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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Presbítero-padre-pastor…


Estamos a aproximar-nos da celebração da Quinta-feira santa, na qual vivemos, como Igreja católica, a instituição da eucaristia e do sacerdócio.

Também é recorrente, sobretudo por ocasião do Natal e da Páscoa, surgirem notícias que envergonham a Igreja católica e os seus membros, particularmente os seus ministros… Mais uma vez este ano já surgem as tais sombras no horizonte! Não está em causa a veracidade dos fatos, mas a coincidência do fenómeno…

Deixamos, por isso, uma breve partilha sobre algo que poderá ser útil refletir, meditar e até rezar… Longe de mim pretender dar lições, seja a quem for, e muito menos a tão doutas mentes eclesiásticas e muito menos clericais.

- “Presbítero” significa etimologicamente: pessoa de idade, ancião. Nas igrejas primitivas ‘ancião’/’presbítero’ era alguém mais velho a quem era confiado o governo da comunidade cristã.

- “Padre”, significando pai, é uma forma de tratamento que recebe o presbítero nas Igrejas católica e ortodoxa e até nalgumas correntes protestantes um tanto próximas da expressão católica.

- Por seu turno, na maioria das igrejas protestantes os presbíteros ordenados são chamados de “pastores” e, nalguns casos, os pastores são os responsáveis pela comunidade cristã, fazendo os presbíteros parte do governo da congregação ou conjunto das comunidades.

- Em meados do século segundo deu-se a distinção entre bispo e presbítero, na medida em que aquele tinha a responsabilidade de várias comunidades (que mais tarde teve a denominação de diocese, tirada da configuração administrativa romana) e este era o líder da comunidade local.

- De referir ainda que, nas igrejas católicas de rito oriental, os homens já casados podem tornar-se padres, enquanto, na igreja católica de rito latino (ou romano), os padres têm de ser homens celibatários.
 

= Presbítero-padre

Se não tivéssemos o sacramento da Ordem não teríamos Nosso Senhor. Quem o colocou no tabernáculo? O padre. Quem foi que recebeu nossa alma à entrada na vida? O padre. Quem a alimenta para lhe dar força de fazer a sua peregrinação? O padre’ (Cura d’Ars).


Diante desta aceção terminológica poderemos como que refletir sobre a dimensão de paternidade do presbítero, seja ele mais novo ou mais velho… na idade e mesmo na sabedoria. Ser ‘padre’ exige maturidade afetiva e psicológica muito mais do que uma natural capacidade de geração biológica. Daí se deve inferir que a maturidade de um presbítero-padre se forja na formação intelectual, moral e espiritual, que é ministrada no seminário, mas capacitando a formação adquirida na família e mesmo no contexto comunitário, seja paroquial ou de caminhada nalgum grupo ou movimento eclesial…

Embora a designação habitual da nossa cultura seja a de ‘padre’ para se referir a um sacerdote ministerial que presta serviço religioso a alguma comunidade de fiéis – normalmente na circunscrição da paróquia – é-lhe exigido, na maior parte dos casos, maturidade presbiteral, que só a experiência da vida lhe dará com propriedade e mais pleno assentimento.

Perguntamos, então: será descabido a um padre reconhecer as suas limitações se, em humildade, as tiver de aceitar diante dos outros, sejam seus irmãos no ministério (presbitério) ou na vida pastoral? Teremos comunidades – paroquiais ou outras – que saibam ajudar a fazer a caminhada presbiteral a um padre ainda novo, sem disso se aproveitarem nem se escandalizarem? Será fácil a um padre reconhecer-se, humana e culturalmente, a precisar de amadurecimento presbiteral sem o julgarem em crise humana e/ou vocacional?


= Presbítero-pastor

O sacerdote só será bem compreendido no Céu… Se o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor’ (Cura d’Ars).

Atendendo às condições de pastor, isto é, de guia e de condutor de outros, não será que temos estado, na terminologia mais recente da Igreja católica, a pedir ao presbítero que conduza pastoralmente, desde que seja próximo e ‘cheire às ovelhas’, mesmo que podendo vir a perder as qualidades de mestre e de guia… bem como de profeta e de doutor (com o carisma do ensino)?

Ser pastor tem de enquadrar a caminhada de um padre, mas não se pode reduzir o ministério deste à mera formalidade de pastoreio… tão irmanado com os seus que possa (até) ter dificuldade em apontar metas, pois poderá estar excessivamente empenhado nas etapas… E nem o ‘cuidado pastoral’ poderá ofuscar a sua caminhada pessoal e comunitária como presbítero, fazendo-o padre e capacitando-o para ser, cada vez mais e melhor, pastor, que conhece, ama e cuida daqueles/as que lhe foram confiados/as pela Igreja. Não há nem pode haver preferências, mas antes discernimento do modo como deve ser esse pastor como Jesus, atento aos mais frágeis e necessitados dele.


Um padre precisa de ser presbítero na mente e pastor na afetividade, numa crescente maturidade e equilíbrio humano, espiritual, cristão e sacerdotal. Tudo tem o seu tempo e o seu ritmo… ontem como hoje e mesmo amanhã!

 

António Sílvio Couto

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