Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Tentando interpretar a migração


Já lai vai o tempo em que uma pessoa nascia, crescia (em idade e na reprodução) e morria… sempre no mesmo lugar. Este fenómeno de sedimentação foi ultrapassado pela mobilidade humana, tanto na proximidade como na distância. Umas vezes isto acontecia de forma natural, isto é, sem razões extrínsecas, agora é como que forçado, seja por razões económicas, seja por motivos sociológicos, religiosos ou mesmo de promoção da condição humana…de melhor qualidade de vida pessoal, familiar ou social.

Nos tempos mais recentes – sobretudo depois da crise de 2008 – temos vindo a ouvir certas vozes contra a emigração, particularmente dos jovens e de camadas sociais mais escolarizadas. Para uns isto soa a desperdício no investimento humano e cultural dos mais jovens, para outros é como que uma necessidade que sentem em serem mais rapidamente reconhecidos nas suas qualificações e até nas aspirações de vida. Neste momento como no passado – situemo-nos nas décadas de 60 e 70 do século findo – a emigração não tem só benefícios nem se reduz a malefícios. A emigração é algo que marca a nossa matriz de portugueses – sim daqueles que foram para fora e não dos resignados e lamentadores que não deram o salto no desconhecido – e, só quem não tenha saído, minimamente, do país não reconhecerá o espírito aventureiro e audaz dos nossos antepassados.

Normalmente a uma vaga de emigração dá-se no país um desenvolvimento cultural mais rápido, pois a necessidade de se aferir aos que nos receberam faz-nos mais humildes e aprendemos, quantas vezes, a valorizar o que somos e quem somos…aqui na terra-mãe.

Dizem que os agora regressados – sobretudo para férias – emigrantes se estão a tornar mais reivindicativos, quase intolerantes e apressados em serem atendidos nas repartições públicas, nos restaurantes, nas estradas… no confronto com a nossa pacatez lusitana. A ser verdade algo está mal, pois a pressa é, normalmente, inimiga daquilo que é (ou deve ser) bem feito. E tais atitudes de sobranceria não deixam a quem chega a qualidade de aprendizagem, pois, certamente, não terão tal comportamento nos países de acolhimento e, se o tiverem, bem depressa serão excluídos do convívio dos que deles precisam…até ver!

= Das razões…às condições

Vozes diversas – entre as quais a Igreja católica e quem tente ler os sinais sociais e dos tempos – clamam contra as razões que levaram o país a esvaziar-se de jovens: o desemprego, a falta de estabilidade familiar e económica, a busca mais rápida de condições de qualidade de vida… Em vários destes itens se nota mais o valor material do que a conquista psicológica e mesmo espiritual e moral.

É verdade que, nalgumas partes deste mundo globalizado, as populações emigram mais por razões culturais e étnicas, nalgumas situações envolvendo mesmo aspetos religiosos e de salvaguarda da integridade física e/ou moral. Povos de países islamizados – sobretudo de índole cristã – têm de fugir, correndo sérios riscos de vida se continuarem naqueles espaços políticos e religiosos. Os refugiados são outro fenómeno de mobilidade humana que exigem mais atenção de todos os intervenientes políticos à escala mundial, atendendo às pessoas e não somente às riquezas dos seus países…


Porque as questões são difíceis de entender e os problemas nem sempre são tão claros como seria necessário, deixamos algumas perguntas…talvez incómodas, mas as respostas poderiam (e deveriam) ser urgentes:

- Haverá sensibilidade cristã e católica para disponibilizar padres (e outros agentes de pastoral) para enviar a países que recebem os nossos emigrantes… quando as aldeias se vão desertificando?

- Os que saem terão espírito de serviço ou estarão eivados de cultura mais económica e de circunstância?

- Como se deve cuidar dos filhos que partem?

- Cá como lá e lá como cá possuiremos espírito missionário ou misseiro?

- Os emigrantes terão tempo e disponibilidade para as coisas da religião… que não seja do futebol?

É preciso mudar: com quem e para quem? É preciso inovar: como e com que meios humanos e culturais?

  

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

Sem comentários:

Enviar um comentário