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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Na escola da ‘dona Inércia’?


A dita de ‘dona Inércia’ é uma figura da publicidade de um banco. Criada, para uma campanha, no ano passado, pretende retratar a resistência – aqui designada de ‘inércia’ – à mudança de banco, acomodada no seu dia-a-dia e sem disposições para fazer grandes esforços… Mais recentemente esta ‘dona inércia’ foi associada a um grande jogador de futebol para uma outra campanha ‘Cr 100’, que junta o útil ao rentável… em que, por um lado poupa e por outro rende!

Não nos interessa esmiuçar a dita campanha do banco nem sequer usaremos as figuras de suporte da publicidade, mas antes tentaremos lançar breves flaches sobre uma razoável inércia em tantos campos do nosso tempo, do nosso mundo e do nosso espaço de vivência humana, cultural e mesmo religiosa.

Ora, quando recolhia elementos em ordem a organizar a minha reflexão, encontrem estes dados: a associação ‘Alcoólicos anónimos’ recebeu, no ano passado, através de contato telefónico mais de quatro pedido de ajuda por dia… Por seu turno, a venda de carros penhorados por dívidas fiscais, nos primeiros meses deste ano, subiu cerca de sessenta e dois por cento (num total de 23.586 veículos), por comparação com idêntico período do ano passado.

Encontramos nestes dados duas das muitas vertentes… de inércia, que deveriam merecer alguma reflexão da nossa vida pessoal, familiar, social e mesmo cultural.

 = De fato, cresce a olhos vistos o recurso ao álcool como lenitivo ou engano nas horas de dificuldade. Teremos mesmo a curto prazo uma nova vaga de alcoolismo, onde os mais novos são vítimas e promotores. Considero que até ao ano de 2020, teremos uma juventude alcoolizada pelas mais diferentes razões, entrando numa inércia e acomodação que vai deixar rasto por bastante tempo. Se não atalharmos esta situação pagaremos muito caro este fechar de olhos à situação presente. Com efeito, muitos dos adolescentes e jovens (nalguns casos ainda as crianças) passam muito do seu tempo de diversão na bebida desregrada… e só muito tarde é que os pais se apercebem disso… nos seus filhos e filhas!

= Sobre a situação fiscal temos algo mais grave também, na medida em que as dívidas acumulam e bem depressa suplantam a capacidade de resolução. O arresto de bens é uma fórmula rápida de solução, mas isso não impede de as pessoas continuarem na inércia de não ir ao fundo do problema. Há situações que precisam de planeamento para não voltar ao mesmo. Ora muitas pessoas chegaram à situação de incumprimento por falta de programação e de avaliação das suas capacidades. Vivemos na era do despesismo e do endividamento galopante… como se fossem – nalgumas mentalidades – os outros que têm de pagar as pretensões imoderadas do consumismo desenfreado. Entramos numa inércia de não quer dar parte de não ter ou de parecer não ter e colocou-se muita gente à deriva do controle das suas frágeis economias…

 = Vejamos outros campos onde a inércia como que obstaculiza uma certa mudança, tanto de atitude como de mentalidade cultural:

. Trabalho – sindicalismo: tanta gente que vive ainda numa visão quase feudal do trabalho, criando suseranos e servos da gleba dos tempos atuais, onde certos dirigentes (patrões e pouco empresários; sindicalistas e afins) continuam a parecerem donos dos destinos alheios e não poderem ser contestados, pois têm poder sobre o estômago dos outros…

. Religiosidade – ética – consciência: há pessoas cuja vida está submetida a espartilhos da não libertação, onde um certo Deus aprisiona e condiciona a vivência da moral, agrilhoando as consciências e os comportamentos. Falta, por vezes, Espírito de vida e de verdade… mesmo que possa ser pregado aos outros. Tal Deus é falso e falsificador… É preciso renovar e converter-se, urgentemente… a começar por mim!

 = Discípulos da ‘dona Inércia’ como solução para as pessoas, não, obrigado!

 

António Sílvio Couto

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