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sexta-feira, 6 de junho de 2014

‘Selfie’ – como interpretar?


‘Selfie’ significa, segundo o dicionário online de Oxford, uma fotografia que a pessoa tirou a si mesma, normalmente com um smartphone ou webcam e que foi colocada numa rede social.

No espaço muito curto – há quem reduza o assunto a um simples ano – este fenómeno cresceu dezassete mil por cento, tornando-se a própria palavra uma das mais usadas na comunicação das pessoas entre si e no conjunto das redes sociais.

Algumas questões podem ou devem ser colocadas sobre a ‘selfie’: será um novo estilo dos nossos dias, uma mania passageira ou conterá algum risco ou perigo esta forma de estar e de viver… com uma linguagem e uma psicologia, uma mentalidade ou uma provocação?

= Selfie: um estilo?

É um fato mais ou menos notório que, meia volta, vemos figuras de índole pública ou pessoas anónimas a recorrer a este modo de auto-fotografar-se… numa posse que, muitas vezes, tem tanto de bizarro, quanto de inestético…publicitando tais façanhas para que outros ‘admirem’ ou, sei lá, invejem as figuras e os figurantes. Há situações e momentos quase ridículos que passam a ser divulgados e que não era preciso que assim fossem postos na praça pública. Há coisas pindéricas que se podem tornar virais – eis um termo que entrou na linguagem para caraterizar assuntos banais com impacto mais alargado – só pela simples razão de saírem da vulgaridade, vulgarizando-se…

Parece haver nisto algo um tanto narcisista, onde cada qual se sente mais belo do que o horror…e que antes era testemunhado somente pelo espelho mais recôndito e secreto! Há já pessoas selfie-dependentes, pois se não aparecem como que deixam de existir! Não estamos a entrar numa certa cultura da superficialidade, que, bem depressa, cairá no âmbito do desdém!.. Talvez seja útil refletir sobre isto e ainda arrepiar caminho… antes de entrarmos num abismo social quase esquizofrénico e de consequências não previsíveis!

= Selfie: mania ou provocação?

Quase não há acontecimento público ou privado onde este fenómeno do selfie não tenha espaço nem tempo: desde o acontecimento familiar ao momento de celebração pública, da figura mais cinzenta à personalidade mais eminente… quase todos se põem a jeito para entrar numa certa mania… reinante.

Será que estamos a entrar numa espiral de futilidades em que quem não fizer parte deste ‘circo’ corre o risco de estar desfasado do mundo em que vivemos? Será que é preciso colocar à mostra a intimidade, quando o que devia era ser resguardada e respeitado o mistério de cada qual? Com tantas ‘selfies’ ainda haverá lugar para o resguardo e o pudor… no sentido ético e cultural?

Neste campo – como em tantos outros que tocam a vida pessoal e da relação com os outros – urge reintroduzir o bom-senso, tanto na forma como no conteúdo. Uma coisa é o que se quer mostrar, outra será o que se pode mostrar. Vergonha, a quanto obrigarias!


= Selfie: risco da devassa?

Nisto, como noutras matérias, não se nasce ensinado, mas temos de aprender a conviver com pessoas equilibradas e com pessoas doentes… à mistura com desequilíbrios emocionais e afetivos, com gente sem valores e onde o ‘vale tudo’ é mais importante do que tudo vale. Não podemos colocar no mesmo patamar pessoas que respeitam os outros e pessoas que exploram os demais. Não podemos incluir na teia das nossas relações pessoas que nos respeitam e pessoas que nos exploram e se aproveitam de nós.

Bem depressa será preciso criar um código deontológico para sabermos com quem nos relacionamos e que, sem nos darmos conta, até nos usa e se aproveita da nossa boa-fé e da nossa pretensa amizade.

Parafraseando poderemos: diz-me com que te fotografas em ‘selfie’ e dir-te-ei quem és ou ainda quem se aproveita de ti!

Selfie: não, obrigado!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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