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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Quando aprender pode ser ensinar

 
Recordei-me, por estes dias, de uma observação escutada há muito tempo: um padre foi mudado de paróquia; era relativamente novo; quando chegou ficou impressionado com um grande pedra que estava no meio da igreja; logo iniciou formas de a remover; aproximou-se um velho lá da terra que o aconselhou, dizendo: antes de tirar a pedra de onde está talvez seja conveniente perguntar porque é que a pedra está ainda ali!

De fato, há pessoas que querem, onde chegam, por tudo a seu gosto… e bem depressa. Têm ideias e planos, que devem ser executados com o máximo da rapidez. Por vezes, nem perguntam ou se aferem ao estado das questões e dos lugares… desde que se execute o que pretendem.

Nos tempos que correm há muita coisa que está parada. Há muitas instituições que estagnaram no tempo. Há muitas estruturas anquilosadas e, nalguns casos, sem alma. Há pessoas que estagnaram no já feito, no antes aprendido… numa espécie de segurança sem risco porque (quase) defunta ou morta.

Há ainda demasiados salvadores que mais parecem não ser do que apressados sem consistência. Há projetos que têm de ser renovados e ainda vivências sociais e mesmo eclesiais, que estão a precisar de novas energias e de outros executantes. Há, por vezes, pormenores que podem fazer a diferença para que as coisas mudem… desde as atitudes até à disposição… Mas não se pode fazer como se nada tivesse sido feito, até então!

= Quando aprender…

Na história de cada um de nós fomos aprendendo através de ensinamentos que nos foram ministrados por mais velhos, com mais sabedoria, com mais experiência de vida e até com mais instrução Cada um de nós é resultado de muitas aprendizagens, umas sistemáticas e organizadas para a nossa formação humana e cultural, mas tantas outras que fomos recebendo nos ‘livros’ da vida com boas e más decisões, com lições e erros, com avanços e recuos na estruturação da nossa personalidade.

Manter a capacidade de aprender poderá e deverá ser uma boa atitude de vida, pois com todos temos algo que nos fará crescer e amadurecer… ao longo de toda a vida.

O mesmo se pode dizer da nossa capacidade de adaptação a novas situações, sejam elas de natureza humana, sejam ainda de compreensão das culturas que nos envolvem… O tempo da fixação – nascer, crescer e morrer – no mesmo local já não tem mais lugar. E, quando vamos para um novo lugar, temos de aprender outros hábitos, outras formas de estar com novas pessoas, com quem temos de saber interagir com educação, respeito e, sobretudo, humildade.

Será de toda a inteligência quer aprender antes de querer ensinar… mesmo que se tenha instrução e cultura mais elaborada em relação àqueles/as que nos acolhem. Certas vivacidades fazem o contrário…e os resultados não serão muito benéficos, tanto no presente como no futuro.


… Pode ser ensinar

Será partindo do estado (humano, cultural ou sociológico) em que cada um de nós está que poderemos dialogar na aprendizagem/ensino com os outros. Se alguém quer ser respeitado, terá de saber respeitar os seus interlocutores. Normalmente cultura é muito mais do que instrução e esta deverá enquadrar-se nas possibilidades e oportunidades que são dadas a cada um.     

Quem não terá já aprendido assuntos importantes pelo simples exemplo (ou testemunho) de uma pessoa aparentemente sem grande instrução, mas que adquiriu valores e critérios na escola da vida, seja na família, seja noutra qualquer instância educativa onde se permeiam as grandes questões da vida e da ética.

Se fossemos todos mais humildes aprenderíamos com tudo e com todos, pois será na intercomunhão de ideias, de partilhas e mesmo de culturas que saberemos construir uma sociedade onde a tolerância deixa de ser ideal para se tornar projeto de vida e de conduta.

Como gostaria de saber aprender para que, sem grandes lições, pudesse ensinar! Fica o desejo. Assim o consiga viver e partilhar, onde quer que me encontre!
 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)


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