A dita
de ‘dona Inércia’ é uma figura da publicidade de um banco. Criada, para uma
campanha, no ano passado, pretende retratar a resistência – aqui designada de
‘inércia’ – à mudança de banco, acomodada no seu dia-a-dia e sem disposições
para fazer grandes esforços… Mais recentemente esta ‘dona inércia’ foi
associada a um grande jogador de futebol para uma outra campanha ‘Cr 100’, que
junta o útil ao rentável… em que, por um lado poupa e por outro rende!
Não nos
interessa esmiuçar a dita campanha do banco nem sequer usaremos as figuras de
suporte da publicidade, mas antes tentaremos lançar breves flaches sobre uma
razoável inércia em tantos campos do nosso tempo, do nosso mundo e do nosso
espaço de vivência humana, cultural e mesmo religiosa.
Ora, quando
recolhia elementos em ordem a organizar a minha reflexão, encontrem estes
dados: a associação ‘Alcoólicos anónimos’ recebeu, no ano passado, através de
contato telefónico mais de quatro pedido de ajuda por dia… Por seu turno, a venda
de carros penhorados por dívidas fiscais, nos primeiros meses deste ano, subiu
cerca de sessenta e dois por cento (num total de 23.586 veículos), por
comparação com idêntico período do ano passado.
Encontramos
nestes dados duas das muitas vertentes… de inércia, que deveriam merecer alguma
reflexão da nossa vida pessoal, familiar, social e mesmo cultural.
= Sobre
a situação fiscal temos algo mais grave também, na medida em que as dívidas
acumulam e bem depressa suplantam a capacidade de resolução. O arresto de bens
é uma fórmula rápida de solução, mas isso não impede de as pessoas continuarem
na inércia de não ir ao fundo do problema. Há situações que precisam de
planeamento para não voltar ao mesmo. Ora muitas pessoas chegaram à situação de
incumprimento por falta de programação e de avaliação das suas capacidades.
Vivemos na era do despesismo e do endividamento galopante… como se fossem –
nalgumas mentalidades – os outros que têm de pagar as pretensões imoderadas do
consumismo desenfreado. Entramos numa inércia de não quer dar parte de não ter
ou de parecer não ter e colocou-se muita gente à deriva do controle das suas
frágeis economias…
. Trabalho – sindicalismo: tanta gente que
vive ainda numa visão quase feudal do trabalho, criando suseranos e servos da
gleba dos tempos atuais, onde certos dirigentes (patrões e pouco empresários;
sindicalistas e afins) continuam a parecerem donos dos destinos alheios e não
poderem ser contestados, pois têm poder sobre o estômago dos outros…
. Religiosidade – ética –
consciência: há
pessoas cuja vida está submetida a espartilhos da não libertação, onde um certo
Deus aprisiona e condiciona a vivência da moral, agrilhoando as consciências e
os comportamentos. Falta, por vezes, Espírito de vida e de verdade… mesmo que
possa ser pregado aos outros. Tal Deus é falso e falsificador… É preciso
renovar e converter-se, urgentemente… a começar por mim!
António
Sílvio Couto
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