É claro
que, quando passamos a escrito o que nos vai na alma e no espírito, deixamos
transparecer muito mais do que aquilo que possa (vir a) ser interpretado… mais
ou menos corretamente. ‘Palavras leva-as o vento’, enquanto aquilo que se
escreve pode revelar-nos aos outros que nos leem… e, de fato, muito é dito até
nas entrelinhas...
No
momento da ordenação – tanto do diácono, como do presbítero (padre) ou do bispo
– é proferida a expressão que titula o que motiva esta nossa reflexão. Aí se dá
graças a Deus pelo futuro, tendo em conta as provas do passado e a confiança do
presente. O até então candidato vê confirmada publicamente a decisão
amadurecida no mais íntimo de si mesmo… servir a Deus, na Igreja e para o
mundo.
= Observações de linguagem
Tendo em
conta a crise – termo esgotado para dizer quase só negatividade, mas necessário
para avaliar, ponderar e discernir – das vocações à vida sacerdotal, torna-se
essencial definir critérios de eclesialidade para que não possa haver leituras
onde cada um se serve do que lhe é útil e, por seu turno, negligencia o que
pode ser fundamental.
Antes de
tudo o padre (presbítero ou pastor) é um fiel cristão, unido a outros irmãos pela
unção batismal e não um funcionário de coisas sagradas, que usufrui de estatuto
e não de serviço. Será, por isso, marcante – no passado, no presente e para o
futuro – a caminhada familiar, paroquial e de experiência de vida de cada
chamado à vida ministerial… Com efeito, já lá vai o tempo duma certa promoção
social, familiar e grupal do padre e afins! Hoje, em certos círculos, pode
(até) parecer uma espécie de despromoção… intelectual, cultural e humana! Urge,
então, preparar os candidatos para essa capacidade de saber servir, sendo
menosprezado ou, mesmo, ostracizado. Digo com toda a verdade: nunca por nunca
quis ser privilegiado… por ser padre, mas também já tive de lutar para não ser depreciado…
por sê-lo!
Sinto-me,
graças a Deus, cidadão cristão, chamado a ser ministro – houve gente da minha família
que o foi na política e que acabou por cair no desprezo! – do Evangelho em
Igreja católica…
= Situações de mensagem
Atendendo
às mais díspares interpretações dos comportamentos (pessoais ou alheios), é
como que uma marca de opção fundamental a frase – ‘queira Deus consuma o bem que em ti começou’ – levando-nos a propor
alguns aspetos de conduta num tempo dessacralizado ou mesmo laicizado.
- Vida de conversão contínua – o bem
iniciado por Deus está submetido a múltiplas provações dos foros interior e
exterior, isto é, na maturidade de cada pessoa e na prossecução das finalidades
da Igreja. Nada está acabado, mas em construção, que, em linguagem cristã, se
diz: ‘conversão’! Hoje tenho de melhor me aferir do que ontem à Palavra e
mensagem de Jesus.
- Processo de maturidade
inacabada – em
cada idade temos de saber viver novos desafios, aferindo sempre os objetivos
primeiros, com humildade e em verdade. Só quem traça metas poderá entender as
etapas percorridas ou a realizar. Quem se conforma, depressa desiste e cairá na
valeta dos excluídos, senão por opção ao menos por circunstância! Somos eternos
pecadores santificados. Reconhecê-lo é graça divina em nós… e para com os
outros.
- Em dinâmica de fidelidade – efetiva e afetivamente podemos
e devemos crescer na profundidade do nosso mistério pessoal e comunitário… onde
os outros nos ajudam a (re)conhecer quem somos e no modo como nos relacionamos:
com os outros e pelos outros somos mais capazes de caminhar de olhos postos na
meta, que é Jesus, nosso mestre, guia, pastor e senhor. N’Ele, por Ele e com
Ele conseguiremos consumar o bem que que nos fascinou, ontem como hoje e
amanhã!
António
Sílvio Couto
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