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terça-feira, 9 de abril de 2019

Como ‘ser a voz dos sem voz’, hoje?


Está prestes a completar cem anos de existência, o jornal ‘Diário do Minho’, com sede em Braga.

Para além de se dizer, no estatuto de editorial, que é um jornal de ‘informação geral, de expansão regional e de inspiração cristã’, apresenta-se como ‘a voz dos sem voz’, não privilegiando ‘interesses particulares’ nem ninguém, rejeitando os totalitarismos (de direita ou de esquerda), mas estando ‘ao serviço de todo o homem e do homem todo’, construindo ‘uma sociedade cada vez mais justa e mais fraterna’ e opondo-se, pelos seus princípios, a ‘tudo quanto se opõe à vida humana’.

As circunstâncias do seu surgimento, 1919, eram assaz conturbadas…tanto dentro como fora das fronteiras. Em Portugal recuperava-se do assassínio de Sidónio Pais, lutava-se contra a gripe pneumónica…que vitimou, nalgumas regiões, dez por cento da população, num total de 60 mil do nosso país. Na esfera internacional davam-se passos para a consolidação da paz, no final da primeira guerra mundial, com o ‘tratado de Versallhes’. Ao nível da Igreja católica era Papa, Bento XV, que, em novembro desse ano, escreveu, entre outros documentos, a carta apostólica ‘Maximum illud’ sobre a atividade desenvolvida pelos missionários no mundo. Ao tempo era arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos, considerado um grande resistente à lei da separação na primeira república…e introdutor no escutismo no nosso país.

Feito este enquadramento histórico-social-eclesial talvez possa ser útil reporta-nos a algumas das linhas daquele diário de inspiração cristã.

* Rejeitando interesses particulares e totalitários

Este jornal sobreviveu a três repúblicas – a primeira em cujo contexto surgiu; a segunda sob a tutela salazarista; a terceira – pós revolucionária…em vias da pretensa democracia. Uma obra não se mede pela popularidade conseguida, mas pela atitude de caminhar rumo à meta, fazendo das etapas, isso mesmo, degraus que fazem crescer e não os meros lucros a que se deixa enfeudar sem saída… 

* Em defesa da vida

Neste aspeto o jornal define, no seu estatuto de editorial, quais são os campos em que se compromete a lutar pela vida: na sua expressão mais simples e direta – ‘homicídio, genocídio, pena de morte, aborto, eutanásia e suicídio voluntário’; naquilo que pode ser entendido como ofensa indireta – ‘tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências’; os aspetos atinentes à dignidade humana – ‘tudo quanto ofende a dignidade da pessoa, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o tráfico de mulheres e jovens’; e ainda as vertentes sócio-laborais – ‘as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis’.

De quantas formas este diário tem denunciado, anunciado e proposto este valor inquestionável da vida humana. Em certos momentos – sobretudo na fase dita da democracia – houve tensões, provocações e momentos em que os valores cristãos foram atacados, ofendidos e menosprezados, mas o bom senso e a correção voltaram a fazer caminho… Uns exemplares a menos vendidos não valem a subversão do essencial!   

* Ser a voz dos sem voz

Parece-me que este aspeto continua a ser um dos mais relevantes da linha editorial, Com efeito, quando tantos se querem fazer ouvir, pelas mais díspares (nalguns casos disparatadas) formas, ser a ‘voz dos sem voz’ é (e continua a ser) um objetivo cada vez mais audaz, pertinente e urgente.

Nem todas as notícias dadas são as mais importantes, algumas ignoradas deviam ter espaço, comentário e análise. Quando tantos se acham no direito de fazerem parte das notícias, será essencial que os profissionais não se demitam nem usem de menos boa conduta, só porque uns tantos se colocam em bicos de pés sem outra intenção de serem figurantes de um episódio de classe inferior…até nas coisas da Igreja.

‘Os sem voz’ precisam de ser atendidos, acolhidos e apresentados na chamada à primeira página, pois eles são o reflexo dos anónimos, dos votantes, dos cidadãos, dos crentes…com dignidade de filhos de Deus!

 

António Sílvio Couto

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