‘Selfie’
significa, segundo o dicionário online de Oxford, uma fotografia que a pessoa
tirou a si mesma, normalmente com um smartphone ou webcam e que foi colocada
numa rede social.
No
espaço muito curto – há quem reduza o assunto a um simples ano – este fenómeno
cresceu dezassete mil por cento, tornando-se a própria palavra uma das mais
usadas na comunicação das pessoas entre si e no conjunto das redes sociais.
Algumas
questões podem ou devem ser colocadas sobre a ‘selfie’: será um novo estilo dos
nossos dias, uma mania passageira ou conterá algum risco ou perigo esta forma
de estar e de viver… com uma linguagem e uma psicologia, uma mentalidade ou uma
provocação?
= Selfie: um estilo?
É um
fato mais ou menos notório que, meia volta, vemos figuras de índole pública ou
pessoas anónimas a recorrer a este modo de auto-fotografar-se… numa posse que,
muitas vezes, tem tanto de bizarro, quanto de inestético…publicitando tais
façanhas para que outros ‘admirem’ ou, sei lá, invejem as figuras e os
figurantes. Há situações e momentos quase ridículos que passam a ser divulgados
e que não era preciso que assim fossem postos na praça pública. Há coisas
pindéricas que se podem tornar virais – eis um termo que entrou na linguagem
para caraterizar assuntos banais com impacto mais alargado – só pela simples
razão de saírem da vulgaridade, vulgarizando-se…
Parece
haver nisto algo um tanto narcisista, onde cada qual se sente mais belo do que
o horror…e que antes era testemunhado somente pelo espelho mais recôndito e
secreto! Há já pessoas selfie-dependentes, pois se não aparecem como que deixam
de existir! Não estamos a entrar numa certa cultura da superficialidade, que,
bem depressa, cairá no âmbito do desdém!.. Talvez seja útil refletir sobre isto
e ainda arrepiar caminho… antes de entrarmos num abismo social quase
esquizofrénico e de consequências não previsíveis!
= Selfie: mania ou provocação?
Quase
não há acontecimento público ou privado onde este fenómeno do selfie não tenha
espaço nem tempo: desde o acontecimento familiar ao momento de celebração
pública, da figura mais cinzenta à personalidade mais eminente… quase todos se
põem a jeito para entrar numa certa mania… reinante.
Será que
estamos a entrar numa espiral de futilidades em que quem não fizer parte deste ‘circo’
corre o risco de estar desfasado do mundo em que vivemos? Será que é preciso
colocar à mostra a intimidade, quando o que devia era ser resguardada e
respeitado o mistério de cada qual? Com tantas ‘selfies’ ainda haverá lugar
para o resguardo e o pudor… no sentido ético e cultural?
Neste
campo – como em tantos outros que tocam a vida pessoal e da relação com os
outros – urge reintroduzir o bom-senso, tanto na forma como no conteúdo. Uma
coisa é o que se quer mostrar, outra será o que se pode mostrar. Vergonha, a
quanto obrigarias!
= Selfie: risco da devassa?
Nisto,
como noutras matérias, não se nasce ensinado, mas temos de aprender a conviver
com pessoas equilibradas e com pessoas doentes… à mistura com desequilíbrios
emocionais e afetivos, com gente sem valores e onde o ‘vale tudo’ é mais
importante do que tudo vale. Não podemos colocar no mesmo patamar pessoas que
respeitam os outros e pessoas que exploram os demais. Não podemos incluir na
teia das nossas relações pessoas que nos respeitam e pessoas que nos exploram e
se aproveitam de nós.
Bem
depressa será preciso criar um código deontológico para sabermos com quem nos
relacionamos e que, sem nos darmos conta, até nos usa e se aproveita da nossa
boa-fé e da nossa pretensa amizade.
Parafraseando
poderemos: diz-me com que te fotografas em ‘selfie’ e dir-te-ei quem és ou ainda
quem se aproveita de ti!
Selfie:
não, obrigado!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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