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quinta-feira, 17 de abril de 2014

’25 de abril’ sempre?


Estamos prestes a completar quatro décadas sobre a designada ‘revolução dos cravos’, ocorrida a 25 de abril de 1974.

É costume perguntar-se: ‘onde estava quando aconteceu o 25 de abril’.

Pela minha parte estava no seminário de N.ª S.ª da Conceição, em Braga, a frequentar o quarto ano, hoje designado de oitavo ano de escolaridade. O reitor do tempo, cónego António Macedo quis dar-nos algumas informações sobre o que estava a acontecer em Lisboa. Recordo-me muito pouco do que ele disse… só com o passar do tempo me apercebi do significado daquela data… mais a sério.

Lá nos confins do norte de Portugal iam-nos chegando notícias de alguma convulsão na capital, mas éramos olhados de soslaio, como reacionários aos fervores vindos doutras paragens…

Não queremos nem podemos fazer juízos de valor sobre certas propagandas desse tempo, embora pareça que, ainda hoje, haja pessoas que pararam naquela época e que tentem recolher como louros o que já nessa ocasião pareciam erros e exageros.

Não podemos cometer esse erro histórico de querer ler os acontecimentos do passado à luz das circunstâncias do presente, nem podemos incorrer na falácia de pretendermos dar lições a quem não as aceitar nem tão pouco aceitar correções de quem cometer erros mas deles nunca se arrependeu nem fez ‘mea culpa’.

Porque o património histórico e social do ’25 de abril’ ultrapassa as fronteiras de classes de ideologias como que ousamos apontar alguns aspetos – que bem poderiam ser outros – que nos ocorrem nesta exame de consciência pessoal e coletivo.

Porque o assunto é um tanto delicado, propomos mais perguntas do que afirmações:

- Os militares mais politizados já despiram a farda das honrarias ou ainda vivem nestas como se fossem donos da verdade e das consciências?

- Certas forças partidárias já perceberam que a sua boa organização – que tão bons frutos lhes conquistou – já foi ultrapassada e melhorada na forma e no conteúdo?

- As conquistas de abril foram de verdadeira justiça social ou antes tornaram-se suporte de algumas habilidades de grupos e de setores reivindicativos fortes, mas entretanto enfraquecidos e/ou esvaziados?

- Alguma da cultura imposta já percebeu que as pessoas evoluíram na instrução e não se deixam conduzir só pela emoção… mais ou menos circunstancial?

- A liberdade de expressão – tão marcante e simbólica – já foi percebida como vivência de todos e não só de alguns, mesmo que maioritários por fases eleitorais?

- Sobretudo as gerações mais novas (nascidas e criadas) após o ’25 de abril’ – já cognominadas de ‘rasca’, ‘à rasca’, ‘canguru’ ou ‘nem/nem’ – já perceberam que o sucesso se conquista com trabalho e competência?

- A ligação – política, económica e social – à Europa comunitária só serve para benefícios ou também nos coloca exigências?

- Para quem defende – pretensamente por patriotismo – a rutura com a Europa por há de colher os benefícios se não quer aceitar as condições dessa pertença?

- Dizem alguns ‘inteligentes’ de que é (era) preciso um novo ’25 de abril’, mas será que já assimilamos o que o primeiro nos trouxe, efetivamente?

Porque acreditamos no bom senso do povo português – que fez uma revolução sem derramar sangue – consideramos que será um exagero reduzir a revolução do ’25 de abril’ a uma panóplia de recordações ou mesmo de acusações, mas, antes, terá de tornar-se uma nova ocasião para rever projetos e de construir pontes, pois o passado não volta, o futuro será possível, se hoje, formos capazes de nos unirmos na reconstrução da nossa Pátria e do espírito de Nação… muito para além do mundo do futebol… da seleção!

 

António Sílvio Couto

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