Estamos no contexto da celebração da missa vespertina da Ceia do Senhor. Estamos, no ‘ano da fé’, a contemplar a dádiva de Jesus na eucaristia, tanto pelo dom do sacerdócio como pela sua entrega em amor. Estamos a viver o centro dos mistérios pascais, isto é, da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
1. Por tudo e quase pouco entramos no mistério da presença de Jesus feito eucaristia por nosso amor -- Ele está à nossa disposição:
* É Deus quem se inclina, olhando-nos de baixo, para nos lavar os pés;
* É Deus quem vem à nossa procura e se faz servo no contexto da comunhão dos irmãos;
* É Deus quem estende a mão e vem lavar a nossa fragilidade, desde a mais conhecida até à mais subtil e marcante.
2. Com um gesto simples e profético, Jesus lava os pés -- e não as mãos nem a cabeça como pretendia Pedro -- aos seus discípulos para que nós aprendamos a lavar os pés uns aos outros. Lavar os pés significa, pois, algo de muito profundo e altíssimo:
- Os nossos pés descalços põem a nú a nossa fragilidade, seja pelos obstáculos que temos de enfrentar, seja pelas circunstâncias da nossa caminhada;
- Os nossos pés sujos e precisados de serem lavados são a revelação da nossa condição de pecadores, incluindo e sendo incluídos na simbologia da caminhada... passada, presente e futura.
3. Mais do que compreendermos o significado do ‘lavar os pés’, nós temos de aprender a ser amados e a amar sem preconceitos nem resistências ao amor de Deus por nós e através de nós.
. Lavar os pés exige aceitação de nós mesmos, com todos os erros e pecados, com as qualidades e os dons, com o que foi bem feito e quanto possa ter sido mal vivido;
- Lavar os pés envolve expôr-se sem máscaras nem barreiras, tanto a Deus como aos outros, sobretudo aqueles que nos conhecem melhor;
- Lavar os pés é confessar-se pecador, pedindo perdão e acolhendo o perdão dado e recebido;
- Lavar os pés comporta despir-se dos medos sobre nós mesmos e para com aqueles a quem nos damos a conhecer mais fragilizadamente.
4. Deixar que nos lavem os pés envolve pequenas condições humanas, psicológicas, morais espirituais e religiosas;
- ser humilde, isto é, não se esconder nem viver nos queixumes desgraçadistas;
- ser verdadeiro, isto é, ser o que se é e tentar melhorar as bênçãos que Deus nos concede e em abertura aos irmãos;
- ser sincero, isto é, sem disfarces nem a subtileza de camuflar-se com roupagens de vaidade;
- ser leal, isto é, sendo honesto e fiel tanto para consigo mesmo como para com os outros, sem deles pretender tirar proveito pelo engano, a dissimulação e o aproveitamento dos outros;
- ser vertical, isto é, com dignidade diante de Deus (perante o Qual se ajoelha) e em coerência diante dos outros (saber estar de pé, sem nada esconder).
5. Neste ‘ano da fé’ podemos apresentar algumas perguntas em ordem a vivermos a eucaristia como sacramento da caridade e mistério de esperança:
* Vivo a eucaristia vestindo o avental do serviço como Jesus, na última ceia?
* Procuro fazer da eucaristia o sacramento da santidade pela comunhão para com os outros?
* Esforço-me por viver a eucaristia com dinâmi-ca de missão, levando-a aos que Deus coloca no meu caminho?
‘
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Homilia na Quinta-feira Santa, 28 de março. 2013, na salão
paroquial da Moita =
António
Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
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