Temos ouvido e nalguns casos vistos grupos de jovens ocidentais que se
deixam fascinar pelo jihadismo… essa força de combate de inspiração muçulmana,
que luta pela implantação dum ‘estado islâmico’ – por agora no próximo Oriente,
mas que pretende restaurar o grande califado na bacia do Mediterrâneo – com
implicações na Europa…
Para já têm cometido várias execuções de elementos de países ocidentais ou
que participam na contestação às suas pretensões… As notícias que nos chegam
são macabras, tendo em conta a agressividade e mesmo os critérios de chacina de
uns tantos contra outros (muitos deles cristãos) que não sejam nem aceitem as
obrigações em ‘converterem-se’ a ser muçulmano…
- Mas que faz com que tantos rapazes e raparigas – muitos na flor da idade
– de países ocidentais a integrem as fileiras das forças jihadistas?
- Donde são provenientes, dentro da cultura ocidental, esses recrutados/as?
Não são filhos de ricos?
- Como se explica, de forma razoável, que deixem tudo para se tornarem
executores/as de algo que nos repugna?
- Quantos/as serão esses/as que deixam os ‘confortos’ ocidentais e vão
lutar até à morte sua e a dos outros?
- Que se passa com os jovens ocidentais e americanos para serem tão
anódinos, incolores e acríticos?
= Sinais
Estas e outras questões me têm surgido até por comparação com a decisão de
outros rapazes e raparigas que partiram – usamos este tempo verbal com tristeza
e inquietação – em missão, levando a mensagem cristã a tantos outros povos, nações
e culturas… Lembramos São João de Brito e tantos/as que ainda hoje – podemos
vê-lo, sobretudo, nas revistas missionárias – partem em atitude de entrega e de
serviço a Jesus pela Igreja… ao menos durante algum tempo das suas vidas.
Não deixa de ser profético que o Papa Francisco tenha convocado o ‘ano da
vida consagrada’ neste contexto de fervor jihadista como que contrapondo a
dinâmica de jovens que entregam a vida por causas, lutas e ideais em contraste
com aquilo que se pode considerar um certo abaixamento de vocações religiosas…
Há congregações femininas que estão a fechar por falta de vocações… Não deixa
de ser sintomática ainda a mudança de alguns religiosos-padres para a vida
pastoral diocesana…
= Desafios
Escrevo esta pequena reflexão em dia de 4.ª feira de Cinzas… com a qual se
dá início à Quaresma. Ora, para muitos dos nossos concidadãos que significará a
‘quaresma’? Em tempos não muitos remotos, em França, fizeram um inquérito sobre
o que era e o que significava a ‘quaresma’… Para que fosse entendida a questão
tiveram de traduzir: é como se fosse o ‘ramadão cristão’. Com efeito, sobre o
carnaval quase todos sabem o que se faz, mas, possivelmente, nem sempre se sabe
a sua origem. Ora, o carnaval foi feito para a quaresma e não esta para aquele.
De facto, para que se vivesse em força a penitência quaresmal houve a
necessidade de abrir em folga num tempo anterior à quaresma. Hoje, no entanto,
vivemos a folga, mas não vivenciamos a penitência nem o espírito da mesma.
Oxalá – ‘queira Alá’ – conseguíssemos viver um pouco à semelhança dos
muçulmanos a força da Quaresma como eles vivem o Ramadão… Não é muito difícil
vermos pessoas que fazem dietas e regimes alimentares para emagrecer – pela
saúde ou pela estética – mas que regateiam um pouco de sacrifício espiritual,
psicológico e físico em ordem a um bom acolhimento da Palavra de Deus, dos
gestos de partilha e da comunhão com os que sofrem…só durante quarenta dias!
Estamos todos a precisar de um tempo de maior aflição – queixamo-nos da
‘crise’, mas as viagens e os lugares de diversão estão sempre cheios e são
caros! – em ordem a sermos educados na prevenção e na contenção dos exageros da
vida atual, bem como dos veludos e cetins com que nos acomodamos. A Quaresma é
já uma oportunidade. Vamos aproveitá-la?
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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