Já lai vai o tempo em que uma pessoa nascia, crescia (em
idade e na reprodução) e morria… sempre no mesmo lugar. Este fenómeno de
sedimentação foi ultrapassado pela mobilidade humana, tanto na proximidade como
na distância. Umas vezes isto acontecia de forma natural, isto é, sem razões
extrínsecas, agora é como que forçado, seja por razões económicas, seja por
motivos sociológicos, religiosos ou mesmo de promoção da condição humana…de
melhor qualidade de vida pessoal, familiar ou social.
Nos tempos mais recentes – sobretudo depois da crise de
2008 – temos vindo a ouvir certas vozes contra a emigração, particularmente dos
jovens e de camadas sociais mais escolarizadas. Para uns isto soa a desperdício
no investimento humano e cultural dos mais jovens, para outros é como que uma
necessidade que sentem em serem mais rapidamente reconhecidos nas suas
qualificações e até nas aspirações de vida. Neste momento como no passado –
situemo-nos nas décadas de 60 e 70 do século findo – a emigração não tem só
benefícios nem se reduz a malefícios. A emigração é algo que marca a nossa
matriz de portugueses – sim daqueles que foram para fora e não dos resignados e
lamentadores que não deram o salto no desconhecido – e, só quem não tenha saído,
minimamente, do país não reconhecerá o espírito aventureiro e audaz dos nossos
antepassados.
Normalmente a uma vaga de emigração dá-se no país um
desenvolvimento cultural mais rápido, pois a necessidade de se aferir aos que
nos receberam faz-nos mais humildes e aprendemos, quantas vezes, a valorizar o
que somos e quem somos…aqui na terra-mãe.
Dizem que os agora regressados – sobretudo para férias –
emigrantes se estão a tornar mais reivindicativos, quase intolerantes e
apressados em serem atendidos nas repartições públicas, nos restaurantes, nas
estradas… no confronto com a nossa pacatez lusitana. A ser verdade algo está
mal, pois a pressa é, normalmente, inimiga daquilo que é (ou deve ser) bem
feito. E tais atitudes de sobranceria não deixam a quem chega a qualidade de
aprendizagem, pois, certamente, não terão tal comportamento nos países de
acolhimento e, se o tiverem, bem depressa serão excluídos do convívio dos que
deles precisam…até ver!
= Das razões…às
condições
Vozes diversas – entre as quais a Igreja católica e quem
tente ler os sinais sociais e dos tempos – clamam contra as razões que levaram
o país a esvaziar-se de jovens: o desemprego, a falta de estabilidade familiar
e económica, a busca mais rápida de condições de qualidade de vida… Em vários destes
itens se nota mais o valor material do que a conquista psicológica e mesmo
espiritual e moral.
É verdade que, nalgumas partes deste mundo globalizado,
as populações emigram mais por razões culturais e étnicas, nalgumas situações
envolvendo mesmo aspetos religiosos e de salvaguarda da integridade física e/ou
moral. Povos de países islamizados – sobretudo de índole cristã – têm de fugir,
correndo sérios riscos de vida se continuarem naqueles espaços políticos e
religiosos. Os refugiados são outro fenómeno de mobilidade humana que exigem
mais atenção de todos os intervenientes políticos à escala mundial, atendendo
às pessoas e não somente às riquezas dos seus países…
Porque as questões são difíceis de entender e os
problemas nem sempre são tão claros como seria necessário, deixamos algumas
perguntas…talvez incómodas, mas as respostas poderiam (e deveriam) ser
urgentes:
- Haverá sensibilidade cristã e católica para
disponibilizar padres (e outros agentes de pastoral) para enviar a países que
recebem os nossos emigrantes… quando as aldeias se vão desertificando?
- Os que saem terão espírito de serviço ou estarão
eivados de cultura mais económica e de circunstância?
- Como se deve cuidar dos filhos que partem?
- Cá como lá e lá como cá possuiremos espírito missionário
ou misseiro?
- Os emigrantes terão tempo e disponibilidade para as
coisas da religião… que não seja do futebol?
É preciso mudar: com quem e para quem? É preciso inovar:
como e com que meios humanos e culturais?
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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