Houve
uma proposta – vinda do actual executivo político nacional – que
quis adiantar remédio para certas desgraças anunciadas... na linha
de outros projectos – deste como dos governos anteriores – que
quiseram dar de comer antes que a fome se tornasse uma reivindicação
não controlável. Falamos das cantinas sociais.
Vejamos,
então, uma (possível) apresentação, bem como os números da sua
execução, para além das razões e (mesmo) dos desafios e (até)
dos perigos deste projecto... hoje como amanhã.
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Envolvendo alguns dos fautores portugueses da economia social –
CNIS, União das Misericórdias e União das Mutualidades – o
governo, em janeiro passado, anunciou um ‘programa alimentar de
emergência’, num total de 251 milhões de euros para este ano...
envolvendo mais de sete centenas de instituições.
Atendendo
à complexidade deste assunto – dar de comer num contexto de crise,
embora onde as pessoas recebam a comida já feita – parece-nos
urgente ver as implicações desta matéria no tecido social
português, onde muitas vezes se dá (ou pode dar) uma certa
acomodação, criando, por seu turno, mais um espírito
reivindicativo e como que atenuando a procura de soluções porque
alguém – Estado/governo, autarquias/associações – já o fez
por nós... e um tanto sem o nosso contributo.
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É digno de registo que, se neste momento socio-político, não se
verificam mais problemas, conflitos e (até) muita outra fome é
porque há uma rede capilar de instituições – muitas delas
ligadas à Igreja, tanto católica como de outras denominações –
que, no terreno, fazem um diagnóstico de proximidade e cuidam em
prevenção e/ou de assistência... gerando e gerindo os recursos e
alimentando quem, sem essa atenção, estaria desprotegido e talvez a
passar mais mal.
Somos,
de facto, um povo de matriz pobre, mas com uma alma de grande
comiseração, embora nem sempre de correcta vivência e honesta
relação. Explicando: aprendemos, normalmente, a viver com o mínimo
e até fomos, durante muito tempo, formatados por alguma acomodação,
que, por vezes, nos fez viver sem grandes anseios de riquezas... até
ao tempo do regime que nos foi imposto pelas grandezas europeias,
onde nos foram dizendo que podíamos viver sem trabalhar ou numa
militância preguiçosa... encapotada.
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Que têm, então, as cantinas sociais – no seu traçado actualmente
vigente – a ver com o nosso presente e no futuro próximo de país
sob resgate de dívida externa colectiva?
Desde
logo porque nos dão já feito aquilo que devia ser trabalho com
participação nossa. Quem não sente a frieza da casa se nela se não
cozinha? Quem não sente uma certa dependência dos outros,
esquecendo os seus gostos e sabores? Quem não sente que perde
identidade quando lhe dão cozinhado e não lhe fornecem antes os
ingredientes para sentir-se útil e participativo?
Pela
experiência de ter visitado, na década de noventa do século
passado, um campo de refugiados, na guerra dos Balcãs, percebemos
que a falta de trabalho – não queremos dizer a preguiça, embora a
ausência de ocupação tenha os mesmos efeitos – faz frio e gera
dependência psicológica e, tal como diz a moral cristã, a
‘preguiça é mãe de todos os vícios’. Por isso, cremos e
ousamos clamar: não façam de quem precisa um necessitado de tudo
feito, mas façam-no participar nas condições da sua valorização,
tornando as instituições de apoio fomentadoras da capacidade de
ensinarem a colaborar, dando, aos agora ajudados, ferramentas de
maior empenho no futuro de si mesmos, dos outros e do próprio país.
Quem
soube enquadrar e valorizar, na década de oitenta, um milhão de
retornados – muitos deles não passavam de deslocados duma guerra
que não era a deles – tem a obrigação de fazer melhor do que dar
o peixe pescado sem cana nem anzol... Ontem como hoje, o futuro
começa agora!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
Boa noite, estava a fazer uma pesquisa sobre cantinas sociais quando encontrei o seu post. Sou Assistente Social e trabalho numa cantina social concordo plenamente com tudo o que escreveu porque me deparo efetivamente com essa realidade todos os dias. Não concordo com a política das cantinas sociais ou pelo menos da forma como ela está a ser desenvolvida. Estamos sem dúvida a fazer de ´´quem precisa um necessitado de tudo feito``
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