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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Os que lutariam pela Pátria


Um inquérito recente – ‘se houvesse uma guerra que envolvesse o seu país, estaria disposto a lutar pelo seu país?’ – recebeu como resposta afirmativa: na Europa ocidental de 25% dos inquiridos e em Portugal a prontidão para lutar em defesa da pátria seria de 28%.

Vejamos, no entanto, respostas de outras latitudes: Médio Oriente e Norte de África – 77%; Ásia – 71%; África – 56%; Europa de Leste – 54%; América – 48%; Oceânia – 40%.

Poder-se-á fazer a leitura de que quanto melhor for o nível de vida (dentro de certos parâmetros culturais) e mais direitos, liberdades e garantias são dadas aos cidadãos parece que menos estão dispostos a lutar por eles…Nota-se ainda que fora dos esquemas europeus o conceito de Estado-Nação continua vivo e recomendável até para a sobrevivência dos mesmos.

Não deixa de ser ainda mais sintomático que na bacia do Mediterrâneo se encontram os extremos do empenho em lutar pela sua pátria – no Médio Oriente e Norte de África encontramos o mais alto e, em contrapartida, o mais baixo nível de patriotismo se situa na Europa Ocidental… com Portugal incluído. Parece que mais uma vez o ‘mare nostrum’ divide em vez de unir!

Algumas questões (leituras, inquietações e desafios) que poderemos colocar à nossa aparente quietude lusitana:

- Os três quartos dos portugueses não dispostos a lutar pela pátria não sentem que vale a pena ser português? A que se deve este desinteresse e acomodação? Que tem falhado na construção do nosso patriotismo?

- Não será que estamos muito empanturrados de coisas materiais e que nos faltam ideais de vida e de conquista?

- Não estaremos a viver num capitalismo coletivista, que usufrui de tudo e não luta por nada?

- Com o terminar do ‘serviço militar obrigatório’ não deixamos os mais novos sem referência à disciplina e sem espírito de companheirismo ou/de camaradagem? A quem foi conveniente tal decisão? Não estaremos a pagar já muito caro tal afronta à Pátria?

 Nada me move pelo espírito belicista nem tão pouco militarista, mas os dados sobre Portugal – só 28% estariam capazes de lutar pela defesa da Pátria – deve questionar todos, desde os educadores até aos políticos, passando pelos ‘fazedores-de-opinião’, a comunicação social, as igrejas, as instituições culturais e associações e coletividades… Afinal, é na aferição do interesse comum que está a ferida maior que tais dados denunciam. Com efeito, o egoísmo (pessoal ou de grupo), a indiferença aos outros, a rivalidade de direitos no esvaziamento dos deveres, na imposição da liberdade sem responsabilidade, no ‘safe quem puder’ mesmo que isso seja em meu favor… e tantos outros comportamentos revelam e são reveladores do estado de colapso a que fizemos chegar a nossa cultura ocidental.

- Egoísmo pessoal e de grupo – se é dos meus é bom, se pensa diferente é quase considerado inimigo. Uma boa parte das pessoas nada faz desinteressadamente. Em muitos casos as pessoas são usadas enquanto são úteis, depois tornam-se descartáveis… 

- Indiferença aos outros – com alguma normalidade temos sido empurrados para o conceito de pessoa-objeto, por vezes valendo mais a atenção aos animais do que aos humanos. Ora, uma sociedade será tanto mais humana quanto mais cuidar dos frágeis e fragilizados… Mas não é isso que vemos e tantas vezes cultivamos…

- Direitos e deveres nem sempre estão equilibrados, pois aqueles sobrepõem-se a estes e fazem com que os (ditos) ‘direitos adquiridos’ se tornem conquistas irreversíveis, mas em que tantas delas foram resultado de manipulações e de lutas de classe nem sempre corretas e sensatas… ontem como hoje.

- Liberdade e responsabilidade têm de ser dois pesos equilibrados, pois uma sem a outra revertem em ditadura senão conseguida ao menos na forma tentada… Nem tudo me é permitido fazer livremente, pois a minha liberdade poderá colidir com a dos outros e eles tem o mesmo direito de a usufruir como eu. Pela responsabilidade se mede a maturidade duma pessoa ou dum povo… e, pelo que temos visto e ouvido, ainda há muita gente imatura a governar – ou pelo menos em lugares de governo – neste país e nesta Europa ocidental.

  

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

1 comentário:

  1. Creio que muitos Europeus não lutariam pelo seu país porque já evoluiram civilizacionalmente o suficiente para chegarem à conclusão que a gerra não é a solução e porque despresam todas as acções que levem à morte de outros seres humanos. Que bom seria um mundo em que ninguém estivesse desposto a ir para a guerra.

    "Imagine there's no countries
    It isn't hard to do
    Nothing to kill or die for
    And no religion too
    Imagine all the people living life in peace "

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