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domingo, 13 de dezembro de 2020

‘Botão-de-pânico’: do medo à insegurança


 Foi notícia por estes: a entidade fiscalizadora do serviço de fronteiras quer introduzir um ‘botão de pânico’, quando alguém estiver a ser interrogado por tais entidades…e se sentir em perigo. Esta pareceu ser a fórmula menos bem avisada de atalhar a um assunto algo delicado, pois, há nove meses atrás, um cidadão ucraniano terá sido maltratado até à morte num desses serviços em funcionamento no aeroporto da capital.

Perante a indisfarçável fanfarronice do titular da pasta em que aqueles serviços estão inseridos, podemos perceber que esses responsáveis estariam a considerar que, de facto, tem havido problemas graves no trato das pessoas que chegam ao nosso país e que a plausível introdução do ‘botão-de pânico’ é um reconhecimento de que tais pessoas não são de confiança, devendo estar, antes, sob escrutínio e podendo os potenciais agredidos terem medo de serem colocados sob a sua custódia.

Apesar da confusão que estes meses de pandemia nos trouxeram, este assunto da agressão/morte do cidadão ucraniano esteve a fervilhar nos temas políticos mais sensíveis. Ao ser trazido à liça nesta época pré-natalícia é mais do que mera coincidência, na medida em que, a partir de janeiro, o governo português vai assumir, por seis meses, a presidência rotativa da União Europeia. Que dizer, então, da política de segurança de um país onde quem chega é maltratado, ofendido e liquidado? Como se poderá compreender que se queira apresentar aos outros na promoção da paz, se esconde as mazelas do sistema ou se faz de conta que é tolerante, mas condiciona a liberdade alheia? Até que ponto irá sobreviver um ministro que se considera acima de suspeitas, quando estas são mais a marca de comportamento do que a exceção?

 = O medo – físico, psicológico e até espiritual – tem vindo a crescer paulatina e progressivamente. Hoje parecemos mais medrosos do que há meses atrás, pois, alguns dos vetores da (pretensa) segurança foram claudicando. A prosápia de sucesso económico – social, político, económico ou financeiro – desmoronou-se qual castelo de cartas mal-amanhado. As chusmas de turistas e os ocupantes do ‘alojamento local’ esfumaram-se. Aquilo que era a (pretensa) segurança de emprego tornou-se uma utopia…nem sequer iludida pelo lay off na primeira vaga de pandemia.

Os vendedores de ilusões – diretores e gestores de bancos, políticos e autarcas, promotores imobiliários e empresários da construção, etc. – desmontaram à pressa o estaminé e esgueiraram-se por entre a multidão em pânico.  

 = Parentes do medo, vemos manifestarem-se sinais de insegurança, de ansiedade, de perturbação mental, de tristeza e até mesmo de violência nas casas, nas ruas e nos mais diversos lugares. Segundo alguns entendidos o confinamento alterou as reações das pessoas. Outros consideram que a tensão sobre o futuro próximo tem trazido à superfície muitos dos mitos sobre a capacidade de reagir às contrariedades e, sobretudo, aos momentos de incerteza bem a alguma incapacidade de lidar com tais condicionamentos. Também há quem considere que os ‘mais novos’ (crianças e adolescentes) começaram a manifestar indícios de perturbação, desde os mais simples e entendíveis até aos mais complexos e de maior risco… Sente-se, em geral, bastante apreensão sobre o futuro e nem as propostas religiosas – com maior ou menor teor cristão – parecem atenuar tais leituras e interpretações…tão negativas, pessimistas e algo tenebrosas.

 = Nesta época natalícia deixo, desde já, uma sugestão de mensagem com base nos textos bíblicos e tendo o tema que estivemos a analisar por referência:

‘Não temais... Hoje, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor’ (Lc 2, 10.11). Neste tempo de provação em pandemia, somos chamados a celebrar o Natal, que, antes de tudo, é de Jesus, pois festejamos o Seu nascimento. Por entre luzes e sombras, vamos caminhando neste tempo propício a abrir-nos a Deus e a fraternizarmos com os outros. Assim sejamos dignos e capazes de vivermos nesta época em cuidamos e nos deixamos cuidar com mais simplicidade. Que de olhos abertos, possamos ser mão de Deus uns com os outros.         

 

António Sílvio Couto

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