Na mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco aborda a temática
da globalização da indiferença… enquanto desafio de caminhada em três dimensões
tão próprias da essência do cristianismo, particularmente na manifestação do
catolicismo: a Igreja, as paróquias/comunidades e cada um dos fiéis.
Desde logo este tríptico de abordagem tem uma incidência trinitária e faz,
na perspetiva prática, com que vivamos centrados naquilo que pode e deve
manifestar a dinâmica de conversão tão específica do tempo quaresmal.
Subordinada ao tema – ‘Fortalecei os vossos corações’ – respigamos alguns
aspetos da mensagem papal e deixamos breves questões.
1. «A Igreja é communio sanctorum, não só
porque, nela, tomam parte os santos mas também porque é comunhão de coisas
santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo e todos os seus dons; e,
entre estes há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por
tal amor».
Nesta citação da mensagem do Papa podemos ver a força de comunhão que é a
Igreja e como, através dela, se deve manifestar a exigência da comunhão entre
todos os membros desta Igreja ‘santa dos pecadores’. Neste corpo que é a Igreja
não pode ter lugar ‘a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se
dos nossos corações’.
- Não será que, muitas vezes, na Igreja vivemos uma atroz indiferença para
com aqueles que celebram connosco a mesma fé e, particularmente, a eucaristia?
- Não precisaremos de desenvolver novos métodos de acolhimento – desde os serviços
até às celebrações – por forma a deixarmos de ser anónimos entre a multidão?
- Não será preciso cuidar mais dos gestos de fraternidade do que andarmos a
entreter-nos em campanhas de solidariedade?
2. «Cada comunidade cristã é chamada a
atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os
pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por natureza missionária, não fechada
em si mesma, mas enviada a todos os homens (…). Como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente
as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no
meio do mar da indiferença».
Esta nova etapa de reflexão papal obriga-nos a bater no próprio peito,
reconhecendo mais os nossos erros do que apontando as faltas alheias. Precisamos
de ultrapassar aquilo que o Papa designa de ‘fronteiras da Igreja visível’,
unindo à Igreja do Céu na oração e pelo paciente testemunho de que Deus não
condena ninguém e nós não o devemos fazer tão pouco.
- Queremos, nesta Quaresma, deixar vencer, em nós mesmos, ‘a indiferença, a
dureza do coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus’?
- Como poderemos manifestar a vitória da paz e da reconciliação, feita
vivência e sacramento de vida?
3. «Também como indivíduos temos a tentação da
indiferença. Estamos saturados de notícias e de imagens impressionantes que nos
relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a incapacidade de
intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror
e impotência?»
Diante desta pergunta, o Papa Francisco responde com três indicações:
- através da oração, concretamente com a jornada de oração de 13 e 14 de
março…na diocese de Setúbal vamos viver, em cada vigararia, as ’40 horas de
adoração ao SS.mo Sacramento’… para muitos será uma novidade, que esperamos
seja importante na caminhada celebrativa dos quarenta anos de Diocese;
- com gestos de caridade, tanto para quem vive perto de nós como mais ao
longe;
- pela comunhão no sofrimento do próximo, vivendo-o como apelo à conversão,
‘porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha
dependência de Deus e dos irmãos’.
Boa caminhada de Quaresma de coração aberto a Deus e aos outros e
reconciliados em Igreja!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
Sem comentários:
Enviar um comentário