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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Quando o perdão liberta!


Certamente já todos – nas mais diversas circunstâncias – sentimos a libertação que traz o perdoar e o ser perdoado… E não o referimos somente em relação a Deus, mas também na atitude para connosco mesmos e uns para com os outros… O perdão é, deste modo, uma dádiva divina que podemos e devemos exercitar ativa e/ou passivamente.

Sem pretendermos reduzir o tema do ‘perdão’ a um certo teor moralista ou mesmo religioso, deixamos algumas perspetivas para uma vivência mais salutar da vertente do perdão nas relações humanas e sociais… onde, muitas vezes, vemos antes serem-nos servidas algumas situações de não-perdão e até de rutura das relações entre as pessoas, começando pelas que nos estão (ou podem estar) mais próximas.

= Quando são noticiados, preferencialmente, momentos de crime e de ofensa à dignidade humana, essas pessoas terão sido tocadas, alguma vez, pelo perdão?

= Quando vemos proliferarem ações de vingança das pessoas umas sobre as outras, particularmente, no âmbito familiar, o perdão terá tido lugar mínimo?

= Quando se tentam resolver questões familiares (sociais e patrimoniais) a tiro de armas de fogo ou sob o uso de artefactos contundentes, nota-se que o perdão está longe dessas vidas!?

= Quando a maledicência suplanta a capacidade de perdoar e a murmuração sobre a vida alheia ganha mais espaço do que a compreensão, não estaremos a cultivar antes uma sociedade de proscritos do que a participar numa cultura de inclusão?

- Sabemos que não há lições infalíveis para que possa haver perdão. Este aceita-se e manifesta-se quando nos deixamos tocar pelo perdão divino e pela divinização do perdão recebido.

- Sabemos que há muitas resistências ao perdão, até pela nossa própria história de vida, onde, por vezes, nem sempre fomos educados a desculpar, mas antes incentivados (mais) a vingar-nos… desde as coisas simples até às situações mais complexas… o toque a saber perder submete-se ao remoque do não ser capaz de ceder… como se fosse um defeito e não uma virtude, tanto humana como social.

- Sabemos como a subtileza do perdão tem raízes tão profundas que só quem se alicerça nele poderá aprender a tornar-se mais servo do que rei, mais amigo do que adversário, mais fraterno do que solidário… pois quem deixa o perdão ganhar, vence sem ter de lutar, mais ainda se faz vencedor porque soube deixar-se vencer, perdoando e sendo perdoado.

Deixamos agora breves sugestões onde gostaríamos de ver o perdão a ser vivido e testemunhado:

- Na família onde os diversos intervenientes possam ser construtores do perdão, desde a mais tenra idade até ao momento mais último da existência humana, entre os vários quadros etários e simbólicos, nas circunstâncias múltiplas e multiplicadas… Desculpando e sendo desculpados, amando e sendo amados. Até quando adiaremos tentarmos viver, em família, como numa escola de perdão?

+ Nos espaços de trabalho (profissionais e laborais, de emprego e de ação social) tudo seria mais humano e tolerável se as pessoas tivessem capacidade de compreensão umas para com as outras, criando ambientes mais serenos e de menos crispação, de ajuda mútua e onde os outros/as não fossem coisas, mas pessoas que cuidam e se deixam cuidar… tanto nas horas de sucesso como nos momentos de fragilidade. Que temos de fazer para darmos o passo que ainda falta?

+ Nas expressões sociais de convivência – onde a dimensão religiosa também se inclui – tudo seria mais fácil se nos déssemos ao cuidado de vivermos mais em perdão do que em acusação, se tentássemos colocar-nos no lugar uns dos outros, se quiséssemos que Cristo fosse bem tratado nos outros porque Ele está presente neles. Se sabemos isto porque não o vivemos, já?

Vamos tentar perdoar cada mais e cada melhor, deixando que o perdão nos envolva interior e exteriormente… com gestos, sinais e palavras.

 

António Sílvio Couto

1 comentário:

  1. "Sabemos que há muitas resistências ao perdão, até pela nossa própria história de vida, onde, por vezes, nem sempre fomos educados a desculpar, mas antes incentivados (mais) a vingar-nos… desde as coisas simples até às situações mais complexas… o toque a saber perder submete-se ao remoque do não ser capaz de ceder… como se fosse um defeito e não uma virtude, tanto humana como social."

    Isso leva muito tempo a perceber e consegue se mais cedo ou mais tarde. É preciso compreender o perdão.

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