Estamos
prestes a completar quatro décadas sobre a designada ‘revolução dos cravos’,
ocorrida a 25 de abril de 1974.
É
costume perguntar-se: ‘onde estava quando aconteceu o 25 de abril’.
Pela
minha parte estava no seminário de N.ª S.ª da Conceição, em Braga, a frequentar
o quarto ano, hoje designado de oitavo ano de escolaridade. O reitor do tempo,
cónego António Macedo quis dar-nos algumas informações sobre o que estava a
acontecer em Lisboa. Recordo-me muito pouco do que ele disse… só com o passar
do tempo me apercebi do significado daquela data… mais a sério.
Lá nos
confins do norte de Portugal iam-nos chegando notícias de alguma convulsão na
capital, mas éramos olhados de soslaio, como reacionários aos fervores vindos
doutras paragens…
Não
queremos nem podemos fazer juízos de valor sobre certas propagandas desse
tempo, embora pareça que, ainda hoje, haja pessoas que pararam naquela época e que
tentem recolher como louros o que já nessa ocasião pareciam erros e exageros.
Não
podemos cometer esse erro histórico de querer ler os acontecimentos do passado
à luz das circunstâncias do presente, nem podemos incorrer na falácia de
pretendermos dar lições a quem não as aceitar nem tão pouco aceitar correções
de quem cometer erros mas deles nunca se arrependeu nem fez ‘mea culpa’.
Porque o
património histórico e social do ’25 de abril’ ultrapassa as fronteiras de
classes de ideologias como que ousamos apontar alguns aspetos – que bem
poderiam ser outros – que nos ocorrem nesta exame de consciência pessoal e
coletivo.
Porque o
assunto é um tanto delicado, propomos mais perguntas do que afirmações:
- Os
militares mais politizados já despiram a farda das honrarias ou ainda vivem
nestas como se fossem donos da verdade e das consciências?
- Certas
forças partidárias já perceberam que a sua boa organização – que tão bons
frutos lhes conquistou – já foi ultrapassada e melhorada na forma e no
conteúdo?
- As
conquistas de abril foram de verdadeira justiça social ou antes tornaram-se
suporte de algumas habilidades de grupos e de setores reivindicativos fortes,
mas entretanto enfraquecidos e/ou esvaziados?
- Alguma
da cultura imposta já percebeu que as pessoas evoluíram na instrução e não se
deixam conduzir só pela emoção… mais ou menos circunstancial?
- A
liberdade de expressão – tão marcante e simbólica – já foi percebida como
vivência de todos e não só de alguns, mesmo que maioritários por fases
eleitorais?
- Sobretudo
as gerações mais novas (nascidas e criadas) após o ’25 de abril’ – já
cognominadas de ‘rasca’, ‘à rasca’, ‘canguru’ ou ‘nem/nem’ – já perceberam que
o sucesso se conquista com trabalho e competência?
- A
ligação – política, económica e social – à Europa comunitária só serve para
benefícios ou também nos coloca exigências?
- Para
quem defende – pretensamente por patriotismo – a rutura com a Europa por há de
colher os benefícios se não quer aceitar as condições dessa pertença?
- Dizem
alguns ‘inteligentes’ de que é (era) preciso um novo ’25 de abril’, mas será
que já assimilamos o que o primeiro nos trouxe, efetivamente?
Porque
acreditamos no bom senso do povo português – que fez uma revolução sem derramar
sangue – consideramos que será um exagero reduzir a revolução do ’25 de abril’
a uma panóplia de recordações ou mesmo de acusações, mas, antes, terá de
tornar-se uma nova ocasião para rever projetos e de construir pontes, pois o
passado não volta, o futuro será possível, se hoje, formos capazes de nos
unirmos na reconstrução da nossa Pátria e do espírito de Nação… muito para além
do mundo do futebol… da seleção!
António
Sílvio Couto
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