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segunda-feira, 17 de março de 2025

Eleições: a melhor saída sem solução?

Na vertigem dos acontecimentos – políticos, sociais e partidários – somos chamados a votar no próximo dia 18 de maio. Resultado da queda do governo, por derrota de uma moção de confiança apresentada pelo mesmo, depois de duas anteriores moções de censura derrotadas consequentemente. Quase todos clamavam por não haver eleições, mas os dados foram sendo afunilados para este resultado, que podem tanto ser uma saída como não trazem nenhuma solução para o país, sobretudo, para os concorrentes…

1. Como consequência da exposição pública da vida privada do chefe do governo, fomos sendo atirados para leituras, manipulações e desenlaces que só podiam cair em desfazer os nós de tantas questiúnculas arregimentadas. Poderá um qualquer cidadão com passado nos seus ‘negócios’ sem que isso possa interferir nas decisões governativas, se um dia for chamado a tal? A vida privada de alguém tem de ser esmiuçada até ao tutano se for melhor sucedido do que os adversários? Não valerá mais viver à sombra da preguiça – onde os subsídios compram quem pouco ou nada produz – do que arriscar em construir algo que dê segurança aos familiares diretos? Criado este precedente certamente muitos arrepiarão caminho em aceitarem ir para a vida pública e, muito em breve, teremos quem não presta e pouco vale nos lugares de comando, dado que serão controlados por outros que não dão a cara…

2. Que jeito tinha continuar a haver um governo em funções, se este estaria em contínua e provocante escrutínio de uma tal ‘comissão parlamentar de inquérito’ (CPI), lançando suspeitas e diatribes sobre quem, embora, governasse, estava a ser controlado por forças exteriores ao seu programa? Deste modo saber e aferir da aceitação dos membros do parlamento era o único caminho sem becos nem vielas! Quase todos queriam que não houvesse eleições – fomos chamados a votar três vezes em menos de dois anos – e a lama de todos contra todos seria a derradeira vivência até que tudo se afundasse.

3. Será que ir a votos significa só um plebiscito ao chefe do governo novamente candidato? Os adversários serão capazes de fazer campanha sem não voltarem ao tema, que, para mal ou para bem, vai ser matéria de juízo na hora da escolha de cada votante? Haverá tempo para criar distanciamento entre o que aconteceu entre meados de fevereiro e meados de março, potenciando quem faça melhor e/ou apresente algo alternativo ao que estava a ser feito, criticado ou proposto?

4. Nesta avalanche de acontecimentos fomos percebendo que a comunicação social – nos seus diversos itens – não é capaz de fazer a sua função sem ser tendenciosa, desrespeitosa para com a dignidade das pessoas e, sobretudo, ideológica sem ideologia. De muitas e variadas formas vemos que as pessoas só valem se tiverem nódoas, senão verdadeiras, ao menos presumidas. Com que facilidade se desonra quem quer que seja e quase nunca se repõe a verdade, quando o que foi motivo de notícia, se confirmou ser mentira (total ou parcial). A pretensa ‘liberdade de informação’ trucida quem não seja da mesma tendência dos promotores das notícias. Ao referir ‘tendência’ se coloca o adjetivo ‘ética’ e logo a conversa caminha para a desconfiança, sobretudo se a dita ’ética’ for ‘republicana’, onde a lei é sagrada, mesmo que tenha sido construída na base da razoável desvalorização da pessoa humana no seu todo.

5. Cada vez mais estamos todos na linha de tiro de quem não seja ou não sirva as mesmas pretensões dos promotores da maioria do pensamento dominante. Os valores e critérios de boa parte da nossa população estão sob o controle de uma visão ‘do-sem-Deus’, pois deste modo se pode dizer tudo e o seu contrário sem entrar em contradição. E o pior de tudo é que os (ditos) cristãos não destoam deste ambiente anódino, agnóstico e consumista. Num tempo de ética à la carte poucas são as vozes que destoam neste deserto de ideias e muito menos são aqueles se pronunciam pela denúncia e no compromisso dos valores humanistas da verdade, da honestidade e da lealdade…



António Sílvio Couto

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