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terça-feira, 15 de abril de 2014

Queira Deus consumar o bem que em ti começou!


É claro que, quando passamos a escrito o que nos vai na alma e no espírito, deixamos transparecer muito mais do que aquilo que possa (vir a) ser interpretado… mais ou menos corretamente. ‘Palavras leva-as o vento’, enquanto aquilo que se escreve pode revelar-nos aos outros que nos leem… e, de fato, muito é dito até nas entrelinhas...

No momento da ordenação – tanto do diácono, como do presbítero (padre) ou do bispo – é proferida a expressão que titula o que motiva esta nossa reflexão. Aí se dá graças a Deus pelo futuro, tendo em conta as provas do passado e a confiança do presente. O até então candidato vê confirmada publicamente a decisão amadurecida no mais íntimo de si mesmo… servir a Deus, na Igreja e para o mundo.

= Observações de linguagem

Tendo em conta a crise – termo esgotado para dizer quase só negatividade, mas necessário para avaliar, ponderar e discernir – das vocações à vida sacerdotal, torna-se essencial definir critérios de eclesialidade para que não possa haver leituras onde cada um se serve do que lhe é útil e, por seu turno, negligencia o que pode ser fundamental.

Antes de tudo o padre (presbítero ou pastor) é um fiel cristão, unido a outros irmãos pela unção batismal e não um funcionário de coisas sagradas, que usufrui de estatuto e não de serviço. Será, por isso, marcante – no passado, no presente e para o futuro – a caminhada familiar, paroquial e de experiência de vida de cada chamado à vida ministerial… Com efeito, já lá vai o tempo duma certa promoção social, familiar e grupal do padre e afins! Hoje, em certos círculos, pode (até) parecer uma espécie de despromoção… intelectual, cultural e humana! Urge, então, preparar os candidatos para essa capacidade de saber servir, sendo menosprezado ou, mesmo, ostracizado. Digo com toda a verdade: nunca por nunca quis ser privilegiado… por ser padre, mas também já tive de lutar para não ser depreciado… por sê-lo!

Sinto-me, graças a Deus, cidadão cristão, chamado a ser ministro – houve gente da minha família que o foi na política e que acabou por cair no desprezo! – do Evangelho em Igreja católica…

= Situações de mensagem

Atendendo às mais díspares interpretações dos comportamentos (pessoais ou alheios), é como que uma marca de opção fundamental a frase – ‘queira Deus consuma o bem que em ti começou’ – levando-nos a propor alguns aspetos de conduta num tempo dessacralizado ou mesmo laicizado.

- Vida de conversão contínua – o bem iniciado por Deus está submetido a múltiplas provações dos foros interior e exterior, isto é, na maturidade de cada pessoa e na prossecução das finalidades da Igreja. Nada está acabado, mas em construção, que, em linguagem cristã, se diz: ‘conversão’! Hoje tenho de melhor me aferir do que ontem à Palavra e mensagem de Jesus.

- Processo de maturidade inacabada – em cada idade temos de saber viver novos desafios, aferindo sempre os objetivos primeiros, com humildade e em verdade. Só quem traça metas poderá entender as etapas percorridas ou a realizar. Quem se conforma, depressa desiste e cairá na valeta dos excluídos, senão por opção ao menos por circunstância! Somos eternos pecadores santificados. Reconhecê-lo é graça divina em nós… e para com os outros.

- Em dinâmica de fidelidade – efetiva e afetivamente podemos e devemos crescer na profundidade do nosso mistério pessoal e comunitário… onde os outros nos ajudam a (re)conhecer quem somos e no modo como nos relacionamos: com os outros e pelos outros somos mais capazes de caminhar de olhos postos na meta, que é Jesus, nosso mestre, guia, pastor e senhor. N’Ele, por Ele e com Ele conseguiremos consumar o bem que que nos fascinou, ontem como hoje e amanhã! 

 

António Sílvio Couto

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