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sábado, 20 de abril de 2019

Incêndio de Notre-Dame…cumpre profecias de La Salette?


 
Por ocasião do recente incêndio na catedral de Notre-Dame, em Paris, circulou na internet uma estampa, de 1956, em que era apresentada, ao estilo do tempo, uma pintura do Sagrado Coração de Jesus, tendo nos cantos superiores do mesmo a representação de algo parecido com a catedral de Paris e a catedral de São Pedro, no Vaticano, ambas em chamas…

Tal figuração seria alusiva às ‘profecias’ dadas pelos videntes Maximin e Mélanie, na manifestação de Nossa Senhora em La Salette…uma povoação nos alpes franceses. Com efeito, percorridas as ‘profecias’, do final do século dezanove, aí se referia que, um dia, Notre-Dame e o Vaticano seriam consumidas pelas chamas… Para além de alguns castigos de efeito mais ou menos imediato nos campos e na saúde das populações, as ‘profecias’ de La Salette são algo tenebrosas não só pelas consequências, mas em razão das causas. Pior: muitas destas continuam ativas e atuais, podendo ser remanso para extremistas tanto religiosos, como sociopolíticos… estenderem as suas garras, conjeturas e suposições.

Mas será que o incêndio da catedral de Notre-Dame pode ser lido como o cumprimento de alguma das ‘profecias’ de La Salette? Poderemos querer confirmação de algo que poderá ser mais do que um mero acidente? Até que ponto mais de cento e cinquenta depois poderemos ver, neste incêndio, o cumprimento de tais ‘profecias’? Será correto, histórica e sensatamente, atribuir algum nexo de causa-efeito, entre as ‘profecias’ de La Salette e o trágico incêndio de abril de 2019?

Se, porventura, dermos crédito a tais ‘profecias’ teremos de, agora, esperar que as chamas atinjam a catedral de São Pedro, no Vaticano, corroborando a interpretação de que o ‘mal’ tomara posse do governo da Igreja católica. Será isto sério, sensato e aceitável? Teremos de andar a escarafunchar os meandros da Santa Sé para confirmar tais teorias da conspiração? Será tudo isso justo, correto e honesto?

Dá a impressão de que, quanto mais caminhamos na senda de nos sentirmos participantes da história deste mundo, mais surgem uns certos ‘intelectuais’ e uns tantos ‘devocionistas’ a puxarem para trás, isto é, confundirem os outros, dado que eles mesmos estão confusos, baralhados e saudosistas em terem as pessoas presas pelo medo e não pela capacidade de lerem, interpretarem e viverem de forma livre, consciente e responsável… 

= Mutatis mutandis: a quem interessa continuar a insistir na ‘missa tradicional’ se vamos perdendo clientela na missa do Vaticano II? A quem interessam certas roupagens, para além do espavento de tempos idos e de ideias em paragem no cortejo da vida? Não se andará em excesso a encadernar gente, que precisava de sujar mais as mãos e não de as ter limpas de não fazerem nada?

De facto, o recrudescimento de muitas das devoções, nos nossos dias, manifesta uma crise profunda de identidade, tanto de quem as promove, como de tantos outros que nelas se refugiam, tentando salvar a sua ‘alminha’, mas pouco se importando com atanazar os demais com recursos de pouca valorização humana, emocional e espiritual.

Pior: muitas dessas devoções têm de ser alimentadas com proventos económicos nem sempre claros e tão-pouco aceitáveis. Há casos em que pessoas de parcos recursos passam mal só porque se acham na obrigação de corresponderem ao fluxo de ‘convites’, anúncios e produtos perfeitamente escusados para quem queira ser cristão normal e não deseje pertencer a qualquer grupo ou tendência mais ou menos exotérica… em uso. É um abuso e violência da consciência tanta coisa que faz por aí, explorando a ignorância das pessoas de boa fé ou em estado de debilidade não recomendável para não respeitar…condignamente.  

= A Páscoa tem de trazer novas formas de viver a fé, despindo-a de folclores que já não refletem a vivência que certos ritos pretendiam propor. Será numa Páscoa que celebra a Vida e que faz dessa celebração um nexo de compromisso que haveremos de deixar que o lume novo consuma o que de velho há em cada um de nós. Precisamos de nos deixarmos espantar com a novidade da Páscoa de Jesus, deixando os pingarelhos das nossas certezas no túmulo do sepultamento de Jesus. Precisamos de sair homens/mulheres novos pela dinâmica da Páscoa da Ressurreição…

  

António Sílvio Couto

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