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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sem medo nem vergonha!


Um destes dias ouvi, numa rádio – posteriormente citada noutros meios de comunicação social – a caracterização de um ex-governante e já anunciado comentador político numa televisão: ‘S. é um homem sem medo nem vergonha’, referindo-se ao seu passado governativo e atendendo às suas futuras ‘novas’ funções... onde se desenham vários cenários e umas outras possíveis complicações no espectro político-partidário, tanto dentro como fora do seu grupo... ideológico, que é mais do que só partidário!

Sem pretendermos considerar aquelas afirmações como (minimamente) juízo de carácter sobre a personagem em causa, parece-nos que a citada frase pode ajudar-nos a perspectivar aspectos positivos e negativos, a ver questões de natureza social e de cidadania... e mesmo dimensões do nosso comportamento religioso/cristão. Com efeito, não ter medo nem vergonha pode (ou deve) ser uma característica de quem celebra a sua fé a partir e com Jesus Ressuscitado, numa dimensão de presença no mundo, em razão da confiança que lhe advém da vitória do Crucificado sobre a morte e o pecado...

= Exigências mais do que meramente políticas

Estamos, desde há dois anos, em Portugal, sob a intervenção de um programa de ajuda externa. Quem nos fez ter de pedir tal ajuda? Não foi o tal senhor sem medo nem vergonha? Foi derrotado nas urnas, mas saiu para um descanso dourado, dizem que foi estudar... E quem o substituiu não tem conseguido fazer melhor do que castigar-nos com medidas duras e empobrecedoras de todos... agora e no futuro próximo.

Quem se pretende apresentar como alternância – é assim há quase quarenta anos: ora uns, ora outros e no intervalo do mesmo – não terá qualquer alternativa senão prosseguir com as medidas aprovadas para podermos sobreviver social, económica e financeiramente... por algumas décadas ainda.

Continuamos a ser enganados, explorados, ofendidos e sem que ninguém seja julgado, responsabilizado e castigado com verdade e sem outros subterfúgios de esperteza mais ou menos habilidosa.

Por muito que nos custe aceitar, há figuras da nossa vida pública – política, social, empresarial, sindical ou mesmo ética – que não têm estofo para dizerem ou proporem seja o que for, pois, se não fizeram nada de melhor noutros tempos, antes estiveram calados à época de outros intervenientes sem idêntica qualidade... porque haveríamos, agora, de lhes confiar as rédeas do poder, se eles nem têm autoridade para serem parte da solução quando foram parcelas do problema?

Não basta fazer figura ou passar por figurante sem memória, pois a história exclui uns certos cobardes, abjura os derrotados por incompetência e bane os oportunistas, ontem como hoje e, por certo, amanhã!

= Libertos do medo e sem vergonha

Se há característica que cativa, no princípio do cristianismo – leia-se atentamente o livro dos Actos dos Apóstolos – é a de vermos pessoas sem medo nem vergonha a falar e a testemunhar Jesus em qualquer circunstância... mesmo colocando a vida em risco.

Neste tempo pascal – é esta sempre a situação da Igreja, embora vivamos os tempos litúrgicos de caminhada pessoal e comunitária – que estamos a viver, somos desafiados a deixarmo-nos libertar do medo e da vergonha, isto é, em sermos investidos na missão de fazermos acontecer Jesus Vivo e Ressuscitado em nós e à nossa volta, com sinais e prodígios do seu amor, na força do Espírito Santo.

É isso que podemos entender com os primeiros tempos do ministério petrino do Papa Francisco: mais do que deixarmo-nos embalar por elogios de encomenda, importa escutá-lo com reverência e obediência. De facto, os mesmos que, por agora tecem sobre ele tantos e tão díspares encómios (só) porque ele se manifesta em favor dos rotulados mais pobres, amanhã hão-de combatê-lo quando ele defender a vida em qualquer das suas etapas... Efectivamente, a dinâmica do cristianismo não se deixa – nem pode deixar – condicionar, quanto mais amedrontar, com certos critérios do mundo, pois, aquilo que por vezes é bem visto pelo mundo, não passa de camuflagem duma falta de vivência dos autênticos valores. Pelo contrário, nós sabemos e procuramos viver em conformidade com os critérios do Evangelho, sem medo nem vergonha, dado que somos discípulos de um Vivo e não de um morto... hoje e para sempre!



António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

1 comentário:

  1. A maior parte da humanidade é vítima da ignorância, busca a felicidade onde não a pode encontrar e afunda-se cada vez mais na desgraça e na miséria.

    Rute Gomes

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