Por estes
dias temos vivido sinais preocupantes da nossa vida político/social:
avanços e recuos em matéria de constrangimento
económico/financeiro; declarações e acusações de intervenientes
na esfera partidária; discursos sindicalistas incendiários e quase
terceiro-mundistas; comentários e comentadores que nada têm de
sérios nem independentes... ideológicos.
Diante
deste panorama controverso ficam-nos algumas inquietantes perguntas:
serão estes intérpretes capazes de cuidar do país ou estarão,
antes, a destruir o que resta da nação? Estarão preparados para as
funções ou são, antes, empurrados pelas circunstâncias? Onde é
que começa a responsabilidade e acaba o oportunismo? Até onde irá
a capacidade de aguentar o menos mau, quando está quase tudo tão
péssimo? O nível cultural – embora aparentemente instruído! –
ainda poderá descer mais ou o fosso não tem fundo?
Mesmo
que, em forma de tópicos, deixamos breves leituras políticas, isto
é, de cuidado pela salvaguarda da cidade numa proposta de
inquietação cívica e (até) cristã:
-
Quando ouvimos e vemos Soares e Seguro – com mais de trinta anos de
diferença na idade... mas não na mentalidade! – a usarem os
mesmo clichés... numa narrativa dejà vu, não estaremos atrasados
no conteúdo e na forma de tratarmos o país e as questões
essenciais, que não só as de visão partidária e ideológica? Onde
está pressa de chegar ao poder, se não está preparado...
minimamente?
-
Quando vemos, ouvimos e (quase) não percebemos que há, em Portugal,
um tribunal – dito ‘constitucional’ – que fiscaliza as
regras/leis/ditames/etc. segundo os parâmetros da Constituição da
República, mas ele mesmo é composto por juízes não julgáveis –
como se fossem infalíveis – mas indicados pelos partidos que
compõem o espectro partidário... e de pois não se julgam
pressionados, mas actuam segundo as regras das querelas da
partidarite. Quem pode julgar e ser julgador, se as leis lhe estão
sempre favoráveis? Porque hão-de os juízes do TC poderem
reformar-se aos quarenta anos – só com dez de serviço – se o
resto do povo (normal) tem de trabalhar até aos sessenta e
cinco/sete?
-
Quando governo e oposições usam as mesmas palavras, embora com
significados diversos, não estaremos a querer enganar o povo e, por
isso, a colocando-o fora da participação política activa?
-
Quando vemos aguerridos combatentes aos lucros capitalistas em
paraísos fiscais, que tão fervorosamente constestam as regras para
o resgate da dívida em Chipre... como que somos levados a desconfiar
que têm muito mais de cem mil euros para não serem taxados como
parecem defender para os outros... não para eles!
-
Quando vemos surgirem certos figurões no écran da opinião – qual
noiva ofendida com os agravos dos seus pundunores ofensores! – como
que nos sentimos numa espécie de ridicularização sobre a nossa
capacidade intelectual e num congestionamento de não-ofensa à
raiva, pois quem tanto mal nos fez parou o filme – quase dois anos
– e agora surge a proferir tais dislates que mais parecem elogios
aos antepassados da vergonha... embora possam surgir como entendidos
na solução aos vindouros mais incautos...
-
Quando olhamos certas carpideiras da economia estatizada – sob o
signo de modelos que já faliram noutras paragens, mas que ainda têm
algumas raízes neste país de brandos costumes -- a lançarem
lágrimas sobre os Estaleiros de Viana do Castelo como que sentimos
que aquele feudo está prestes a escapar ao controle de certas forças
– ditas trabalhadoras, progressistas e reivindicativas – que
foram afundando na negligência um certo estrato da sociedade e da
região... que, embora privilegiado, está falido e quase amorfo.
-
Quando vemos serem cerceados alguns temas éticos mais elementares,
por parte de uma certa comunicação social – só porque lhes
cheira a cristianismo, senão na teoria ao menos na prática –
talvez nos pareça ainda estarmos sob a custódia de um tal jacobino
bolorento da primeira república, onde quem não pensa(va) como
eles... logo se torna(va) inimigo.
-
Quando se nos afigura uma tal proclamação do consumismo – embora
falido ainda tem muitos seguidores endivididos – como se fosse a
solução das questões, quando não passa da causa de muitos
problemas, então urge reflectir sobre quais são os valores nos
quais estamos a construir a nossa história pessoal e colectiva.
Afinal
o civismo – onde também a dimensão política se insere – está
a construir-se, hoje como ontem e amanhã!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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