Um
destes dias ouvi, numa rádio – posteriormente citada noutros meios
de comunicação social – a caracterização de um ex-governante e
já anunciado comentador político numa televisão: ‘S. é um homem
sem medo nem vergonha’, referindo-se ao seu passado governativo e
atendendo às suas futuras ‘novas’ funções... onde se desenham
vários cenários e umas outras possíveis complicações no espectro
político-partidário, tanto dentro como fora do seu grupo...
ideológico, que é mais do que só partidário!
Sem
pretendermos considerar aquelas afirmações como (minimamente) juízo
de carácter sobre a personagem em causa, parece-nos que a citada
frase pode ajudar-nos a perspectivar aspectos positivos e negativos,
a ver questões de natureza social e de cidadania... e mesmo
dimensões do nosso comportamento religioso/cristão. Com efeito, não
ter medo nem vergonha pode (ou deve) ser uma característica de quem
celebra a sua fé a partir e com Jesus Ressuscitado, numa dimensão
de presença no mundo, em razão da confiança que lhe advém da
vitória do Crucificado sobre a morte e o pecado...
=
Exigências mais do que meramente políticas
Estamos,
desde há dois anos, em Portugal, sob a intervenção de um programa
de ajuda externa. Quem nos fez ter de pedir tal ajuda? Não foi o tal
senhor sem medo nem vergonha? Foi derrotado nas urnas, mas saiu para
um descanso dourado, dizem que foi estudar... E quem o substituiu não
tem conseguido fazer melhor do que castigar-nos com medidas duras e
empobrecedoras de todos... agora e no futuro próximo.
Quem se
pretende apresentar como alternância – é assim há quase quarenta
anos: ora uns, ora outros e no intervalo do mesmo – não terá
qualquer alternativa senão prosseguir com as medidas aprovadas para
podermos sobreviver social, económica e financeiramente... por
algumas décadas ainda.
Continuamos
a ser enganados, explorados, ofendidos e sem que ninguém seja
julgado, responsabilizado e castigado com verdade e sem outros
subterfúgios de esperteza mais ou menos habilidosa.
Por
muito que nos custe aceitar, há figuras da nossa vida pública –
política, social, empresarial, sindical ou mesmo ética – que não
têm estofo para dizerem ou proporem seja o que for, pois, se não
fizeram nada de melhor noutros tempos, antes estiveram calados à
época de outros intervenientes sem idêntica qualidade... porque
haveríamos, agora, de lhes confiar as rédeas do poder, se eles nem
têm autoridade para serem parte da solução quando foram parcelas
do problema?
Não
basta fazer figura ou passar por figurante sem memória, pois a
história exclui uns certos cobardes, abjura os derrotados por
incompetência e bane os oportunistas, ontem como hoje e, por certo,
amanhã!
=
Libertos do medo e sem vergonha
Se
há característica que cativa, no princípio do cristianismo –
leia-se atentamente o livro dos Actos dos Apóstolos – é a de
vermos pessoas sem medo nem vergonha a falar e a testemunhar Jesus em
qualquer circunstância... mesmo colocando a vida em risco.
Neste
tempo pascal – é esta sempre a situação da Igreja, embora
vivamos os tempos litúrgicos de caminhada pessoal e comunitária –
que estamos a viver, somos desafiados a deixarmo-nos libertar do medo
e da vergonha, isto é, em sermos investidos na missão de fazermos
acontecer Jesus Vivo e Ressuscitado em nós e à nossa volta, com
sinais e prodígios do seu amor, na força do Espírito Santo.
É
isso que podemos entender com os primeiros tempos do ministério
petrino do Papa Francisco: mais do que deixarmo-nos embalar por
elogios de encomenda, importa escutá-lo com reverência e
obediência. De facto, os mesmos que, por agora tecem sobre ele
tantos e tão díspares encómios (só) porque ele se manifesta em
favor dos rotulados mais pobres, amanhã hão-de combatê-lo quando
ele defender a vida em qualquer das suas etapas... Efectivamente, a
dinâmica do cristianismo não se deixa – nem pode deixar –
condicionar, quanto mais amedrontar, com certos critérios do mundo,
pois, aquilo que por vezes é bem visto pelo mundo, não passa de
camuflagem duma falta de vivência dos autênticos valores. Pelo
contrário, nós sabemos e procuramos viver em conformidade com os
critérios do Evangelho, sem medo nem vergonha, dado que somos
discípulos de um Vivo e não de um morto... hoje e para sempre!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
A maior parte da humanidade é vítima da ignorância, busca a felicidade onde não a pode encontrar e afunda-se cada vez mais na desgraça e na miséria.
ResponderEliminarRute Gomes