Sou amado, logo existo! (Martin Carbajo);

* A beleza da criação permite o conhecimento de Deus. Conexão entre ecologia e ética, formação da consciência, crítica pelas formas de individualismo, exigindo e sendo consequência da conversão ecológica, em ordem à vivência de uma autêntica espiritualidade ecológica (Rino Fisichella);

* Prevalece o mais adaptado e o mais altruísta. Informar a curiosidade exige muitas escalas de tempo – dos 10 anos aos 100 mil anos. É preciso distinguir entre o destinado e o planeado. O futuro é um passado abrindo outra porta (F. Carvalho Rodrigues);

* Deve falar-se de normas de proteção dos animais mais do que de direitos dos animais, pois os direitos implicam capacidade de liberdade, deve-se, portanto, terem conta a dignidade sobre a qual se alicerçam so direitos humanos (Pedro Vaz Patto).

Apesar dos milhares de quilómetros e dos campos de intervenção o que se passou em Davos e em Albufeira foram breves pinceladas para a salvaguarda da nossa casa-comum. Deus merece, a natureza e os outros!

   

António Sílvio Couto



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