Há dias escutei – ouvi, refleti e propus-me vivenciar – esta expressão:
‘pecados de estimação’. Pensei que isso era só do foro interior, mas dei-me
conta que há também ‘pecados de estimação’ de âmbito social, político,
económico, público, na comunicação social, na cultura…
Se tivermos em conta esta expressão ‘de estimação’ vem-nos à memória o
tratamento de certas pessoas para com os seus animais de estimação, que, muitas
vezes, fazem como que parte da família e tornam-se até referência
afetivo-psicológica. É, pois, diante deste tipo de vivência que poderemos encontrar
algumas dessas incidências e implicações… mais ou menos conscientes e/ou
consciencializadas.
= No trato social há situações
em que os ‘pecados de estimação’ convivem com tolerâncias de natureza corrente,
tais como um certo manto de silêncio em volta do fenómeno desportivo, sobretudo
quando se atende, particularmente, à dimensão do futebol… muito se suspeita,
mas quase nada se denuncia e tão pouco corrige… e não está em causa qualquer
versão clubística.
= No campo político parece que
certos ‘pecados de estimação’ lançam diatribes contra os adversários, mas
esquecem-se os malabarismos dos adeptos… continuando a ser vivida uma espécie
de corrupção sem quartel, embora possa haver militantes que coadjuvam as
pretensões intentadas, sobretudo, em maré de campanha eleitoral ou de
aproximação ao poder…todos parecem sérios, mas falta prová-lo…de verdade.
= Nas tarefas económicas
(empresariais ou financeiras, privadas ou públicas) temos vivido sob uma
razoável caraterização de ‘pecados de estimação’, onde o economês se faz
linguagem exotérica para ludibriar os mais ambiciosos… Temos visto isso nas
crises recentes de várias entidades bancárias, onde só muito tarde se descobrem
os enganos… embora se pague a fatura de querer ser rico… mesmo sem grande
trabalho.
= No âmbito da comunicação social
vemos, por vezes, ‘pecados de estimação’, onde certos temas são tabus e outros
são recorrentes duma tolerância mais ou menos intolerante… onde o tema da vida
– sobretudo tendo em conta a visão cristã entre a conceção e a morte natural –
tem obstáculos de comunicação e de aceitação… suficiente. Luta-se pela
liberdade de expressão, mas parece que esta deve ter uma coloração, desde que se
possa atacar (nalguns casos é mesmo ofender) quem tenha fé ou se diga crente em
Deus…
= Na dimensão cultural, há
‘pecados de estimação’ onde cada vez mais se sente menos a possibilidade de a
pessoa humana ser o centro das questões éticas, veiculadas mais a partir de
conceitos de género do que da riqueza na diversidade pela complementaridade
entre homem e mulher… Nem mesmo a longevidade está isenta de preconceitos e até
se nota uma mudança de linguagem onde cada pessoa se tornou ‘cliente’ e não
alguém com rosto e identidade personalizada!
= Claro que não pretendemos entrar no
foro pessoal, onde os ‘pecados de estimação’ revestem a faceta de modo de
ser, de feitio ou de personalidade, de vícios legais ou legalizados, de formas
de comportamento ou de educação… corrigindo-se e deixando-se corrigir pelos
outros. Se permitíssemos que aqueles/as que vivem connosco fossem aferindo,
fraternalmente, os nossos ‘pecados de estimação’ talvez as nossas famílias, as
nossas paróquias/comunidades e igrejas, bem como a sociedade em geral
tornar-se-iam mais humanas porque mais fraternas, solidárias e cristãs, já.
Será quando formos capazes de discernir os nossos ‘pecados de estimação’
que algo irá mudar, seja pela conversão pessoal, seja nas consequências duns
para com os outros. Com efeito, precisamos de sair – como agora se diz – da
nossa zona de conforto e, tantas vezes, o pecado coloca-nos num certo conforto
ou mesmo comodismo e acomodação. Assim sejamos audazes e humildes…
António
Sílvio Couto
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