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segunda-feira, 26 de março de 2018

‘Encenação’ da limpeza das matas & afins


As imagens eram quase ridículas: o PR e o PM andavam a fazer-de-conta que limpavam terrenos em volta das casas… as roupas/indumentária não condizia com o terreno que pisavam e esqueceram-se de colocar no guião que era para tirar a gravata e nem calçado não condizia com o terreno que pisavam… pareciam dois ‘patos bravos’ (com os respetivos acompanhantes) a tentar chafurdar em águas fora-de-pé…

Dos desafiados a entrarem na dança só uns poucos, que nem tinham a categoria de tantos…embora o cenário tenha sido aprimorado para as televisões, excluindo os que não eram da mesma cor ou sem simpatia pela façanha. Com efeito, onde estiveram os deputados da maioria da geringonça? Não quiseram fazer parte do espetáculo ou não concordaram com mais este número quase-circense? Para além dalguns ténues e parcos ministros, por onde andaram os secretários de estado: isso é tarefa menos válida para as suas funções?

Este ato foi, de facto e de verdade, uma ação de propaganda para algum citadino menos ruralizado engolir, mesmo que sob reserva. Por artes do quê tinham de ser mostrados (tantos) militares nesta ação? Foi para limpar as trapalhadas de Tancos e afins? Se isto era uma ação cívica, porque tiveram esses tais militares e outros intervenientes, dois dias de folga após o tempo de encenação? A quem pretendem enganar? Com tanta manipulação torna-se quase natural – se ainda tivermos tempo de reflexão – que se gere uma certa repulsa e veemente condenação pelo uso de bens do erário público em favor dos interesses privados/ideológicos/partidários… 

= Não deixa de ser sintomático que nos derradeiros fogos – já no mês de fevereiro – tenha sido notícia um concelho, que menos de duas semanas antes tinha sido apresentado como modelo do combate a incêndios. O autarca é da cor do governo e tem pretensões a ser alguém no espetro nacional, mas esta incongruência ainda lhe deixará espaço às suas pretensões? As imagens mostravam fogo em redor da autoestrada, enquanto a chuva que caía não conseguia suster o incêndio. O que falhou: as palavras ou os atos? Aquele espetáculo no Alto Minho revela muito daquilo a que temos vindo a assistir no nosso país: palavras um tanto sedutoras, mas contraditas na prática…boas intenções propagandeadas até à exaustão, mas desmentidas quando são avaliados a sério os acontecimentos! 

= E, de repente, o país começou a olhar para a floresta, a limpar os terrenos em volta das casas e, sobretudo, a dar consciência a uma imensa maioria de que o tema dos incêndios é mais sério do que se julga, trazendo para a praça pública o que antes não passava duma ruralidade mal-assumida! Isso será um tema essencial para a política de todos e não só dos que labutam no campo, dos que têm fortunas em árvores, mas que não passam dum património esquecido e envelhecido…

Como se costuma dizer na linguagem popular: mais vale uma mão inchada do que uma enxada na mão! Efetivamente muitos dos nossos responsáveis viveram, por ocasião do tal dia de limpeza das florestas, um tanto a preceito este trocadilho, na medida em que foram mais figurantes duma representação cénica do que participantes numa ação coletiva de bem-fazer…

Este episódio da limpeza das matas pode ser tomado como algo simbólico duma certa forma de fazer política à portuguesa: monta-se o espetáculo e depois tenta-se ver como resulta. Se não houver vozes discordantes, tal resultou em favor de quem se fez assim usar. Se se verificar alguma discordância encolhe-se o cantar de vitória, esperando outro tempo e talvez outra oportunidade – aproveitando as distrações com outros factos mais populares – para lançar novo recurso de propaganda e de intoxicação dos mais incautos ou crédulos…do sucesso em curso!

 

= Dá a impressão que precisamos de gente mais séria e leal na arte de estar ao serviço dos outros. Precisamos duma comunicação social mais exigente e crítica das manhas do poder. Precisamos de pessoas que pensem pela sua cabeça e não se deixem levar na onda do mais fácil e aparentemente convincente. Precisamos de não ter medo de incentivar que apareçam jovens mais atuantes segundo critérios duma ética do interesse dos outros em preferência aos seus egoísmos e facilidades…

 
António Sílvio Couto  



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