Mesmo
que de forma um tanto convencional, vamos aceitando que os meses de verão (no
hemisfério norte) são, tendencialmente, de férias… com os vários aspetos que
lhe estão adstritos: tempo de lazer, procura de praias e de lugares de repouso,
viagens e períodos de interrupção de trabalho, descontração e fruição dos
prazeres da vida… numa certa subjetividade absoluta, onde cada qual tenta ser
dono de si e (quase) impor aos outros a sua relativa forma de ‘felicidade’.
Dizem
que, em Portugal, o turismo é uma das mais eficazes e frutuosas formas de
riqueza, apresentando as belezas naturais (isto é da natureza), explorando as
caraterísticas de cada região, sejam de gastronomia ou folclore, sejam do
aproveitamento mais ou menos bem organizado das potencialidades de pessoas, de
lugares e de tempos.
Se
percorrermos mais ou menos atentamente as geografias de maior procura de
turismo, poderemos ver situações e casos de grandes aglomerados de pessoas e de
veículos, sobrecarregando as possibilidades de acolhimento e de aceitação de
quem nos procura.
Sobretudo
nas linhas marítimas esta avalanche de pessoas e de propostas como que fazem
transbordar pela saturação, havendo casos em que as pessoas se acotovelam numa
convivência de difícil gestão… até dos recursos hídricos e de salubridade.
Pelo que
vimos e sem cairmos na tentação de julgar, propomos algumas questões sobre
‘turistas’ nacionais:
- A
imensa quantidade de carros – alguns de gama elevada e mesmo superior – revela um
certo poder económico ou, pelo contrário, tenta-se camuflar aspirações desse tal
novo-riquismo guterrista e ainda socrático… não assumido?
- Certos
lugares de veraneio dão status social ou, pelo contrário, servem para encobrir
uma certa pobreza moral não-assumida?
- Se
esmiuçarmos as redes sociais entenderemos as pretensões de certos ‘falidos’ ou
sentiremos alguma ‘compaixão’ por uma certa ignorância bastante irrefletida?
- Pelo
que somos e temos, aceitamos a nossa verdade ou somos mais ou menos manipulados
por pretensões desonestas e quasi-amorais?
- A
panóplia de carros exibidos serão (já) propriedade dos ocupantes ou não andarão
a dar uma determinada imagem de incapacidade económica…irreal e imoral?
Por
outro lado, sobre os ‘turistas’ estrangeiros, reportamo-nos a uma conversa
havida numa feira com um dos vendedores que referia serem os ingleses os
melhores compradores, em contraste com os franceses muito exigentes mas poucos
gastadores ou os alemães exibindo uma certa sobranceria sobre estes
‘marroquinos do norte’ – epíteto com que nos tratam e até veem, os portugueses
– particularmente quando nos emprestam dinheiro e nos encontram, entretanto, a
gozar os benefícios do sol…
De fato,
o nosso turismo decorre entre dois grandes vetores: um certo turismo de luxo,
sobretudo nos hotéis e aldeamentos turísticos do Algarve e/ou junto ao mar e um
outro turismo interpretado por executantes e participantes de mochila às costas
e serpenteando pelos parques de campismo em busca do mais barato ou
transportando o farnel até às praias mais populares e populistas.
Ao ver a
imensa multidão, que se desloca para usufruir de férias e tempos de lazer,
fica-me sempre a sensação – reconheço talvez possa ser um defeito de educação e
de ministério – onde está ou pode estar Deus para toda esta gente? Que fé ou
religião lhes damos a viver? Será que as procissões esgotam as propostas e
satisfazem a procura?
Tal como
Jesus no evangelho vivo a sensação: são como ovelhas sem pastor, fatigadas e em
busca… Que Deus lhes vamos servir? Queira Deus que saibamos dar resposta
humilde, verdadeira e audaz… já!
António
Sílvio Couto
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