Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 8 de abril de 2019

Haverá (ou não) riscos de islamização da Europa?


Talvez seja uma inquietação dos europeus: já não corrermos o risco de vir a ser criado o ‘grande califado’, como ameaçou o autodenominado ‘estado islâmico’? Com as nossas teorias de abertura e boa convivência, estamos a salvo de tais pretensões de muçulmanos mais exagerados ou fundamentalistas? Por quanto tempo poderemos usufruir da possibilidade de viver festas religiosas cristãs/católicas com a indiferença religiosa crescente deste mundo ocidental? Tanto quanto é percetível entender os ditos valores da democracia não correm perigo, se continuarmos a dormir e a amolecer na vigilância sociocultural?
Quem não se recorda dos tumultos, por vezes graves, que ocorreram após a intervenção do Papa Bento XVI, na universidade de Ratibona, em agosto de 2005? Quem esteve interessado em esticar as más interpretações daquilo que foi dito, de facto e não tirado do contexto do discurso? Até que ponto os muçulmanos são tão ‘intocáveis’ e fazem temer o (dito) ‘mundo ocidental’?
Entretanto, as mais recentes viagens do Papa Francisco a países de incidência muçulmana têm algum significado nesta abordagem à possível islamização da Europa? Como poderemos interpretar factos, palavras, sinais e atitudes do Papa nesta leitura sobre a (possível) islamização da Europa?
Na exortação apostólica ‘Evangelii gaudium’ (Alegria do Evangelho) sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, o Papa Francisco refere-se ao diálogo dos católicos com o islão – n.os 250-254 – dos quais vamos respigar algumas ideias.
* Partindo de ‘uma abertura à verdade’ para que possa haver diálogo inter-religioso, o Papa considera que ‘este diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo e, por conseguinte, é um dever para os cristãos e também para outras comunidades religiosas… Um diálogo, no qual se procurem a paz e a justiça social, é em si mesmo, para além do aspeto meramente pragmático, um compromisso ético que cria novas condições sociais’ (n.º 250).
* Uma condição essencial a ter em conta, nesta tarefa do diálogo inter-religioso, é cada um ser o que é e saber respeitar o outro na sua identidade. Segundo o Papa, ‘nunca se deve descuidar o vínculo essencial entre diálogo e anúncio, que leva a Igreja a manter e intensificar as relações com os não-cristãos… A verdadeira abertura implica conservar-se firme nas próprias convicções mais profundas, com uma identidade clara e feliz, mas «disponível para compreender as do outro» e «sabendo que o diálogo pode enriquecer a ambos»…Longe de se contraporem, a evangelização e o diálogo inter-religioso apoiam-se e alimentam-se reciprocamente’ (n.º 251).
* Fazendo um breve enquadramento da presença dos muçulmanos em muitos países de tradição cristã, onde eles têm liberdade de culto – coisa que os cristãos/católicos não têm nos países de cultura islâmica – e muitos deles estão integrados na sociedade, o Papa tenta encontrar pontos de convergência com a fé do islão (n.º 252), traçando depois linhas de condutas. De entre essas linhas, o Papa Francisco refere-se à ‘adequada formação dos interlocutores, não só para que estejam sólida e jubilosamente radicados na sua identidade, mas também para que sejam capazes de reconhecer os valores dos outros, compreender as preocupações que subjazem às suas reivindicações e fazer aparecer as convicções comuns’ (n.º 253). De entre os diversos riscos, o Papa salienta o do fundamentalismo violento, auspiciando que haja bom acolhimento aos cristãos nos países de expressão muçulmana.
Talvez precisemos de não confundir os contatos e as boas intenções dos responsáveis, mas na vertente popular nem sempre será tudo tão arejado como se apresenta quando a liberdade religiosa é (ou não) respeitada! Ainda falta uma purificação da memória de tantos séculos de acusações e de desconfianças! Será preciso respeitar o sangue de milhares (ou talvez de milhões) de mártires cristãos (católicos e/ou protestantes) ainda hoje feitos em tantos dos países muçulmanos!
Ao Ocidente insípido, anódino ou agnóstico isto diz alguma coisa ou provocará mais desdém pelo fenómeno religioso, tenha a expressão que tiver? Os nossos antepassados merecem mais respeito!

Em tempo de quase-semana santa poderá ser útil não esquecer os milhões de cristãos – das várias denominações e nos diversas latitudes, a começar pela Terra Santa – que não têm condições mínimas para celebrar com dignidade a sua fé em Cristo Jesus!

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário