As declarações do Presidente da República geraram, por
estes dias, alguma controvérsia numa demarcação do caso português e das
pretensões dos gregos.
«Para além do empréstimo que fizemos à Grécia de cerca de
mil e 100 milhões de euros, Portugal tem vindo a transferir para a Grécia…
muitos milhões de euros que saem da bolsa dos contribuintes portugueses»,
rematando em jeito de conselho: ‘a solidariedade tem de vir ao lado da
responsabilidade’ por parte do governo grego recentemente eleito.
Perante estas declarações logo surgiram invetivas de
setores da (dita) esquerda, reclamando um responsável socialista que aquelas
‘declarações procuram humilhar o povo grego e o governo grego’… repisando que,
o PR procura ‘humilhar e desconsiderar países parceiros e amigos e os
respetivos governos’… Houve quem reagisse dizendo que aquelas declarações são
‘perigosas porque seguem alinhamentos populistas dos egoísmos nacionais’…
Nota-se que a Grécia faz fervilhar mentes eivadas de
preconceitos ideológicos… em Portugal. No entanto, nesta mistura de posições,
surgiram-me algumas questões, que passo a enumerar… mesmo sem hierarquia das
dúvidas e inquietações:
- Será crime de lesa-pátria o PR defender
prioritariamente os interesses (dos) portugueses?
- Não foi por desentendimento em elegerem o seu PR que os
gregos entraram nesta caixa de pandora?
- Por que será que temos sensação de que ser caloteiro
compensa… lá como por cá?
- A esquerda repudia o patriotismo ou serve-se dele
(sobretudo nos cartazes de propaganda) quando lhe dá jeito?
- Vamos deitar a perder os sacrifícios de três anos, em
Portugal, com solidariedades de conveniência?
- Será que o povo não tem memória para saber distinguir
quem o enganou, ontem como hoje?
- Perante certas mudanças de opinião – normalmente
colando-se aos vencedores – ainda haverá credibilidade para se apresentar com
um mínimo de creditação?
Neste como noutros casos – sociais, políticos,
económicos, culturais ou religiosos – as questões são, por vezes, tratadas mais
na linha ideológica do que numa compreensão racional (sem ser meramente
racionalista), ofuscando nalgumas mentes a capacidade de se pôr em causa e de
reconhecer que não se sabe tudo e que, possivelmente, a nossa esperteza é
ultrapassada pela inteligência de tantos outros, que, pensando de forma
diferente de nós, nos podem ajudar a perceber outra perspetiva dos problemas…
Humildade a quanto obrigas!
Efetivamente a Europa – seja na União, seja no conjunto
das nações, povos, línguas e culturas – é um puzzle complexo e não podemos
reduzir-nos aos alinhamentos históricos ou circunstanciais, pois foi essa
política que fez o Continente viver duas ‘guerras mundiais’, experienciar os blocos
(leste/oeste) e criar redes de interesses nem sempre os mais corretos e
sensatos…
Precisamos, por isso, na Europa de líderes que sejam
homens/mulheres de visão… muito para além do perímetro de si mesmos/as.
Precisamos de procurar mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa,
não deixando que o dinheiro se torne um deus sem pátria nem religião.
Neste contexto de refundação da Europa precisamos de
pessoas inteligentes e sábias, onde a humildade e a verdade sejam critérios de
vida e não meros conceitos éticos de recurso.
O que dizemos da Europa, por muito mais razão o referimos
em relação a Portugal, pois já temos (tivemos) a nossa dose de cobardes e de
traidores!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário