Certamente já todos – nas mais diversas circunstâncias –
sentimos a libertação que traz o perdoar e o ser perdoado… E não o referimos
somente em relação a Deus, mas também na atitude para connosco mesmos e uns
para com os outros… O perdão é, deste modo, uma dádiva divina que podemos e
devemos exercitar ativa e/ou passivamente.
Sem
pretendermos reduzir o tema do ‘perdão’ a um certo teor moralista ou mesmo
religioso, deixamos algumas perspetivas para uma vivência mais salutar da vertente
do perdão nas relações humanas e sociais… onde, muitas vezes, vemos antes serem-nos
servidas algumas situações de não-perdão e até de rutura das relações entre as
pessoas, começando pelas que nos estão (ou podem estar) mais próximas.
= Quando
são noticiados, preferencialmente, momentos de crime e de ofensa à dignidade
humana, essas pessoas terão sido tocadas, alguma vez, pelo perdão?
= Quando
vemos proliferarem ações de vingança das pessoas umas sobre as outras,
particularmente, no âmbito familiar, o perdão terá tido lugar mínimo?
= Quando
se tentam resolver questões familiares (sociais e patrimoniais) a tiro de armas
de fogo ou sob o uso de artefactos contundentes, nota-se que o perdão está
longe dessas vidas!?
= Quando
a maledicência suplanta a capacidade de perdoar e a murmuração sobre a vida
alheia ganha mais espaço do que a compreensão, não estaremos a cultivar antes
uma sociedade de proscritos do que a participar numa cultura de inclusão?
- Sabemos
que não há lições infalíveis para que possa haver perdão. Este aceita-se e
manifesta-se quando nos deixamos tocar pelo perdão divino e pela divinização do
perdão recebido.
- Sabemos
que há muitas resistências ao perdão, até pela nossa própria história de vida,
onde, por vezes, nem sempre fomos educados a desculpar, mas antes incentivados (mais)
a vingar-nos… desde as coisas simples até às situações mais complexas… o toque
a saber perder submete-se ao remoque do não ser capaz de ceder… como se fosse
um defeito e não uma virtude, tanto humana como social.
-
Sabemos como a subtileza do perdão tem raízes tão profundas que só quem se alicerça
nele poderá aprender a tornar-se mais servo do que rei, mais amigo do que
adversário, mais fraterno do que solidário… pois quem deixa o perdão ganhar,
vence sem ter de lutar, mais ainda se faz vencedor porque soube deixar-se
vencer, perdoando e sendo perdoado.
Deixamos
agora breves sugestões onde gostaríamos de ver o perdão a ser vivido e
testemunhado:
- Na família onde os diversos
intervenientes possam ser construtores do perdão, desde a mais tenra idade até
ao momento mais último da existência humana, entre os vários quadros etários e
simbólicos, nas circunstâncias múltiplas e multiplicadas… Desculpando e sendo
desculpados, amando e sendo amados. Até quando adiaremos tentarmos viver, em
família, como numa escola de perdão?
+ Nos espaços de trabalho (profissionais e
laborais, de emprego e de ação social) tudo seria mais humano e tolerável se as
pessoas tivessem capacidade de compreensão umas para com as outras, criando ambientes
mais serenos e de menos crispação, de ajuda mútua e onde os outros/as não
fossem coisas, mas pessoas que cuidam e se deixam cuidar… tanto nas horas de
sucesso como nos momentos de fragilidade. Que temos de fazer para darmos o
passo que ainda falta?
+ Nas expressões sociais de convivência –
onde a dimensão religiosa também se inclui – tudo seria mais fácil se nos déssemos
ao cuidado de vivermos mais em perdão do que em acusação, se tentássemos
colocar-nos no lugar uns dos outros, se quiséssemos que Cristo fosse bem
tratado nos outros porque Ele está presente neles. Se sabemos isto porque não o
vivemos, já?
Vamos
tentar perdoar cada mais e cada melhor, deixando que o perdão nos envolva
interior e exteriormente… com gestos, sinais e palavras.
António
Sílvio Couto
"Sabemos que há muitas resistências ao perdão, até pela nossa própria história de vida, onde, por vezes, nem sempre fomos educados a desculpar, mas antes incentivados (mais) a vingar-nos… desde as coisas simples até às situações mais complexas… o toque a saber perder submete-se ao remoque do não ser capaz de ceder… como se fosse um defeito e não uma virtude, tanto humana como social."
ResponderEliminarIsso leva muito tempo a perceber e consegue se mais cedo ou mais tarde. É preciso compreender o perdão.