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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Equívocos… à portuguesa


As declarações do Presidente da República geraram, por estes dias, alguma controvérsia numa demarcação do caso português e das pretensões dos gregos.

«Para além do empréstimo que fizemos à Grécia de cerca de mil e 100 milhões de euros, Portugal tem vindo a transferir para a Grécia… muitos milhões de euros que saem da bolsa dos contribuintes portugueses», rematando em jeito de conselho: ‘a solidariedade tem de vir ao lado da responsabilidade’ por parte do governo grego recentemente eleito.

Perante estas declarações logo surgiram invetivas de setores da (dita) esquerda, reclamando um responsável socialista que aquelas ‘declarações procuram humilhar o povo grego e o governo grego’… repisando que, o PR procura ‘humilhar e desconsiderar países parceiros e amigos e os respetivos governos’… Houve quem reagisse dizendo que aquelas declarações são ‘perigosas porque seguem alinhamentos populistas dos egoísmos nacionais’…

Nota-se que a Grécia faz fervilhar mentes eivadas de preconceitos ideológicos… em Portugal. No entanto, nesta mistura de posições, surgiram-me algumas questões, que passo a enumerar… mesmo sem hierarquia das dúvidas e inquietações:

- Será crime de lesa-pátria o PR defender prioritariamente os interesses (dos) portugueses?

- Não foi por desentendimento em elegerem o seu PR que os gregos entraram nesta caixa de pandora?

- Por que será que temos sensação de que ser caloteiro compensa… lá como por cá?

- A esquerda repudia o patriotismo ou serve-se dele (sobretudo nos cartazes de propaganda) quando lhe dá jeito?

- Vamos deitar a perder os sacrifícios de três anos, em Portugal, com solidariedades de conveniência?

- Será que o povo não tem memória para saber distinguir quem o enganou, ontem como hoje?

- Perante certas mudanças de opinião – normalmente colando-se aos vencedores – ainda haverá credibilidade para se apresentar com um mínimo de creditação?

 Há quem reclame que a Grécia, como berço da democracia – isso foi há quantos séculos? – deve merecer um tratamento especial no contexto da sua crise de pagamento dos compromissos assumidos. Isto seria o mesmo que dizer que a Inglaterra – berço do futebol – deve merecer um tratamento especial nos casos em que o dito desporto tenha competições!

Neste como noutros casos – sociais, políticos, económicos, culturais ou religiosos – as questões são, por vezes, tratadas mais na linha ideológica do que numa compreensão racional (sem ser meramente racionalista), ofuscando nalgumas mentes a capacidade de se pôr em causa e de reconhecer que não se sabe tudo e que, possivelmente, a nossa esperteza é ultrapassada pela inteligência de tantos outros, que, pensando de forma diferente de nós, nos podem ajudar a perceber outra perspetiva dos problemas… Humildade a quanto obrigas!

Efetivamente a Europa – seja na União, seja no conjunto das nações, povos, línguas e culturas – é um puzzle complexo e não podemos reduzir-nos aos alinhamentos históricos ou circunstanciais, pois foi essa política que fez o Continente viver duas ‘guerras mundiais’, experienciar os blocos (leste/oeste) e criar redes de interesses nem sempre os mais corretos e sensatos…

Precisamos, por isso, na Europa de líderes que sejam homens/mulheres de visão… muito para além do perímetro de si mesmos/as. Precisamos de procurar mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa, não deixando que o dinheiro se torne um deus sem pátria nem religião.

Neste contexto de refundação da Europa precisamos de pessoas inteligentes e sábias, onde a humildade e a verdade sejam critérios de vida e não meros conceitos éticos de recurso.

O que dizemos da Europa, por muito mais razão o referimos em relação a Portugal, pois já temos (tivemos) a nossa dose de cobardes e de traidores!

 

António Sílvio Couto

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