Ao longo do tempo deste verão fomos vendo surgirem, em
Portugal ou fora, alguns fenómenos sócio-culturais, que nos devem levar a
refletir sobre o seu conteúdo e, particularmente, sobre o seu significado: o
desafio ao banho gelado e as concentrações (‘meet’) de jovens convocadas pelas
redes (ditas) sociais.
O banho público – normalmente gelado – começou por uma
brincadeira em que o desafiado, se não aceitasse teria de pagar algo ao
desafiador, foi ganhando proporções de benemerência para uma associação de
ajuda a pessoas (pacientes e investigadores) com a doença de esclerose lateral
amiotrófica… isto na origem desta onda de ‘banhos públicos gelados’…
Como bons imitadores de bizarrias mais ou menos
patéticas, em Portugal, também entramos na moda deste verão e fomos vendo
desportistas e autarcas, atores e jornalistas… a serem banhados em público com
baldes de água fria e a desafiarem amigos e adversários a fazerem algo de
idêntico, publicitando-o nas redes sociais para não terem de pagar jantares por
incumprimento dos desafios… Houve até uma corporação de bombeiros que tentou
usar este método para receber mais umas ajudas para os seus problemas
económicos.
Outra vaga deste verão tem sido a convocação para
‘meet’s’ de jovens, através das atuais tecnologias, em ordem a viverem momentos
de convívio e de outras intenções… algumas nalguns nem sempre claras e/ou
pacíficas. Daquilo que se vai sabendo alguns destes ‘meet’s’ redundaram e
agressividade e até detenções… a autoridades e a grupos rivais.
Embora este novo modelo de convivência entre adolescentes
e jovens possa estar marcado pelas tecnologias de comunicação e/ou da
informação, ele não pode criar a sensação de insegurança – pública e emocional
– com que alguma comunicação social nos foi servindo a iniciativa… Efetivamente
os mais novos precisam de conviver e de exprimirem (ou será expelirem?) as suas
energias, saindo até dos seus casulos de egoísmo e de segurança mais ou menos
defensiva. Os mais novos são importantes para interpretarem as novidades do
tempo atual, mas não podem afiar as garras sobre aqueles – mais velhos – que
não entendem as suas formas de ser e de viver. Só pela compreensão e a aceitação
de uns pelos outros poderemos crescer em maturidade e, sobretudo, em correlação
mútua.
Com que facilidade podemos estar desatualizados e quase
desconexos em conceitos e em linguagens. Nem os mais velhos são tão sábios que
não tenham nada a aprender com os mais novos nem estes são tão valorosos que
não poderão servir-se dos erros e vitórias dos pais e avós… em ordem a
crescerem com audácia e humildade. Nada está completamente feito, mas antes
caminhando faremos caminho e itinerário…
= Onde ir e como
fazer? Com quem e para quê?
Estes dois fenómenos do banho público gelado e das
convocações de ‘meet’ podem funcionar como reveladores da nossa mentalidade
atualizada: exibir-se em solidariedade e encontrar-se em convivialidade…onde
cada um e cada qual possa sentir-se bem e se exprima em circuito mais ou menos
fechado de anonimato… proveitosamente.
Nem tudo é assim tão negativo nos fenómenos vistos e
apresentados neste verão, pois assim podemos perceber que as pessoas fazem (quase)
tudo para aparecer e também não estão tão fechadas umas às outras, que não se
convoquem para conviver… De fato, a tal associação de benemerência conquistou
mais pessoas para a sua causa e muitos jovens foram sacudidos das suas certezas
melancólicas das tecnologias, abrindo novas oportunidades de criarem laços de
partilha e de afirmação.
Temos todos tanto a aprender que não poderão ser pequenos
episódios que nos farão desmotivar para vivermos na desinstalação do nosso
pequeno ‘mundo’, mas antes alargando novos horizontes de fraternidade, de
solidariedade e de paz… uns para com os outros e todos numa sincronia de visões
e de humildade, já.
António
Sílvio Couto
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