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terça-feira, 25 de março de 2025

Se queres que te levem a sério, leva a sério os outros

Apesar de tudo dá a impressão que há muitas pessoas que tentam levar a vida mais ou menos a brincar e, por isso, correm o risco de não serem levadas a sério porque também não levam os outros, suficientemente, a sério. Isto não é nem de longe um convite à sisudez de vida, mas antes uma proposta a que haja alguma reciprocidade entre todos: se queres que te levem a sério, leva também tudo os outros a sério, com credibilidade, com ponderação e dando-lhes crédito para que to deem a ti.

1. Em diversos campos de atividade humana, como por exemplo na disputa político-partidária, podemos encontrar quem viva com ligeireza e sem o mínimo de parecer que leva os ouros a sério: quantas vezes, o que vale para uns não tem idêntica valorização para outros, embora a pauta de avaliação seja a mesma. As recentes eleições regionais na Madeira, para uns não significam o mesmo que para outros, só porque os resultados lhes foram desfavoráveis, segundo as expetativas… por seu turno, quem venceu corre o risco de extrapolar desejos para outras refregas ainda não realizadas…

2. No ramo da atividade económica – tanto empresarial como comercial – nalgumas situações deixa um tanto a desejar a seriedade como certos intervenientes ligam com os concorrentes. Por vezes, será preciso brilhar pela qualidade para que todos venham a ganhar e não se gere descrédito quando resvala para a acreditação dos produtos e dos custos. Nem sempre parece ser sério o nível de alguns dos nossos exportadores e isso poderá valer a quebra nas vendas e na afirmação de todos.

3. Estamos num mundo globalizado e com excesso de informação acerca de tudo e para com todos, por isso, bastará um mero deslize de poucos para que se crie a desacreditação de todos. Dá a impressão de que, nunca como agora, uma árvore de má (ou menos boa) qualidade infeta toda a floresta. Bastará que um determinado profissional seja incompetente ou que não seja tão sério como era expetável que fosse para todos dessa mesma classe (profissional ou social) sejam nivelados pelo transgressor… professores, advogados, engenheiros, padres, autarcas, políticos, futebolistas… se um não corresponder ao que se deseja, todos são, desgraçadamente, iguais no erro, mesmo que nada disso os tenha atingido!

4. Mais uma vez e neste contexto me vem à lembrança a ‘alegoria’ das árvores que quiseram escolher um rei. Eis o texto:

«As árvores puseram-se a caminho para ungirem um rei para si próprias. Disseram, então, à oliveira: 'Reina sobre nós.' Disse-lhes a oliveira: 'Irei eu renunciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?' As árvores disseram, depois, à figueira: 'Vem tu, então, reinar sobre nós.' Disse-lhes a figueira: 'Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?' Disseram, então, as árvores à videira: 'Vem tu reinar sobre nós.' Disse-lhes a videira: 'Irei eu renunciar ao meu mosto, que alegra os deuses e os homens, para me agitar sobre as árvores?' Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: 'Vem tu, reina tu sobre nós.' Disse o espinheiro às árvores: 'Se é de boa mente que me ungis rei sobre vós, vinde, abrigai-vos à minha sombra; mas, se não é assim, sairá do espinheiro um fogo que há-de devorar os cedros do Líbano!'» (Jz 9,8-15).

5. Quantos pequenos ‘reizinhos’ deambulam pelas nossas ruas, considerando os outros menos do que eles. Quantos desses ‘reizinhos’ ascendem ao poder e ai de quem os contrarie ou hostilize? Quantos desses ‘reizinhos’ se melindram porque os outros não os adulam nem consideram importantes como eles se acham. Quantos desses ‘reizinhos’ nunca deverão poder mandar, pois serão déspotas sem compaixão nem arrependimento…

6. Considero os outros acima ou abaixo de mim? Mas eu não sou o fiel da balança, nunca!



António Sílvio Couto

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