Estamos
a aproximar-nos da celebração da Quinta-feira santa, na qual vivemos, como
Igreja católica, a instituição da eucaristia e do sacerdócio.
Também é
recorrente, sobretudo por ocasião do Natal e da Páscoa, surgirem notícias que
envergonham a Igreja católica e os seus membros, particularmente os seus
ministros… Mais uma vez este ano já surgem as tais sombras no horizonte! Não
está em causa a veracidade dos fatos, mas a coincidência do fenómeno…
Deixamos,
por isso, uma breve partilha sobre algo que poderá ser útil refletir, meditar e
até rezar… Longe de mim pretender dar lições, seja a quem for, e muito menos a tão
doutas mentes eclesiásticas e muito menos clericais.
- “Presbítero”
significa etimologicamente: pessoa de idade, ancião. Nas igrejas primitivas
‘ancião’/’presbítero’ era alguém mais velho a quem era confiado o governo da
comunidade cristã.
- “Padre”,
significando pai, é uma forma de tratamento que recebe o presbítero nas Igrejas
católica e ortodoxa e até nalgumas correntes protestantes um tanto próximas da
expressão católica.
- Por
seu turno, na maioria das igrejas protestantes os presbíteros ordenados são
chamados de “pastores” e, nalguns casos, os pastores são os responsáveis pela
comunidade cristã, fazendo os presbíteros parte do governo da congregação ou
conjunto das comunidades.
- Em
meados do século segundo deu-se a distinção entre bispo e presbítero, na medida
em que aquele tinha a responsabilidade de várias comunidades (que mais tarde
teve a denominação de diocese, tirada da configuração administrativa romana) e
este era o líder da comunidade local.
- De
referir ainda que, nas igrejas católicas de rito oriental, os homens já casados
podem tornar-se padres, enquanto, na igreja católica de rito latino (ou
romano), os padres têm de ser homens celibatários.
= Presbítero-padre
‘Se não tivéssemos o sacramento da Ordem não
teríamos Nosso Senhor. Quem o colocou no tabernáculo? O padre. Quem foi que
recebeu nossa alma à entrada na vida? O padre. Quem a alimenta para lhe dar
força de fazer a sua peregrinação? O padre’ (Cura d’Ars).
Diante
desta aceção terminológica poderemos como que refletir sobre a dimensão de
paternidade do presbítero, seja ele mais novo ou mais velho… na idade e mesmo
na sabedoria. Ser ‘padre’ exige maturidade afetiva e psicológica muito mais do
que uma natural capacidade de geração biológica. Daí se deve inferir que a
maturidade de um presbítero-padre se forja na formação intelectual, moral e
espiritual, que é ministrada no seminário, mas capacitando a formação adquirida
na família e mesmo no contexto comunitário, seja paroquial ou de caminhada
nalgum grupo ou movimento eclesial…
Embora a
designação habitual da nossa cultura seja a de ‘padre’ para se referir a um
sacerdote ministerial que presta serviço religioso a alguma comunidade de fiéis
– normalmente na circunscrição da paróquia – é-lhe exigido, na maior parte dos
casos, maturidade presbiteral, que só a experiência da vida lhe dará com
propriedade e mais pleno assentimento.
Perguntamos,
então: será descabido a um padre reconhecer as suas limitações se, em
humildade, as tiver de aceitar diante dos outros, sejam seus irmãos no
ministério (presbitério) ou na vida pastoral? Teremos comunidades – paroquiais
ou outras – que saibam ajudar a fazer a caminhada presbiteral a um padre ainda
novo, sem disso se aproveitarem nem se escandalizarem? Será fácil a um padre
reconhecer-se, humana e culturalmente, a precisar de amadurecimento presbiteral
sem o julgarem em crise humana e/ou vocacional?
= Presbítero-pastor
‘O sacerdote só será bem compreendido no Céu…
Se o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor’
(Cura d’Ars).
Atendendo
às condições de pastor, isto é, de guia e de condutor de outros, não será que
temos estado, na terminologia mais recente da Igreja católica, a pedir ao
presbítero que conduza pastoralmente, desde que seja próximo e ‘cheire às
ovelhas’, mesmo que podendo vir a perder as qualidades de mestre e de guia… bem
como de profeta e de doutor (com o carisma do ensino)?
Ser pastor
tem de enquadrar a caminhada de um padre, mas não se pode reduzir o ministério
deste à mera formalidade de pastoreio… tão irmanado com os seus que possa (até)
ter dificuldade em apontar metas, pois poderá estar excessivamente empenhado
nas etapas… E nem o ‘cuidado pastoral’ poderá ofuscar a sua caminhada pessoal e
comunitária como presbítero, fazendo-o padre e capacitando-o para ser, cada vez
mais e melhor, pastor, que conhece, ama e cuida daqueles/as que lhe foram
confiados/as pela Igreja. Não há nem pode haver preferências, mas antes
discernimento do modo como deve ser esse pastor como Jesus, atento aos mais
frágeis e necessitados dele.
Um padre
precisa de ser presbítero na mente e pastor na afetividade, numa crescente
maturidade e equilíbrio humano, espiritual, cristão e sacerdotal. Tudo tem o
seu tempo e o seu ritmo… ontem como hoje e mesmo amanhã!
António
Sílvio Couto
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