Estava
exposta, em tempos não muito recuados, nalgumas casas comerciais, em mercearias
ou em tabernas e noutros locais públicos esta frase: ‘Deus te dê o dobro
daquilo que me desejas’!
Muito
embora possa parecer uma provocação, esta frase tem algo de muito justo,
criando com tal justiça consequências para com deseja seja o que for para
outrem. Sabemos, no entanto, que – dadas as circunstâncias e atendendo aos
clientes – esta frase pode ainda conter algo que levará o que deseja a ter
cuidado com aquilo que possa desejar, sobretudo se for algo de mal… caindo-lhe nos
resultados o que deseja a quem malquer.
Façamos
breves exercícios para que aquela frase possa servir de mote e de guia de conduta
para outros… onde muitos mais se podem incluir em avaliação:
-
Estamos, por estes dias, a viver sob a ocorrência do mundial de futebol: se desejamos a derrota dos adversários ela pode
reverter-se sobre o desempenho daqueles com quem simpatizamos ou apoiamos…
- Na competição partidária, se os
concorrentes – mesmo dentro do mesmo espaço – não se sabem respeitar na
exposição das ideias, como poderão ser aceites se maldizem tudo e todos… e
talvez até a própria sombra!
- No contexto familiar, se todos e cada um
dos membros da família não se apoiarem e não tecerem laços de comunhão – muito
para além das meras relações de sangue – será difícil de sobreviver, de
conviver e mesmo de manter-se ligado por muito mais tempo…
- Nas relações laborais, onde a confiança e o
bom desempenho nem sempre norteiam quem trabalha (ser empresário também é
trabalho!), seria como que viver em estado de guerrilha, se se tornassem
viciadas as formas de ser e de estar… tentando subtrair o que poderia (e
deveria) acontecer em multiplicar…pelo bom entendimento e salutar participação!
- Na vida social (económica/financeira,
cultural/educacional, privada/pública…) vemos proliferarem imensos casos de
alguma negligência e/ou de intolerância, criando razoáveis franjas de
periferia, por onde tem de passar a compreensão da solidariedade, da
benevolência e mesmo da correta presença em cuidado de uns pelos outros,
deixando que caiam as máscaras do desprezo e nos olhemos com humanismo…
- Nos espaços eclesiais, tendo em conta a
diversidade de entendimentos e (sabe-se lá) de pretensões, como será complexo
tentar explorar a divisão, se crescer a desconfiança… com facilidade ruirá seja
o que for, se os participantes não forem sinceros, leais e minimamente humildes…
= Se
todos soubéssemos desejar e dar aos outros o dobro daquilo que pretendemos para
nós, seríamos capazes de construir uma sociedade mais justa e fraterna, mais
acolhedora e de paz, colocando mais os outros no centro do nosso trato e menos a
nós mesmos, que, de tantas e tão variadas formas, nos arrogamos de imprescindíveis
para a adulação, mas, em tantos outros momentos somos negligentes na correta
ação em favor dos mais desfavorecidos tanto de pão como de carinho e mesmo de
um gesto simples de atenção…
= Porque
acreditamos que a fé cristã tem capacidade de se fazer presente e solidária –
muitas vezes suprindo o que ao Estado é obrigação – fazemo-nos eco dum
espetáculo do Coral Luísa Todi – intitulado: ‘fado em coro’ – que se realizou,
na Praça de Touros, na Moita, no dia 14 de junho p.p. e que conseguiu recolher
donativos para que algumas ações da caridade da paróquia possam continuar a sua
missão… Que Deus dê a quem se disponibilizou a estar, o dobro daquilo, que
deram ou quiseram partilhar!
António
Sílvio Couto
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